sábado, 14 de dezembro de 2013

LETRAS E MÚSICA, JUNTOS: DOIS SONHOS REALIZADOS EM DEZEMBRO

Dezembro começou para esta pessoa aqui de maneira especial. Dois lançamentos, um no dia 06, da Antologia Poesia 2013,  organizado por Marciano Vasques,e outro no dia 07, do Caderno de Poesias, organizado por Lunna Guedes. Honrada duplamente pela participação, e comemorando, de alguma forma, o fato do sonho de 'ser escritora' estar se tornando, dia a dia, cada vez mais parte do meu quotidiano.

Além disso, um segundo sonho, o de apresentar minhas composições musicais, engavetadas há muitos anos, e atualmente em processo final de mixagem, pôde tornar-se realidade nestes mesmos dois dias. Revivi a emoção de pisar no palco novamente, após mais de vinte anos, acompanhada ao piano por meu amigo Maurício Bonanno, no dia 06. E toquei ao violão algumas delas no dia 07, no sarau Plural de 2.

Deixo aqui algumas fotos, e um vídeo de minha apresentação. E a certeza de que felicidade é aqui na terra mesmo que acontece!










sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

MARIA BONITA

foto by Dani Hiro.
Ah! eu queria ser, de todas as Marias,
A maria bonita...
Eu queria ser somente
A tua maria.
Mas não adianta,
O mundo não é vontade minha.
E não será verdade
Eu ser tua maria,
E esta vontade louca
De beijar tua boca
 E ficar contente...

Eu queria ser
Tua maria bonita,
Que fizesse só tuas vontades
Mansa e loucamente.
Mas que grande pretensão!
No mundo há tantas marias
E eu nunca seria a tua,
José, a tua maria...
Só porque você, com certeza,
Não me quereria
Prá tua maria,
Só tua, bonita,
t/ao louca e tão submissa, você é tão machista,
meu José amado.

Olha, eu só queria ser
A maria bonita
Dos teus olhos verdes
E dos teus sorrisos
Tão bem retribuídos...
Você é tão machista,
Mas é tão manhoso,
Meu josé formoso,
Beijos de

Maria.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

DIZEM QUE AMAR DÓI...

Dizem que amar dói. Amar só dói quando é amor preso. Entalado, amarrado, amedrontado em aparecer. Amar é fortalecer o espírito, carregar em si a força de ser melhor, e fazer o melhor pelo outro.
Dizem que amar dói. Amar só dói se os braços estão impedidos de abraçar, as mãos de acariciar, limpar as lágrimas, o colo de dar guarida a quem precisa. Amar não dói. O que dói é represar gestos e sentimento.
Dizem que amar dói. Amar só dói se a palavra fica parada na garganta, se o beijo não se apresenta, se a palavra doce se mistura com a ironia, se o olhar se perde e se desvia, para não denunciar a emoção que se anuncia.
Dizem que amar dói. Amar só dói se o gesto do afago fica no ar, a intenção do amar se afogando em quereres, o corpo latejando como choro contido, torneira pingando, pingando, não dando sossego. Amor amarrado na própria pessoa.


Dizem que amar dói. Amar só dói se o desejo e a ação não são a mesma coisa. E isto acontece desde que o mundo é mundo, faz nascer histórias, faz doer memórias. Amor dói no passado presente, no presente imperfeito e no futuro não anunciado.  Peço coragem para que o amor não doa mais, daqui pra frente, liberto de todos seus fardos.

