Não gosto de falar da Lua, porque há muito tempo os poetas se
ocupam dela. Mas me descuidei, e cá estou eu, falando deste satélite que nos
olha de longe, nos vigia e nos rege, senhora das águas, das marés, dos ciclos
das mulheres, da fertilidade, da hora de plantar e de colher...
A Lua, que antes de tudo foi minha casa, quando ainda era
astronauta, menino perdido entre naves, nuvens, e imensas possibilidades de
voar e respirar no espaço. Não lhe finquei bandeiras, como o astronauta
americano em foto famosa, não lhe recolhi pedrinhas, para lhe estudar a
composição. Só a chamei de minha, pelo simples fato de nela habitar, dentro da
possibilidade ilimitada de meu imaginário.
Depois cresci, e a Lua foi a inspiração para a cartinha para
a primeira namoradinha. Nada de Vinicius, “se você quer ser minha namorada...”,
mas uma completa identificação entre os meus dois amores de então. A Lua não me
auxiliou muito na conquista, parece que a garota gostava mais dos Bee Gees ou
coisa que o valha, e fiquei então assim, sidéreo, e sozinho.
Esqueci da Lua durante meus anos mais práticos, objetivos,
cartesianos. Oras, somente um astro, justificava. Parei com o sentimentalismo,
e de olhar para o céu. Havia mais o que fazer aqui embaixo, pensava, e corria
atrás de algo que não sabia, mas deveria ser importante, visto que todos também
corriam atrás.
Ultimamente, porém, percebi que corria atrás de ilusões, e
tão mais fúteis do que ser um astronauta! Comecei a reparar de novo no céu,
acompanhar as fases de minha amiga antiga pela janela de meu quarto, com as
luzes apagadas para que ninguém percebesse. Voltei até a suspirar, sem querer.
Mas hoje fui totalmente submetido ao poder deste astro,
quando vi sua imagem refletida, assim, tão magicamente, e tão próxima, nas
águas do mar. Eu, que sempre vi o mar como amigo, tive ciúmes de sua
proximidade com a Lua. Mas, pensei: ela é impossível, sedutora, controladora,
tão e sempre femmina, como resistiria a ela o mar? E agora, agora, estou eu
aqui, a lhe contemplar...
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