Choro por dentro
todas as impossibilidades. Retas não são curvas, a presa não é livre, as
recíprocas não são verdadeiras. Amores não são bilaterais; loucuras tampouco. A
raiva não é um sentimento subjetivo, e não pode ser silenciada antes de ser
identificada. E silenciá-la nem sempre é o que queremos, quando um pescoço
mereceria ser torcido.
Choro por dentro
todas as descrenças. Quando todos os seres que povoaram nossa infância se
esvaem em fumaça, frente a gritante realidade de centenas de bons velhinhos
perambulando, versus crianças que nunca viram um presente em suas mãos. Quando filhos
vem pedir, implorar aos pais que confirmem que os sonhos existem, tristonhos
por terem se confrontado com o cotidiano seco e árido em que habitamos. E os
pais choram com os filhos a perda da ilusão.
Choro por dentro
pelos desamores. Por todos os momentos em que nos sentimos traídos pelas
pessoas, quando percebemos que sermos bons não nos traz absolutamente nada, e
que a grandeza de fazer sem esperar do outro é algo mais ficcional do que o bom
velhinho do parágrafo acima. E já acuso: quem disser ao contrário ou é santo,
ou é falso.
Choro os grilhões
que nos assolam. Clichês, contratos, dogmas, regras sociais, que nos impedem de
abraçar com a vontade que temos, de darmos o alento que é necessário, soltarmos
a palavra que nos fere por dentro, pássaro se debatendo na gaiola, símbolo que
não pode chegar ao interlocutor. Muita gente morre disso, eu sei, eu já vi. Morre
engasgado em suas próprias paixões e quereres reprimidos.
Choro tudo o que não
podemos ainda ser, fazer, ter, choro não podermos nos perder. Porque a razão
fala mais alto que os loucos a nos sussurrarem em nossos ouvidos, e a razão nos
traz a vara de condão que nos transforma em simples manequins. Os loucos se
mudam, impedidos de serem felizes, e se enforcam de ponta cabeça.
Hoje tentei manter a
esportiva, mas tive que chorar um pouco. Afinal, mais um pouco de minha
inocência e boa vontade morreu, junto com o que eu conhecia como ética e bons
costumes. Me afogo nas palavras, ópio da alma, e espero que a ressaca da alma
não me dê dor de cabeça. Amém.
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