CHORO

Choro por dentro todas as impossibilidades. Retas não são curvas, a presa não é livre, as recíprocas não são verdadeiras. Amores não são bilaterais; loucuras tampouco. A raiva não é um sentimento subjetivo, e não pode ser silenciada antes de ser identificada. E silenciá-la nem sempre é o que queremos, quando um pescoço mereceria ser torcido.
Choro por dentro todas as descrenças. Quando todos os seres que povoaram nossa infância se esvaem em fumaça, frente a gritante realidade de centenas de bons velhinhos perambulando, versus crianças que nunca viram um presente em suas mãos. Quando filhos vem pedir, implorar aos pais que confirmem que os sonhos existem, tristonhos por terem se confrontado com o cotidiano seco e árido em que habitamos. E os pais choram com os filhos a perda da ilusão.
Choro por dentro pelos desamores. Por todos os momentos em que nos sentimos traídos pelas pessoas, quando percebemos que sermos bons não nos traz absolutamente nada, e que a grandeza de fazer sem esperar do outro é algo mais ficcional do que o bom velhinho do parágrafo acima. E já acuso: quem disser ao contrário ou é santo, ou é falso.
Choro os grilhões que nos assolam. Clichês, contratos, dogmas, regras sociais, que nos impedem de abraçar com a vontade que temos, de darmos o alento que é necessário, soltarmos a palavra que nos fere por dentro, pássaro se debatendo na gaiola, símbolo que não pode chegar ao interlocutor. Muita gente morre disso, eu sei, eu já vi. Morre engasgado em suas próprias paixões e quereres reprimidos.
Choro tudo o que não podemos ainda ser, fazer, ter, choro não podermos nos perder. Porque a razão fala mais alto que os loucos a nos sussurrarem em nossos ouvidos, e a razão nos traz a vara de condão que nos transforma em simples manequins. Os loucos se mudam, impedidos de serem felizes, e se enforcam de ponta cabeça.

Hoje tentei manter a esportiva, mas tive que chorar um pouco. Afinal, mais um pouco de minha inocência e boa vontade morreu, junto com o que eu conhecia como ética e bons costumes. Me afogo nas palavras, ópio da alma, e espero que a ressaca da alma não me dê dor de cabeça. Amém.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Feliz por estar, hoje e amanhã, participando do lançamento de duas antologias, com pessoas mais do que especiais.Poesia e textos dos mais variados estilos, para finalizar este ano com chave de ouro.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

É SEMPRE TARDE QUANDO ACORDO, CADERNO DE NOTAS, QUARTA SEMANA

Esta é a última semana do projeto Caderno de Notas. O tema desta semana é: "é sempre tarde quando acordo". Prestigiem as outras escritoras que participam do projeto! 
O projeto Caderno de Notas será apresentado na íntegra na Revista Plural de dezembro, além de ser publicado em formato artesanal, e lançado no evento Plural de 2, dia 07 de dezembro, na Biblioteca Alceu de Amoroso Lima.

Luciana Nepomuceno (segunda)
Blogue. Borboleta nos Olhos

 Ana Claudia (terça)

 Tatiana Kielberman (quarta)

 Thelma Ramalho (quinta)
Blogue. 2 e dois são 5

 Lunna Guedes (sexta)
Blogue. Catarina voltou a escrever

 Ingrid Caldas (sábado)

 Letícia Alves
(domingo)
Blogue Minhas Tempestades


É SEMPRE TARDE QUANDO ACORDO

Não importa a latitude e longitude,
não importa o fuso horário,
é sempre, sempre
tarde quando acordo.
Não importa dia e hora,
Nem a lua que rege a semana,
Sempre, é sempre
Tarde quando acordo.
Afirmação disparatada
Mas não insana:
Para a hora do mundo dos homens
Sempre, sempre é
Tarde quando acordo.
Quando acordo
Para perceber
A violência que me circunda,
E o menino sem pernas
Pelas guerras lá fora.
Quando acordo
Para a fome que assola
Sertões e áfricas
E ásias do mundo.
Quando acordo
Assustada
Com ditadores
E seus massacres.
Acordo e penso:
Cheguei atrasada.
O que faço com isso?
Estou mesmo acordada?
Será um pesadelo?
Mãos dilaceradas,
Prazeres mutilados,
E eu não vi isso antes...
Por isso quando acordo
Sempre, sempre  é tarde.
Esperando que a insanidade
Tenha passado...
Sempre é tarde
Para ressuscitar
Os que já se foram
Sempre, sempre é tarde
Para dar água
Aos que pereceram.
Acordo tarde
para a hora
Do mundo.
Quem sabe um dia
Eu possa estabelecer
Um fuso horário antecipado?
Correr com o socorro
Antes da bomba,
Com o prato
Antes da fome,
Com a água
Antes da sede...
Com a benção
Antes da dor.
Que eu possa
Senhor,
Acordar então
Para as mazelas do mundo

Adiantado.

terça-feira, 19 de novembro de 2013

VELAS - in PROJETO "CADERNO DE NOTAS'

E para esta terceira semana o tema é 'Em algum lugar em mim'. Acompanhem as escritoras participantes em suas expressões singulares!



