De repente, algo evoca tua lembrança. Maré mansa, depois
tempestade. E meu barco, perdido, sem porto, sem cais. Teus olhos fundos,
abissais, me chamando como sereias chamam seus homens para se perderem. E os
devoram, afinal, nunca as decifraram...
De repente, algo te traz para perto de mim. Tuas cálidas
mãos, há muito perdidas nos escombros das memórias em desuso, tateiam novamente
meu rosto, me chamam de bela na linguagem dos cegos. E tu me redesenhas como se eu fosse a Vênus que saiu de novo de uma concha.
De repente, teu hálito vem terminar em meu pescoço. Teus braços
me envolvem, enquanto vemos o céu de agosto, negro e cheio de estrelas, e
aquela antiga lua, testemunhando nosso desencontro, sempre. E cá me encontro,
novamente, sozinha, enquanto tu és semente de memória.
De repente, e isto parece um pesadelo que não finda, escuto
tua voz me inquirindo, sinto teus braços me soltando, e meu desenho se
apagando. Teus olhos não me afogam mais, não me chamam mais. Eu acordo, e tento
dormir novamente, para voltar a sentir olhos, mãos, respiração e abraço, mas
sinto que desintegro, me desfaço neste desencontro.
De repente percebo: o teu silêncio é o que ainda me alcança.
E nele, abraçada nele, durmo, como se fosse a última peça de roupa com teu
cheiro, o teu pedaço que me cabe, a tua indiferença fazendo o sentido que não
tem. E nesse dessentido me agarro, pensando que de tanto me amar, silencias,
somes, sendo meu nunca e meu eterno não.
Perfeito, sem palavras...quando elas nos traduzem, silenciamos! Abraços!
ResponderExcluirRose, Obrigada pelo comentário! Gosto de saber que acertei numa tradução!! um grande abraço!
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