Queria-te mais do que em palavras. Queria-te calor, abraço,
presença. Queria-te como mormaço, como laço, como firme sentença. Queria-te, e
nem sei mesmo quem serias tu. Mil rostos te adornavam e me seduziam. Tuas mãos
serenas, teu sorriso franco, teus olhos...
Queria mesmo é que esta fraqueza em minhas pernas sumisse, a
lassidão da paixão me deixasse, que eu voltasse a ser somente minha. Todavia mais
forte do que eu queria estava a tua presença, cheiro amadeirado nos meus cabelos, flor esquecida dentro de um livro, lábios sonhados de longe, e tuas
mãos... tuas mãos tocando as minhas.
Não soube querer-te como devia, e hoje, ainda não o sei, mas
como gostaria... Não fui feita para desejos, mas somente para promessas. Não nasci
para este mundo, ele me pesa, suas minúcias e suas pressas. Sou das
delicadezas, dos sentimentos, das inconsistências. Não sei ser carne, sou
somente letra, sou véu, sou água... sou presença ausente.
Mas tu, ao contrário, és ausente presença. Sempre quente, sempre quente. Não tens data, não tens prazo,
és somente. E nestes aniversários dispersos, em que a alma comemora estranhas
datas, comemoro a vida que me deste, quando nem mesmo sabias que me davas.
Queria-te, queria-te, não envolto em algas, mares, ventos, queria-te, presença
pulsante, equilíbrio constante, entre o meu e o teu momento.
Queria-te sem este choro manso que me nasce da alma, sem
esta falta que me rasga a carne e me dilacera, porque sei que no fundo de ti
somente encontro um muro de pedra. Queria-te sem este abandono de mim mesma, de
convicções e passos estudados; queria-te mais uma vez, e sempre e sempre,
caminhando ao meu lado.
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