        As velas estão acesas. Não há nenhum motivo especial, somente a falta de luz que acompanha esta chuva de primavera. Gosto do ambiente assim, em tom de sépia, como foto antiga.  Voltar no tempo, meses, anos, guardados nos sótãos da memória. Singulares momentos em que a plenitude em mim foi tanta que  o ‘eu’ tornou-se superlativo. Extrema lucidez, consciência do segundo transformador, da palavra ou gesto que redimiram, livraram e marcaram minha alma antiga.
        Na luz das velas, antigos amores se delineiam. Amores que não deram certo, amores que deram errado, amores que não saíram do papel, ou que somente foram inventados. Sim, sei que o licor adocicado me deixa assim, sentimental. Desculpa? Licor é uma desculpa deliciosa, convenhamos.
        E lá está, na luz da vela da esquerda o meu ‘encosto’. Sempre que o via a pele arrepiava. Os pelos eriçavam, o estômago contraia, a respiração ficava... diferente. Mas a fleuma era minha companheira, não havia nada que me delatasse. Nossos modos, evasivos, os olhares que se desviavam, a corrente que se propagava de um corpo a outro... na vela da esquerda está o ‘encosto’ que deu valia ao meu caminho, quando se desfez em palavras de amor. Descobri que ser amada, ainda que em pretérito imperfeito, faz a alma se sentir completa, tornar-se maior por acréscimo. Lhe entreguei meu amor antigo, de outras eras, ainda que fosse só para recordação, em linhas e mais linhas, lágrimas e mais lágrimas, mas temo que ele não tenha percebido. Pouco importa. A vela da esquerda agora é somente chama, acima da cor rubra.
        Na vela da direita bruxuleia outro rosto. Macio, alvo, olhos claros perdidos em outro tempo. Fez o papel de ser luz dentro de mim e buscar nos meus recôndidos minha potência. Quando eu me desacreditava, dizia: creio em ti, vá em frente. Esta da direita era o anjo que aparecia noturnamente, me olhava com olhos antigos, e me declarava o seu amor de essência para essência. Ele me via, e isto é tudo. E no dia em que o tempo parou, a consciência clara de um segundo me avisou que não mais o veria. A vela agora é chama alta, apontando para o teto.
        No fundo da sala, outra vela dança. Sedutora, fez-me recordar de corpos colados dançando, do perfume antigo de homem que impregnou incessante minhas lembranças, e da primeira consciência que eu habitava um corpo. Da camisa que ele usava quando chorou pedindo para que eu me afastasse, sem, porém, me soltar de seu abraço.  Aqui a falta do ópio de sua pele foi a consciência que ganhei, e a plenitude era de dor, pois ainda só me sabia inteira através do outro. Paixão de moça, a vela dança, apaga a chama.
        O licor continua delicioso. As velas espalhadas, o frescor do vento que veio com a chuva completam esta noite. Dentro de mim, em algum lugar, há um altar para todas estas velas. Para os momentos em que sair do corpo não era só uma expressão, falar com a alma não era uma metáfora, e estar inteira não era algo subjetivo. São momentos que me faltam, pois o êxtase não é continuidade; é relâmpago na escuridão, que ilumina e tudo mostra, mas se vai, trazendo o som, a consciência ampliada, no segundo seguinte. Retomo o instante da consciência, me revigoro, e apago as velas. Sussurro: a luz agora está em mim.


p.s: e para o amor que vingou, não há palavras nem velas. Só as mãos dadas que permanecem como testemunho...

