domingo, 28 de junho de 2015

A REALIDADE FICCIONAL QUE NOS FASCINA


O que é realidade? Eis a pergunta que vem me cercando desde que comecei a delinear este artigo. Nós, escritores, temos o péssimo hábito de inventar realidades outras que não esta – já bem complexa- na qual vivemos. De onde vem esta vontade de inventar outras realidades? Penso eu e hão de concordar, este é um hábito ancestral. Deve ser uma inveja do poder criador que atribuímos aos deuses. “Se eles podem, eu também posso” -pensou o primeiro inventor de histórias – “e vou fazer melhor do que o original!”
Antes de Guttemberg ou mesmo antes dos papiros, já haviam histórias sendo passadas adiante oralmente, de geração em geração. O ser humano não entendia a sua própria realidade, e para explicá-la, tentar decifrá-la e aplacar seus próprios medos, inventou outras. Assim nasceram lendas sobre a criação deste mundo; sobre moradas de deuses no Olimpo,  em Asgard, ou os Vedas, com todo seu panteão de deuses, e suas histórias; ou o Xintoísmo, para os japoneses. Obviamente todas as outras religiões – do antigo Egito, a Judaica, e depois a Cristã, a Islâmica- falavam e falam de outras realidades ficcionais. Gerações e mais gerações se pautaram – e se pautam- por estas ditas realidades, tentando alcançá-las, e serem dignos de pertencerem a elas! Sinceramente, é invejável não só a capacidade destes primeiros contadores de histórias, que tem um público fiel até hoje. Tanto quanto o é a capacidade do ser humano de transportar-se e acreditar em algo que não vê, não toca e não cheira!
Nós, humanos do século XXI, não somo tão diferentes assim dos nossos ancestrais. Me arrisco a dizer que nosso cérebro continua no mesmo estado de evolução, precisando sempre de uma realidade paralela para poder suportar a vida nua e crua. Ainda há aqueles que matam em nome de suas realidades – vide todas as brigas religiosas, ideológicas ou partidárias que presenciamos diariamente, com espanto e horror. Quer um caso de amor mais longo com a ficção do que a destas pessoas?
Podemos nos achar mais evoluídos, talvez, que estes nossos irmãos, mas temos fãs clube para Harry Potters, Sociedades do Anel, Nárnias, Heróis Marvel, príncipes e princesas, vampiros etc,e nos rendemos a estas realidades convincentes, sonhamos com elas, vivemos por elas.
O bom ficcionista nos encanta com uma realidade absurdamente verossímil, pois cria leis que a regem, convencendo nosso cérebro. Mas não basta para isto uma descrição detalhada dos locais e suas leis. Seja lá o mundo para o qual viajemos nas páginas de um livro, dentro de um filme ou nas palavras de um bom contador de histórias, só seremos convencidos da existência do que escutamos, vemos ou lemos se houver emoção! Se esta realidade puder despertar os nossos sentimentos, emprestaremos a ela nossos sentidos; veremos com os olhos da imaginação, sentiremos o vento, o frio o calor, experimentaremos sabores e texturas.

A arte de ficcionar a realidade, portanto, passará sempre pelos cinco sentidos. Nossa própria realidade só existe baseada neles. Portanto, ao escrevermos, contarmos uma história, não podemos esquecer de temperá-la com sentidos e com sentimentos. Não há Terra Média que sobreviva à falta de romance entre elfos e reis, ou ideais a serem alcançados por heróis, improváveis ou previamente designados. E não há realidade, ficcional ou não, que sobreviva sem sentimentos e sentidos.

(este artigo foi publicado a revista Plural "Solombra")
Foto: Dani Hiro, Irlanda.

quarta-feira, 17 de junho de 2015

NOVOS VOOS

Comunico a todos que a partir de ontem, dia 16 de junho, pedi desligamento do selo Scenarium Plural.  Não publicarei mais na revista Plural, nem meus textos e livros serão mais publicados por este selo editorial.
Foram dois anos de trocas e aprendizado. Sempre honrei a participação na Scenarium Plural com meu profissionalismo, pontualidade, presteza no que diz respeito a produção e edição de material literário, e sou grata por tudo o que aprendi nesta troca contínua de experiência.

Aos amigos e leitores que angariei nesta convivência, meu muito obrigada. E que me acompanhem em meus novos voos.

Blog Palavra Prima, é para lá que eu vou

Quem chega aqui deve perceber que as postagens estão cada vez mais escassas. O motivo real é a criação, há mais de dois anos, de outro blog,...