terça-feira, 15 de janeiro de 2013

A MENINA


 
                Acho que fotografei a menina que andava escondida pelos cantos da casa. Arteira, rindo de todos os acontecimentos infelizes (travessas caindo, o ovo quebrado no chão, a resposta impagável  de uns e outros),  e em outros momentos permanecendo absorta, silente, com um sorriso fugidio no rosto. Menina, menina, o que você quer de mim? Por que não para de me seguir?
                E, num repente, me viro, e a pego, assim, rindo-se de mim... rindo das minhas ilusões, de minhas crenças, de minha história. Ela me ensina a não levar o mundo a sério, a não ser que o assunto seja mesmo sério. Me ensina a acreditar nos pedidos que fiz para as estrelas, no pensamento positivo, mesmo que o resto da humanidade pense que isto é uma bobagem. Ela me ensina que fé é um assunto pessoal e intransferível, e do qual eu não devo ter vergonha.
                Ela está rindo para mim, e agora me oferece sua mão. Me mostra suas velhas bonecas, seus desenhos, seus  versinhos. Mostra o coração flechado que desenhou, o papel que rasgou com raiva, o vidro com lágrimas que chorou, e o sol que desenhou para evaporá-las. Esta menina!
Corre rapidamente por minha casa, e, quando a alcanço, eu a reconheço. Estes olhos, este sorriso... o espelho embaça com meu hálito, meus cabelos brancos me trazem de volta à este tempo. Mas a menina, ah, a menina não sai mais de dentro de mim.

sábado, 12 de janeiro de 2013

TESTAMENTO


Hoje me voltou a gana
De verter poesia.
Abri minhas veias
E suaves areias
Formaram praias
Onde escrevo com gravetos
E as ondas não chegam
Para levar as palavras...
Registro de passos,
Pensamentos e sentimentos.
Registros de pequenos pedaços
De alegrias, sorrisos,
Bons momentos.
E vejo que minhas palavras
Vão no vento.
Chegam em terras estrangeiras,
Com castelos, neve, outras praias,
Lugares de czares, de reis e de caubóis.
Queria saber se nestas terras
Chega o sol que aqui me banha
Ou se outro sol arde,
Outros arrebóis...
A visão fica mais leve
Quando penso que o que escrevo
Não sumirá no espaço
Quando eu morrer,
Findar,
Parar de gerar
Meu próprio compasso.
Mas quando morrer,
Veja bem,
Quero ir-me embora
Envolta em redes
Plenas de palavras
Que me falem
Do teu abraço...
E deixando cá
Meu testamento
Já me desfaço.

Blog Palavra Prima, é para lá que eu vou

Quem chega aqui deve perceber que as postagens estão cada vez mais escassas. O motivo real é a criação, há mais de dois anos, de outro blog,...