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

QUERIA-TE

Queria-te mais do que em palavras. Queria-te calor, abraço, presença. Queria-te como mormaço, como laço, como firme sentença. Queria-te, e nem sei mesmo quem serias tu. Mil rostos te adornavam e me seduziam. Tuas mãos serenas, teu sorriso franco, teus olhos...
Queria mesmo é que esta fraqueza em minhas pernas sumisse, a lassidão da paixão me deixasse, que eu voltasse a ser somente minha. Todavia mais forte do que eu queria estava a tua presença, cheiro amadeirado nos meus cabelos, flor esquecida dentro de um livro, lábios sonhados de longe, e tuas mãos... tuas mãos tocando as minhas.
Não soube querer-te como devia, e hoje, ainda não o sei, mas como gostaria... Não fui feita para desejos, mas somente para promessas. Não nasci para este mundo, ele me pesa, suas minúcias e suas pressas. Sou das delicadezas, dos sentimentos, das inconsistências. Não sei ser carne, sou somente letra, sou véu, sou água... sou presença ausente.
Mas tu, ao contrário, és ausente presença. Sempre quente,  sempre quente. Não tens data, não tens prazo, és somente. E nestes aniversários dispersos, em que a alma comemora estranhas datas, comemoro a vida que me deste, quando nem mesmo sabias que me davas. Queria-te, queria-te, não envolto em algas, mares, ventos, queria-te, presença pulsante, equilíbrio constante, entre o meu e o teu momento.

Queria-te sem este choro manso que me nasce da alma, sem esta falta que me rasga a carne e me dilacera, porque sei que no fundo de ti somente encontro um muro de pedra. Queria-te sem este abandono de mim mesma, de convicções e passos estudados; queria-te mais uma vez, e sempre e sempre, caminhando ao meu lado.

terça-feira, 12 de novembro de 2013

PARÁBOLA DO CAMINHO - projeto Caderno de Notas

Meus caros, este é segundo texto, da segunda semana do projeto "Cadernos de Notas", com o tema da semana "Essa é minha carta ao mundo". Confiram nos blogs das outras autoras o desenrolar de vários olhares:

11/11 - Luciana Nepomuceno (segunda)
Blogue. Borboleta nos Olhos

12/11 - Ana Claudia (terça)

13/11 - Tatiana Kielberman (quarta)

14/11 - Thelma Ramalho (quinta)
Blogue. 2 e dois são 5

15/11 - Lunna Guedes (sexta)
Blogue. Catarina voltou a escrever

16/11 - Ingrid Caldas (sábado)
17/11 - Letícia Alves
(domingo)
Blogue Minhas Tempestades


    



        Olá, minha cara,
            Espero que estejas bem, afinal, é o que esperamos àqueles a quem amamos, sempre. Venho te contar boas novas, pensamentos que tem vindo em minha mente. Já te contei da minha experiência, há alguns anos atrás, de subir uma montanha? Acho que não. Pois bem, isto ocorreu em Osaka, no Japão. Era início da primavera, a estação era mais amena, e propícia para longas caminhadas. Subíamos em grupo, normalmente trinta ou quarenta pessoas, por antigas trilhas que levavam, primeiramente, a um templo budista no meio da escalada, onde sempre parávamos para descansar e bebermos água, e depois seguíamos em frente, num caminho mais íngreme, até alcançarmos o alto da montanha.
            Você irá se perguntar por que eu estaria falando disso? Bem, não é para descrever apenas a caminhada em si, mas o que me marcou nela. Não éramos esportistas, muito pelo contrário. Poucos eram os que teriam as condições ideais para este tipo de aventura. Eu não era uma delas. Fui orientada a levar minha água e uma toalha de rosto para a caminhada. Obediente, iniciei-a com todos os apetrechos necessários, acompanhada pelo grupo animado. Passávamos por casas típicas, em ruas estreitas, e começamos a subir a montanha. As casas foram rareando, até o momento que sumiram, e entramos por trilhas feitas por peregrinos budistas, em meio à mata local, e o caminho começou a ficar mais íngreme. As conversas diminuíam, e o grupo começava a se dispersar, com alguns, incluso eu mesma, ficando para trás, as pernas pesando como chumbo, o rosto afogueado refletindo o coração que batia acelerado com o esforço, e os pulmões tentando puxar o ar no ritmo que a necessidade do momento exigia. Parei, dobrei meu corpo, mãos nos joelhos, para tentar respirar, quando vi então uma toalha estendida a minha frente. Um colega olhou para mim e disse para que eu continuasse andando, pois senão a caminhada iria me vencer, e me ofereceu uma das pontas de sua toalha, dizendo: “eu te puxo”. Recomecei a caminhada sendo “rebocada” por ele. Percebi que uma corrente havia se formado, com os mais preparados fisicamente indo a frente, estendendo suas toalhas, e quem estava sendo ajudado, estendendo as próprias toalhas para quem vinha atrás. Assim fiz eu também. Palavras de incentivo eram pronunciadas de quando em quando, mas o ritmo simplesmente não era quebrado. Chegamos todos ao topo da montanha, rezamos em agradecimento, e fizemos o nosso almoço, preparando-nos para a descida.
            Esta lembrança veio à tona quando me perguntava o que estava realmente fazendo como pessoa para melhorar a mim mesma. Percebi que em todos os embates que tive com a chamada vida, tive pessoas que me ‘estenderam a toalha’ para me ajudarem a subir mais um pouco. E percebi que em outras ocasiões, eu também ‘estendi toalhas’ para que outros pudessem ‘subir a montanha’. E fiquei aqui, idealizando um mundo onde haja a percepção desta corrente invisível que perpassa a todos os seres viventes. Também lembrei-me de uma missiva de um amigo querido, que desvelou outro mistério da palavra ‘pessoa’, do original ‘persona’: significa ‘por onde soa’, isto é, por onde o ar, sopro de vida, ‘anima’, alma, passa. Ser pessoa é ser instrumento da alma, como a flauta que só pode ser som se insuflarmos ar dentro dela. Só podemos ser chamados de pessoas quando nos deixamos ser instrumentos de crescimento para outras.
            Bem, minha amiga, que o mundo entenda que devemos sempre ajudar o outro a  ‘continuar andando para não ser vencido pela caminhada’. Que o mundo entenda que quando um ‘estende a toalha’ para quem está precisando, este também aprende a ‘estender a toalha’ para o próximo. Este, afinal, era o objetivo de contar sobre aquela caminhada... uma parábola, pois! Fique em paz, fique bem. Somos um.
Quando sentirmos
Finalmente
Que nisto que chamamos mundo
Não há separação
Entre nós e o outro
A estrada não terá início nem fim.
Ela apenas Será.


