terça-feira, 28 de julho de 2015

POETAS...

Poetas são seres
Que se apaixonam
A vida inteira
Sem medo
De se apaixonar.
Poetas sentem
-mais do que
Sabem teorias-
De que o brilho
Das pessoas
Enfeitiça,
Enlaça,
E traz o caos
Criador
-e necessário –
Para a vida
Pulsar.
Poetas leem
As mensagens truncadas
Daqueles sábios
Dogmáticos
Com um irônico
Sorriso.
Poetas
Ouvem os dogmas
-sociais, regionais,
Mundiais-
E balançam
As cabeças,
Desaprovadores.
Então erguem
Suas canetas
E promovem silenciosas
Revoltas,
Incitando
Aos poetas que
Ainda não acordaram
A respeitarem
A própria
Essência.
Poetas são seres
Que não tem
A mínima vergonha
De se apaixonar
Pelo brilho
Que se estampa
Em cada

Vivo olhar.

terça-feira, 21 de julho de 2015

ERA UMA VEZ UMA CASA AMARELA



Era um domingo de julho. Um convite, há muito feito, havia sido aceito por mim, e eu desembarquei na Casa Amarela, em S. Miguel Paulista, lá pelo meio da tarde, acompanhada de marido e filho. Fui recepcionada por Akira Yamasaki e por Escobar Franelas, poetas de mão cheia e articuladores do Sarau da Casa Amarela.
Nos conhecemos – os três – através de Marciano Vasques, um ser humano de coração do tamanho do mundo, que uniu vários escritores numa antologia poética, em 2013. Desde então Akira vem me convidando para ir ao Sarau. Do outro lado da cidade  - eis a medida inexata da nossa distância. Foram necessários dois anos e um convite oficial para que eu chegasse àquela Casa.
Não havia percebido, até Akira começar a me apresentar, que eu era sua convidada especial. Especial, para mim, havia sido o convite! Relancei meu livro, O Poente, o Poético e o Perdido, em meio a muita gente atenta e afetuosa. Contei um pouco de minha trajetória e do nascimento deste livro, declamei alguns dos poemas, e cantei algumas músicas.
Conheci muitos outros bons artistas, das letras e dos sons; comi muito bolo de fubá delicioso, tomei o quentão da Rosinha, recebi o grande sorriso da Sueli, mulher do Akira, e zilhões de abraços e palavras maravilhosas de todos os que participaram do Sarau.
Tive a honra de fechar o evento com um grupo de chorinho fantástico, cantando Carinhoso. Emoção pura! Tudo ali transbordava: arte, amor, cuidados, amizade. Me senti acolhida, valorizada pela amizade de tão ilustres compadres de letras e música.
A vida é feita de momentos. Mas há momentos, como este, que fazem valer toda uma vida...

A Casa Amarela tomou de vez o meu coração!

aconteceu no 36º sarau da casa amarela (3)

Ana Claudia 

então finalmente a minha comadre ana
claudia marques veio à casa amarela.
após dezenas de convites, inúmeros
pedidos e até algumas súplicas, enfim
ela veio à casa amarela. e veio com seu
imenso sorriso pleno de claridades e
clarezas. e trouxe sua poesia essencial
plena de generosidades e cantos de
pássaros. e trouxe seu canto pleno de
de suavidades de riachos cristalinos e
encantamentos. bentivinda seja, ana
claudia, obrigado por ter vindo e volte
sempre que quiser porque agora você
conhece o caminho.

quinta-feira, 2 de julho de 2015

PROIBIDO

Diminuta, sou só  meu ventre, apertado, contraído, na expectativa de ser mais. A paixão sem dono ainda assim me faz sonhar, como se meu corpo fosse jovem, e meus sonhos, possíveis.
Instauro o reinado de minha alma, a buscar a tua, perdida, escondida, amuada embaixo da antiga goiabeira. Ficaste ali, irritadiço, ante a inevitável separação  de nossos lábios ao soarem passos de meu pai no antigo quintal.
Pois agora, escuta! Sorri... dar-te-ei o beijo que ansiavas. Meu pai é morto, as traças já corroeram as cambraias do vestido de menina, o relógio antigo nem bate mais.
Escuta, menino, negro como o carvão, sorriso alvo de aurora. Estiveste comigo durante tantos anos, tua proibida beleza me amolecendo as pernas, a espera de teu calor me aquecendo nas noites frias e sem amor.
São mortos todos os que nos diziam proibições. Suas memórias também estão assim, mortas. As ruins, querentes de sobreviver, queimei junto com papéis que amarelavam no sótão.
Vivos estão nossos momentos. Os banhos de rio, onde minha branquidão de fantasma-menina feriam tuas retinas, e tua pele negra me chamava para a vida.
Ainda sinto: relva, chão, corpos, tu e eu, proibidos para aquela gente que desconhecia amor. Ainda sofro: tú com tuas malas, eu para o sanatório, frio, castigo para quem queria ser o que queria ser.
Os gritos de que eu havia manchado minha honra já vão longe. Antes tivesse me manchado de tua cor, me confundido em tua pele, e partido contigo. Mas minha vida não me pertencia. Eu era, como tu, propriedade, pau mandado. Eu, branca lua, tu, sorriso de sol.

Expandida ante estas memórias, sinto que ainda te tenho... menino da goiabeira, moço do rio, corpo de calor, sorriso alvo, meu beijo perdido, meu eterno amigo, garoto crescido, fruto proibido, meu amor...
Foto: Dani Hiro

Blog Palavra Prima, é para lá que eu vou

Quem chega aqui deve perceber que as postagens estão cada vez mais escassas. O motivo real é a criação, há mais de dois anos, de outro blog,...