terça-feira, 18 de março de 2014

A ESCRITORA

E eu,
Que me encontrei
Dentro daquele silêncio
Presenciei tua alma antiga
Empunhando um tinteiro
Que te remetia
A outra vida,
Outros tempos
E outros lugares.
Pressenti
Dores e estranhamentos,
Mistérios sem nome,
Porque nomeando-os
Poderia revela-los.
Saturno
Mudou de órbita
E por isso
Tú, alma antiga,
Caminhas
Empossada de um corpo,
Entre os viventes.
Te prendes às letras,
Aos livros;
Frases soltas
Encalhadas em ti.
Alma alimentada,
Mas nunca saciada
Com as brumas de sonhos alheios.
Pertences ao abissal,
Ao silêncio,
Camélias antigas
E bucólicas paisagens.
Teu espírito
Encontrou calma
Na companhia de outro
Que ternamente
Te compreende.
As cortinas do tempo
E do espaço
Abriram e reabriram
Umas tantas vezes
Até que se encontrassem,
prometidos que estavam
a caminharem juntos.
Cada qual amparando
O outro,
Mas respeitando
Sua particular

História.

segunda-feira, 3 de março de 2014

SAMBANDO PARA APRENDER A VIVER

                Um viva a flexibilidade de pensamento. Um viva a alegria de experimentar coisas novas. Não fosse graças a isso, não teria vivido algo diferente neste carnaval. Momento em que as pessoas se declaram avessas a esta festa, por tantos motivos de cunho pessoal, religioso, moral, intelectual e nem sei mais quantos outros, resolvi passar por cima de meus próprios preconceitos e reexperimentar o carnaval. Reexperimentar, sim, pois quando menina e adolescente adorava pular carnaval nas matinês do clube. Sabia, e sei, todas as marchinhas de carnaval. O que me fez considerar o convite de meu esposo, para desfilarmos no carnaval de São Paulo, na ala da comunidade de duas escolas: Tom Maior e Estrela do Terceiro Milênio.
                Vale dizer que nestes últimos anos tenho buscado viver mais, me divertir e aproveitar cada momento que me cabe nesta vida que Deus me deu. Minhas atitudes contagiaram os outros membros da família, e meu marido, antes um workaholic inveterado, aprendeu a levar a vida de forma mais leve. Imaginem um japonês te convidando para entrar no samba? Pois foi o que aconteceu... eu que surpreendia a todos, fui surpreendida desta vez. A maratona começou com os ensaios no Sambódromo, nos meses de janeiro e fevereiro. A integração dos participantes, o objetivo simples de se divertir e tentar levar a escola a uma boa colocação no carnaval, e a organização que permeia toda esta diversão me surpreenderam.
                Mas nada me preparou para o dia em que fui buscar as fantasias que iríamos usar. Brilho, belos adereços, detalhes primorosos me deixaram de boca aberta pela semana que antecedeu o carnaval. Meu escritório converteu-se em quarto de fantasias, e todos que chegavam queriam vê-las. As duas, douradas, me remetiam aos sonhos que a gente tem em criança, de vestir fantasias dos personagens de livros. E lá estava eu.
                Decorados os sambas-enredo, aprendido o passinho simples para quem não samba, fantasias vestidas, com costados, ornamentos de cabeça, não éramos mais indivíduos, mas parte da comunidade. Pessoas que trabalham todos os dias do ano, e querem participar do carnaval como protagonistas do espetáculo, sabendo-se importantes pelo simples fato de disporem de seu tempo e do seu corpo para empunharem fantasias como bandeiras, e defenderem suas escolas como quem defendem dogmas, posições absolutas. A paixão é evidente nos olhos de todos. São frentistas, empregadas domésticas, terapeutas, diretores de escola, merendeiras, cobradores de ônibus... são arlequins, orixás, animais, passistas, artistas aplaudidos por outros artistas, durantes os dois quilômetros do Sambódromo, desafiando o seu próprio cotidiano, o seu lugar comum. Superam-se, e trazem beleza, alegria, emoção para quem vê aquele espetáculo. E também para quem participa pela primeira vez.

                Todas aquelas pessoas com quem convivi nestes dias me trouxeram novamente a certeza de que somos tão iguais, tão iguais... vivemos de nossos sonhos, e eles nos fazem acordar todo dia, passar por obstáculos. Se meu sonho é escrever um livro, ser presidente de uma empresa ou desfilar na passarela, realmente não importa. Se eu sou branca, negra ou oriental, qual a minha orientação sexual, moral ou religiosa, também não importa. Somos iguais, vamos sempre atrás do que nos faz vibrar. Desta vez, aprendi a viver da forma simples. E percebi que aí também residem os sonhos, e estes sonhos simples podem nos surpreender com sua beleza.         




Blog Palavra Prima, é para lá que eu vou

Quem chega aqui deve perceber que as postagens estão cada vez mais escassas. O motivo real é a criação, há mais de dois anos, de outro blog,...