Dizem que amar dói. Amar só dói quando é amor preso. Entalado,
amarrado, amedrontado em aparecer. Amar é fortalecer o espírito, carregar em si
a força de ser melhor, e fazer o melhor pelo outro.
Dizem que amar dói. Amar só dói se os braços estão
impedidos de abraçar, as mãos de acariciar, limpar as lágrimas, o colo de dar
guarida a quem precisa. Amar não dói. O que dói é represar gestos e sentimento.
Dizem que amar dói. Amar só dói se a palavra fica
parada na garganta, se o beijo não se apresenta, se a palavra doce se mistura
com a ironia, se o olhar se perde e se desvia, para não denunciar a emoção que
se anuncia.
Dizem que amar dói. Amar só dói se o gesto do afago
fica no ar, a intenção do amar se afogando em quereres, o corpo latejando como
choro contido, torneira pingando, pingando, não dando sossego. Amor amarrado na
própria pessoa.
Dizem que amar dói. Amar só dói se o desejo e a ação
não são a mesma coisa. E isto acontece desde que o mundo é mundo, faz nascer
histórias, faz doer memórias. Amor dói no passado presente, no presente
imperfeito e no futuro não anunciado. Peço
coragem para que o amor não doa mais, daqui pra frente, liberto de todos seus
fardos.
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