quarta-feira, 29 de setembro de 2010

CANTATA

Não sei mentir.
Não sei calar meus olhos
Ainda que minha boca
Esteja calada.


Não sei mentir.
Me sinto transparente
E transpirando o que sinto.
Me sinto olhada.


Elogios para mim.
Já não acho ruim.
Sou valorizada.


Os olhos em mim.
Meus olhos que falam.
Sonoras risadas.


(in o poente, o poético e o perdido, de minha autoria)

A ESPERA

A espera é longa. Esperar, paciente, quase impossível. Qual criança que solicita o peito da mãe, há certas esperas que deveriam findar de imediato. São alimentos da alma, e esta, ávida, se não saciada, grita ou estertora, até perder a voz e as forças.

Do que falo eu? De tudo e de nada. Dos sonhos que projetamos e não conseguimos concretizar rapidamente, da carta do amigo que não chega, da cura para uma doença que não vem, de situações pendentes quase insuportáveis que não se resolvem.

Falo de labirintos que meu cérebro tem, e que minha mente percorre diariamente, tentando encontrar soluções para a vida de amigos, tentando encontrar ações coerentes para com meus entes queridos. Labirintos cheios de pensamentos, imagens, idéias, que as vezes me envolvem num torvelinho. Diante da loucura que se expõe, mando a mente parar.

Há esperas concretas, do filho que não chegou da festa, do pagamento no final do mês, do consórcio que não sai, o bilhete de loteria... Há esperas mais sutis, como do retorno do telefonema, flores no aniversário, comentários sobre a comida que fiz, sobre o perfume que usei.... Há esperas impossíveis, como a de soluções para o problema dos que sofrem, por falta de dinheiro ou de organização na vida, por falta de amor por parte de parentes, falta de educação e perspectivas dentro do mundo em que vivo e me cerca.

Dizem que preocupação envelhece. Devo ter uns cem anos. Rio muito, mas não tenho a vida leve. Sou como um “clown”, cuja máscara tirada pode revelar um rictus desolador. Faço rir, alivio a dor de outrem, mas a minha própria dor, como posso aliviar? Eu mesma tento me abraçar e me consolar, argumento que a espera é longa ,mas conseguirei concretizar meus sonhos, dar boa vida a meus filhos, ter uma velhice em paz.

Por isso escrevo. Quando escrevo não espero, não sofro, deixo rolar as palavras pelo papel, com seixos rolam naturalmente do alto do morro quando chove, chuva boa, de pensamentos. Para a inspiração não há espera. Há uma vocação que nasce conosco, de deixar-se ir nas palavras, nas imagens que rolam a nossa frente, nas sensações que inundam o peito.

Quando me sinto saciada, não há mais a angustia da espera. Há o sono tranqüilo, o caderno cheio de escritos, e a sensação de que o mundo pode ser melhor, a vida pode ser melhor, se cada um puder sonhar um pouco. Eu sonho sonhos coloridos, alimentada de palavras, do consolo que dou a mim mesma, alimentada pelo meu próprio seio, do meu próprio leite. E então, só então , sobrevem a paz.

Blog Palavra Prima, é para lá que eu vou

Quem chega aqui deve perceber que as postagens estão cada vez mais escassas. O motivo real é a criação, há mais de dois anos, de outro blog,...