B.

domingo, 10 de novembro de 2013

Revista Plural - eu também estou aqui!


A quem chega por aqui, vale informar: também estou nas páginas da Revista Plural, a partir da edição 3, e vocês podem acessar todo o conteúdo das revistas através deste link:

http://pluralrevista.blogspot.com.br



terça-feira, 5 de novembro de 2013

VOCAÇÃO PARA AMAR - PROJETO CADERNO DE NOTAS

 Apresento a vocês o primeiro texto do projeto Caderno de Notas, realizado em parceria com outras seis escritoras. Cada semana, estaremos exercitando diversos olhares sobre um mesmo tema. Confiram os outros textos com o tema da semana, "Noites Brancas":

Luciana Nepomuceno (segunda)
Blogue. Borboleta nos Olhos


Tatiana Kielberman (quarta)
Blogue. Detalhes Intimistas



Raquel Stanick (quinta)
Blogue. Dessas que eu sou


Lunna Guedes (sexta)
Blogue. Catarina voltou a escrever

Ingrid Caldas (sábado)
Blogue. Perfumes e Palavras



Letícia Alves(domingo)


VOCAÇÃO PARA AMAR

Lamentos. Peito opresso, lágrimas que vertem de meus olhos, janelas d’alma escancarados nesta inundação infindável. Sinto meu corpo fraco, afundando no sofá velho, que me recebe aconchegante. Um suspiro misturado a um ‘ai’ sai de minha boca, e eu não o controlo; antes, precipitam-se outros ais, correntes e ligados, como se tomada de imensa dor na carne.
Meus braços apertam meu ventre, minhas unhas se enfiam em meu próprio braço, parece que amansam a dor que vem com um uivo, rasgando por dentro de mim. Perdida nesta casa antiga, cercada de mato por todos os lados, me sinto mais e mais uma ilha. Isolada. Sozinha. E agora, com meu orgulho devidamente esquecido e posto a dormir, sem a esperança de ter você, novamente. Você, a quem escorracei daqui, mala e cuia, por não aguentar mais sofrer com teu amor plural e socialista. Você, que naquela noite branca, lua cheia como um lustre pendurado em nosso céu, confessou que seu único vício era amar demais, e a muitas e tantas. E eu ri, imaginando ser mais uma de tuas brincadeiras, jogo de palavras, teste de amor.
Vivíamos como dois mendigos que se saciassem com o prato de comida oferecido de repente. Tuas viagens, teu trabalho. Eu perdida em meus textos, minhas composições, me encontrava quando teu riso adentrava pela porta, e teu corpo se deixava ficar aqui, neste sofá velho, lembras? Me aninhava em ti, você em mim, e o paraíso chegava célere, sem passagens intermediárias pelo purgatório, pensava eu.
Partias, dias depois, deixando o teu cheiro de perfume amadeirado na fronha, no lençol, na camisa de algodão cru  que gostavas de usar, e eu demorava a lavar. Usava teus chinelos para poder encontrar meus passos, sentava na cama e repetia teu ritual, antes de dormir: descalçar estes mesmos chinelos, pisar no tapete de lã, colocado ao lado da cama, e deixar a sensação de maciez subir pelas pernas, pelo corpo, para relaxar e dormir.
E houve o dia em que chegaste mais calado, com um meio sorriso, e meu sorriso ficou também pela metade, coração meio estranho, aquele aperto que precede o que a gente não quer. Saí da frente da pia de lavar louça com as mãos molhadas, e você veio com uma toalha e as secou, quieto, olhar desviando do meu. Jantamos, os talheres se conversando num ânimo que não nos pertencia. Perguntei de teus dias longe de mim, fiz piada de desatinos que eu havia cometido na semana, te servi um vinho gelado, barato mas bom.
