Meus caros, este é segundo texto, da segunda semana do projeto "Cadernos de Notas", com o tema da semana "Essa é minha carta ao mundo". Confiram nos blogs das outras autoras o desenrolar de vários olhares:
11/11 - Luciana Nepomuceno (segunda)
Blogue. Borboleta nos Olhos
12/11 - Ana Claudia (terça)
13/11 - Tatiana Kielberman (quarta)
Blogue. Borboleta nos Olhos
12/11 - Ana Claudia (terça)
Blogue.
Pontos, Contos e
Poemas
13/11 - Tatiana Kielberman (quarta)
Blogue.
Detalhes
Intimistas
14/11 - Thelma Ramalho (quinta)
Blogue. 2 e dois são 5
15/11 - Lunna Guedes (sexta)
Blogue. Catarina voltou a escrever
16/11 - Ingrid Caldas (sábado)
Blogue.
Perfumes e
Palavras
Olá, minha cara,
Espero que estejas bem, afinal, é o que esperamos àqueles
a quem amamos, sempre. Venho te contar boas novas, pensamentos que tem vindo em
minha mente. Já te contei da minha experiência, há alguns anos atrás, de subir
uma montanha? Acho que não. Pois bem, isto ocorreu em Osaka, no Japão. Era
início da primavera, a estação era mais amena, e propícia para longas
caminhadas. Subíamos em grupo, normalmente trinta ou quarenta pessoas, por
antigas trilhas que levavam, primeiramente, a um templo budista no meio da
escalada, onde sempre parávamos para descansar e bebermos água, e depois
seguíamos em frente, num caminho mais íngreme, até alcançarmos o alto da
montanha.
Você irá se perguntar por que eu estaria falando disso?
Bem, não é para descrever apenas a caminhada em si, mas o que me marcou nela.
Não éramos esportistas, muito pelo contrário. Poucos eram os que teriam as
condições ideais para este tipo de aventura. Eu não era uma delas. Fui
orientada a levar minha água e uma toalha de rosto para a caminhada. Obediente,
iniciei-a com todos os apetrechos necessários, acompanhada pelo grupo animado.
Passávamos por casas típicas, em ruas estreitas, e começamos a subir a
montanha. As casas foram rareando, até o momento que sumiram, e entramos por
trilhas feitas por peregrinos budistas, em meio à mata local, e o caminho
começou a ficar mais íngreme. As conversas diminuíam, e o grupo começava a se
dispersar, com alguns, incluso eu mesma, ficando para trás, as pernas pesando
como chumbo, o rosto afogueado refletindo o coração que batia acelerado com o
esforço, e os pulmões tentando puxar o ar no ritmo que a necessidade do momento
exigia. Parei, dobrei meu corpo, mãos nos joelhos, para tentar respirar, quando
vi então uma toalha estendida a minha frente. Um colega olhou para mim e disse
para que eu continuasse andando, pois senão a caminhada iria me vencer, e me
ofereceu uma das pontas de sua toalha, dizendo: “eu te puxo”. Recomecei a
caminhada sendo “rebocada” por ele. Percebi que uma corrente havia se formado,
com os mais preparados fisicamente indo a frente, estendendo suas toalhas, e
quem estava sendo ajudado, estendendo as próprias toalhas para quem vinha
atrás. Assim fiz eu também. Palavras de incentivo eram pronunciadas de quando
em quando, mas o ritmo simplesmente não era quebrado. Chegamos todos ao topo da
montanha, rezamos em agradecimento, e fizemos o nosso almoço, preparando-nos
para a descida.
Esta lembrança veio à tona quando me perguntava o que
estava realmente fazendo como pessoa para melhorar a mim mesma. Percebi que em
todos os embates que tive com a chamada vida, tive pessoas que me ‘estenderam a
toalha’ para me ajudarem a subir mais um pouco. E percebi que em outras
ocasiões, eu também ‘estendi toalhas’ para que outros pudessem ‘subir a montanha’.
E fiquei aqui, idealizando um mundo onde haja a percepção desta corrente
invisível que perpassa a todos os seres viventes. Também lembrei-me de uma
missiva de um amigo querido, que desvelou outro mistério da palavra ‘pessoa’,
do original ‘persona’: significa ‘por onde soa’, isto é, por onde o ar, sopro
de vida, ‘anima’, alma, passa. Ser pessoa é ser instrumento da alma, como a
flauta que só pode ser som se insuflarmos ar dentro dela. Só podemos ser
chamados de pessoas quando nos deixamos ser instrumentos de crescimento para
outras.
Bem, minha amiga, que o mundo entenda que devemos sempre
ajudar o outro a ‘continuar andando para
não ser vencido pela caminhada’. Que o mundo entenda que quando um ‘estende a
toalha’ para quem está precisando, este também aprende a ‘estender a toalha’
para o próximo. Este, afinal, era o objetivo de contar sobre aquela
caminhada... uma parábola, pois! Fique em paz, fique bem. Somos um.
Quando sentirmos
Finalmente
Que nisto que chamamos
mundo
Não há separação
Entre nós e o outro
A estrada não terá
início nem fim.
Ela apenas Será.
B.
Sempre uma oportunidade de leitura que nos leva além de nossas limitações... "olhar fora da caixa"...
ResponderExcluirMuito bom, Ana!
Que possamos avistar o outro sem a contaminação se nossa própria sombra.
Beijos!
Tati, querida, que possamos sempre exercitar este olhar, e promovê-lo... bj
ResponderExcluirpura reflexão..
ResponderExcluirpara ler, reler mais adiante,,e reler..
beijos e muito bom te conhecer..
linda semana!
Grazie, Ingrid! boa semana para ti também!
ResponderExcluirEu não sei o que é mais fácil ou mais difícil quando estamos numa "aventura" olhar pra cima ou para baixo. Sei apenas que há alguém lá a nos dizer esperanças, ainda que esse alguém seja o nosso íntimo a transbordar. rs
ResponderExcluirbacio
Eu preferi sempre olhar para cima, caríssima Lunna. Acho que as palavras de incentivo sempre funcionaram comigo, vindas de fora ou de dentro...
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