Seara de sonhos, estes dias de amantes, dias de amores, dia
dos namorados. Como náufragos, procuram-se, corpos suados, tábuas de salvação
recíprocas, sem saberem que a salvação está mais além de qualquer um de nós.
Seara de sonhos, pasto de infantes, estes dias de amantes sedentos me
desconsolam. Me perco em lembranças de momentos, acres ou doces. Me perco, me
cego, tateio memórias que me tateiam, sem dó, sem perdão. Sem perdão.
Seara de sonhos, estes dias de amantes, dias de desamados,
de largados, esperando nas janelas, ao lado de telefones. Ninguém quer falar
deles, afinal, quem é que gosta de gente feia, sozinha ou desacompanhada?
Ninguém. É como falar de morte, é como ver defunto se decompondo. Cheiro de
tristeza impregna na roupa, depois tem que levar para a tinturaria. Seara de
sonhos secos, no caso, deserto de emoções.
Seara de sonhos, estes dias de amantes que se perdem em
flats, champagnes caras, jóias sub-repticias e sussurros em lugares a meia luz.
Sonhos de romances eternos, inexistentes, de carícias que não se cansem de
existir. Sonhos de uns em pesadelos de outros. Dias de pesadelos e culpas
veladas pelas máscaras da modernidade. Difícil ostentar estas máscaras, melhor
não usá-las? Melhor não julgá-las. Melhor não.
Seara de sonhos, seara sem dono, qualquer um pode nela
semear. Dia dos namorados, dia dos amantes, dia dos errantes, não consigo mais
te enxergar com a aura que tinhas... foram amargas minhas vinhas? Tinham fel os
lábios que toquei? Ou minhas histórias foram mal findas? Não sei, não quero lembrar, não vou me julgar, não me perdoei. Deixo aos que ainda sonham a
promessa de não falar mais nada, não escrever mais nada que nuble sua realidade
dourada, etérea, pueril. Dia de namorados, num céu de brigadeiro, azul anil.
Bom Dia Ana. Muito boa sua crônica. Culpa nossa? Hoje o ideal das mulheres é ser consumida como produto.Hoje o sonho é ser consumida em troca de grana, muita grana para manter o produto em boas condições, consumível!
ResponderExcluirUAUHHH! Acho que fui mais ácida do que você, mas é verdade.
beijo grande
Vera, acidez, neste mundo sempre cor de rosa, é bom. Caso contrário, para que escrever, não é? beijoca
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