Você relaxou, deixou vazar teu sorriso novamente, teu branco riso, iluminando minha noite, novamente. Lá fora, na varanda, sentamos, eu puxei tua mão, e a lua, magnitude branca, novamente nos espreitava. E eu não suspeitava o que viria no próximo momento. Teu sorriso foi de um momento para outro congelado, e você começou a me dizer o quanto me amava, se eu sabia? Sim, sabia, sabia. Achava que sabia. E você despejou tua história paralela a nossa, com outra vida, outros nomes enlaçados ao teu, e me presenteou com o pior de ti quando eu só te dava o melhor de mim. Jurou que queria ficar comigo, mas algo acontecera, um filho vindo, e precisava, eu entendia, não é? Ir embora por uns tempos. Não, eu não entendia. Eu não entendia nada, o que eu escutava não era o que eu queria ouvir, e a lua sumiu, junto com minha luz, atrás da nuvem cinza que prenunciava o temporal que vinha breve.
Te pus para fora. Com teu cheiro, com teu corpo moldado ao meu, tentei ser forte. Você tentou argumentar, mas eu entendi naquele momento que tua capacidade grandiosa de amar não era compatível com minha falta de capacidade de perdoar. Fostes embora, fim de setembro, embaixo do temporal que já se precipitava. Deixou tua chave pelo lado de fora da porta, como se esperando poder voltar. Eu também me precipitava, cá dentro de meu quarto.

Teu silêncio atravessou a lua cheia e minguante. Recebi uma carta tua, arrependido, pedindo para voltar, como na música antiga. Podia? Sim, respondi. Volte, volte. E esperei que entrasses pela porta por toda a lua nova e crescente. Você não veio. Sem compreender, passei meus dias sempre esperando o próximo, e me chegou você. Não como eu queria. Não como eu esperaria. Numa carta. Com nome de outra. Me contando tudo. Tu voltavas para mim, debaixo de outro temporal, subindo a serra, e o acidente. Por isso não viestes. Só agora chegastes. Na carta. Tua vocação para amar te rendeu prantos dos dois lados. A minha para não perdoar me rendeu a tua falta, permanente, e estas noites brancas que virão, somente com tua lembrança. 

sábado, 2 de novembro de 2013

ENIGMA

Feita de ideias e sonhos, venho construindo castelos há milênios, surgindo e sumindo como a água some na areia da praia, após se largar em onda e espuma. Feita de ideias e sonhos, dou movimento á histórias que já morreram, dou alma à quem perdeu a sua, em alguma vida de segunda classe.
Bailo pelas memórias alheias, catando fragmentos de histórias, descrições de sensações, cacos de sentimentos, desconstruindo cá e reconstruindo acolá fantasias que caibam em qualquer ser humano que ainda possua humanidade em si. Pois que ser humano é condição de nascença, mas ter humanidade necessita de cultivo e cuidado por parte do vivente.
De imagens simples faço nascer inspiração para que a beleza cresça e se reproduza. Trago lágrimas aos olhos de quem se encontra comigo, pois toco suas almas, desnudo suas fraquezas e os faço perceber o tamanho de suas grandezas, teimando em viver, e viver e viver.
Muitas vezes solitária, me satisfaço em estar no tudo e no nada. Quem me alimenta é quem de mim se sacia. Eis meu movimento, ciclo interminável, movimento do infinito, rito iniciático, flor no firmamento. Gerando e sendo gerada, dou e recebo sem ganhar nem gastar nada.

Sou feita de ideias e sonhos. Vivo no coração dos homens que vivem, renasço no coração daqueles que são tocados, morro com aqueles que se perdem, se desfazem em mil pedaços. Sou feita de gaze, de seda, de éter, sou a mãe de todos os que permanecem. Meu nome? Esperança...

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

RIO MEKONG





O rio Mekong fica
Na esquina do mundo
Com meus sonhos.
Sua vastidão de rio
Me cheira a mar,
Me lembra a brisa
De um oriente que conheci.
O rio Mekong fica
A me afogar
Na fotografia de um lugar
Que nunca pisei
Ou nadei
Ou voei.
No Cambodja,
Me questiono,
Os meninos também sonham
Como sonham os daqui?
Ou serão sonhos diferentes?
Os barcos que cruzam
Rios na cheia, no pantanal,
São coloridos
Como no Mekong.
Mas será que os pescadores
Sonham com os peixes
Cá e lá?
Será que há alguma diferença
Entre molhar-se nas águas daqui,
Ou molhar-se nas águas de lá?
Morar nas palafitas daqui
Ou balançar nas redes de lá?
Rio Mekong
Que nunca abracei com os olhos
Me traz uma certeza ao coração:
Rios e homens são iguais,
Essencialmente simples,

Feitos de sonhos e água.

(Rio Mekong, Cambodja,fotos de Mitsue Hosono, 2013)

sábado, 26 de outubro de 2013

PARTICIPAR DO 'OUTUBRO DAS LETRAS' EM RIBEIRÃO PRETO? SÓ TENDO AMIGOS PARA ENTENDER!

Abaixo, a foto de Eli, da Feira do Livro de RP, lendo meu poema 'Tato', que enviei para o amigo e poeta Alfredo Rosseti, para poder participar, de alguma forma, deste evento literário em Ribeirão Preto. Minha amiga Eliane Ratier leu o segundo poema, 'Você não'.


Tateio tua pele
Com mãos de cegueira.
Te conheço e reconheço,
E me mantenho inteira.
Já fiz poesias de me perder,
Mas foram tempos sem memória,
Em que havia me dado a outros
E não contava minha história.

Tateio tua pele
Com minhas pupilas sedentas.
Sei do teu rosto
Dos teus contornos
E não preciso tocá-lo.
Do que servem as mãos
Se estou contigo em pensamento?
Minha alma só se alarga
Quando te procuro no vento.

Tateio tua pele
Te sentindo por dentro.
Me visto de ti, te experimento,
Te apascento a alma,
Te trato com unguentos...
Cuido de ti, e de nossa ferida,
sou para ti amante e amiga.
Mas eu mesma durmo ao relento,
Para apagar o calor que me vai por dentro

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

MEDO


O medo
É ferramenta
Ou argumento?
O medo é.
De tudo um pouco,
O medo faz.
Nos faz cuidar,
Nos faz correr,
E respeitar
Ou se encolher...
O medo.
Paralisa
0u põe em ação.
Nos cristaliza
Numa estação.
O medo.
Tormenta interna,
Oca caverna,
O medo é.
Buraco negro
Do que nos nutre
E de um devir.
O medo
É ferramenta
Se aprendemos
O respeito e o cuidar.
É argumento
Se nos estanca
Em nossos atos
E no pensar.
Nem bom nem mau,
Só existe
Se o inventarmos.
Sozinho não...
Nós o criamos.

E se o matarmos?

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

MEU CORPO

Meu corpo.
Morada da alma
Palco para sua expressão.
Porta de entrada,
Porta de acesso,
Experimentação.

Meu corpo
Janela para meu dentro,
Instância vista da mente,
Incapaz de mentir
Em suas posturas
-imposturas-
Marcas d’água na pedra.

Meu corpo
Prolongamento do outro
Instrumento de precisão
Para uso certo e ciente.
Para  o outro,
ás vezes,
Objeto de desejo,
Anseio e perdição,

tão somente.

sábado, 21 de setembro de 2013

LUA

        Não gosto de falar da Lua, porque há muito tempo os poetas se ocupam dela. Mas me descuidei, e cá estou eu, falando deste satélite que nos olha de longe, nos vigia e nos rege, senhora das águas, das marés, dos ciclos das mulheres, da fertilidade, da hora de plantar e de colher...
        A Lua, que antes de tudo foi minha casa, quando ainda era astronauta, menino perdido entre naves, nuvens, e imensas possibilidades de voar e respirar no espaço. Não lhe finquei bandeiras, como o astronauta americano em foto famosa, não lhe recolhi pedrinhas, para lhe estudar a composição. Só a chamei de minha, pelo simples fato de nela habitar, dentro da possibilidade ilimitada de meu imaginário.
        Depois cresci, e a Lua foi a inspiração para a cartinha para a primeira namoradinha. Nada de Vinicius, “se você quer ser minha namorada...”, mas uma completa identificação entre os meus dois amores de então. A Lua não me auxiliou muito na conquista, parece que a garota gostava mais dos Bee Gees ou coisa que o valha, e fiquei então assim, sidéreo, e sozinho.
        Esqueci da Lua durante meus anos mais práticos, objetivos, cartesianos. Oras, somente um astro, justificava. Parei com o sentimentalismo, e de olhar para o céu. Havia mais o que fazer aqui embaixo, pensava, e corria atrás de algo que não sabia, mas deveria ser importante, visto que todos também corriam atrás.
        Ultimamente, porém, percebi que corria atrás de ilusões, e tão mais fúteis do que ser um astronauta! Comecei a reparar de novo no céu, acompanhar as fases de minha amiga antiga pela janela de meu quarto, com as luzes apagadas para que ninguém percebesse. Voltei até a suspirar, sem querer.

        Mas hoje fui totalmente submetido ao poder deste astro, quando vi sua imagem refletida, assim, tão magicamente, e tão próxima, nas águas do mar. Eu, que sempre vi o mar como amigo, tive ciúmes de sua proximidade com a Lua. Mas, pensei: ela é impossível, sedutora, controladora, tão e sempre femmina, como resistiria a ela o mar? E agora, agora, estou eu aqui, a lhe contemplar...

terça-feira, 3 de setembro de 2013

DIA GRIS

         Começo este dia como nenhum outro. Nunca vivi este dia, ouvi esta melodia, reparei naquele pássaro... a falta de juventude no corpo, aquilo a que chamam idade  que passa, nos traz, se quisermos, juventude na alma. Pois quando jovens, somos tão velhos! Cheios de preocupações, despedidas que a nada nos levam! Perdemos o que está a nossa frente, buscando o que ainda não nos pertence.
         O tempo passa, e vemos a pouca importância disso tudo. Percebo hoje o quanto perdi tentando ganhar, e quantas vezes ganhei, certa de que perdia. Tive segunda chance na vida, e a ela me agarrei. Meu espírito é velho, antigo, mas não acabrunhado. Não apagado. Hoje ele brilha mais do que nos meus vinte anos, quando namorava com a melancolia. Quando achava que ser triste era a arma do poeta.
         Hoje bebo mais vinho, canto mais sozinha, danço sem vergonha de ser pesada e grande, pois sei que o pior é não dançar, não beber, não cantar. O pior e não ter vontade de viver. O pior, e é clichê, é não estar vivo quando se está respirando.
         E por isso, somente por isso, meu dia começa leve, gris, como quis o poeta. Mas é somente pano de fundo para minha alma passarinha, que sempre procura a liberdade nas manhãs, quando outros pássaros cantam na copa das árvores, chamando para que se veja que há vida fora das gaiolas que tecemos em nosso entorno. Minha alma passarinha deseja a todas as outras almas bom dia...

Blog Palavra Prima, é para lá que eu vou

Quem chega aqui deve perceber que as postagens estão cada vez mais escassas. O motivo real é a criação, há mais de dois anos, de outro blog,...