terça-feira, 2 de dezembro de 2014

CHUMBO TROCADO E OUTRAS HISTÓRIAS: MEUS CONTOS, NA COLETÂNEA RETRATOS

Meus contos serão lançados no dia 13 de dezembro de 2014, na coletânea “Retratos” , da Scenarium Plural. Edição limitada. Vale a pena conferir.

Autores convidados:

Ana Claudia Marques – Aurea Cristina – Claudia Costa
Emerson Braga – Lunna Guedes – Maria Cininha
Renata Penna – Tatiana Kielberman – Thelma Ramalho
Retrato - lançamento

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

COMPROMETIMENTO

Comprometimento. Você já ouviu falar nisto? É uma palavra pouco usada, pouco utilizada, e uma ação bem pouco vista nos dias de hoje. A falta de comprometimento pode causar vários efeitos indesejáveis, nocivos à saúde comunitária e individual. Comprometimento com causas estabelecidas de comum acordo geram amizade, simpatia, companheirismo, ajuda mútua, estreitamento de laços, quer seja de negócios, quer seja de amizade. Falta de comprometimento gera desavenças, noites mal dormidas, raiva, queimação no estômago, distratos, perda de confiança no individuo e no mundo, desalento...
            Pode soar desagradável, mas literalmente o que nos mata é a falta de comprometimento por parte das pessoas. Cada vez que nos comprometemos, esperamos das pessoas envolvidas uma postura de engajamento igual a que oferecemos. Quando isto não acontece, a quebra de confiança traz uma sensação de traição muito grande, pois percebemos que colocamos nosso tempo e energia em algo que deveria ser construído conjuntamente, para, ao final, carregamos tudo sozinhos.
            Infelizmente, isto é comum demais. Começa dentro das casas. Todos querem morar numa casa bacana, limpa, ordenada, mas sempre acaba sobrando pra uma pessoa todas as tarefas. Depois, dentro das escolas, onde o esforço acaba sendo de poucos, para que tudo funcione e o objetivo de aprender seja alcançado. Num patamar acima, é no emprego, onde sempre há os espertos que deixam suas responsabilidades atrasadas, acarretando mais trabalho para os que realmente se comprometeram a trabalhar,  e não só a marcar ponto na empresa.
            Há também a falta de comprometimento pessoal, como os pacientes que sabem que devem tomar o remédio, ou parar de fumar, ou fazer um número ‘x’ de sessões para melhorar de uma dor, e simplesmente esquecem o remédio, cancelam a sessão, ou continuam comprando o maço de cigarro. O terapeuta se compromete a ajudar o paciente, mas não há o envolvimento do principal interessado.
            Comprometimento é algo simples, e algo sério. Se eu digo: vamos nos ajudar mutuamente,  eu cumpro a minha parte, e não vejo nenhuma atitude de sua parte, a confiança foi quebrada. É como o vendedor que entrega a mercadoria para um cliente de confiança com a promessa de que será pago a seguir, e se percebe enganado, realmente roubado, no momento seguinte. E roubado duplamente: na mercadoria e na confiança.
            Imaginem, por um segundo, que todas as pessoas realmente cumprissem o que prometeram a outras! A sociedade seria melhor, a humanidade seria maravilhosa... as pessoas deixam rastros de insatisfação em suas casas, empregos, amizades, relacionamentos etc, exatamente porque só querem receber, e não querem dar.

            Por este motivo, as raras pessoas que aprenderam a dar, um dia se cansam, se fecham, e somem. Começam a pensar só em si mesmas, afinal, aprenderam com os melhores professores. Mas, como contrariam suas naturezas, acabam adoecendo, morrendo por dentro, e depois por fora. Acabam perdendo o comprometimento com si próprios, pois recebem, continuamente, uma só mensagem: comprometimento não é levado a sério... 

sábado, 27 de setembro de 2014

Nasceu meu novo livro de poesias "Pele, osso e um pouco mais", pelo selo Scenarium Plural. 
Os livros são com encadernação artesanal, tiragem limitada  - e numerada - de 30 exemplares, sendo que uma parte já foi vendida...
Quem tiver interesse de adquirir seu exemplar, corra, e peça e-mail Scenariumplural@globo.com


domingo, 24 de agosto de 2014

Ontem estive na Bienal Internacional do Livro de SP. Tarde de autógrafos na UBE - União Brasileira de Escritores - reencontro com amigos queridos, e fazendo outros, novos. Roda de poesia no estande da UBE, lançamento de uma amiga na Editora Biblioteca 24 horas...A Bienal lotada, mas o coração feliz, por poder fazer parte desta festa das letras.






domingo, 17 de agosto de 2014

Palavra Prima - novo blog

Amigos leitores, que me seguem por aqui, novidades na área: estou com um novo blog, chamado Palavra Prima, pela wordpress.  O novo link:
/http://anaclaudiamarques.wordpress.com/

Todas as postagens que temos aqui estão por lá. Aos poucos também estarei somente publicando as postagens novas somente pelo wordpress. Aproveitem para conhecer a série "pensantes".

Levem o carinho de vocês pra lá! estou esperando a todos!


VAMOS PARA A BIENAL DE SP?

A Bienal começa semana que vem, e eu estarei lá, com meu livro de poesia e as antologias das quais participo.
Houveram mudanças na minha programação da Bienal do Livro SP. Atualizando! Estarei lá nos seguintes dias:
- dia 23 de agosto, autografando no estande da UBE, N601, das 12 as 14:00 hrs. Depois disto, participando, lá mesmo, de um delicioso momento de reencontro com os escritores de Ribeirão Preto.
-dia 31 de agosto, autografando no estande da Editora Biblioteca24horas,  F698, das 12 as 14:00hrs, e depois? só Deus sabe!!
Todos convidados para “bandear” pela Bienal!


domingo, 13 de julho de 2014

CÁLCIO E BRANCURA

Em minhas mãos, duas conchas. Gastas, lisas, praticamente sem cor. De borco, mostram para mim de quantas camadas de cálcio depositado, ano após ano, são feitas. São espessas, pesadas, já não tem a metade que lhes completa, mas me encantam.
Já rolaram muito pelo mar, desgastaram-se nas ondas, na areia, de uma praia a outra, do fundo do mar para a beira das praias. As vejo, e imagino se fossem pessoas. Seriam aquelas que admiramos, inquebrantáveis, ante as vicissitudes da vida. Seriam pessoas cheias de rugas, ao final de suas vidas, mas de uma dignidade e alegria ímpares.
Há aqueles que gostam de colecionar conchas de diferentes formatos, diferentes desenhos, madrepérolas frágeis, mas estas se quebram tão logo o mar se revolta e as atira em direção às pedras... Se fossem pessoas seriam as que se entregam diante de qualquer problema, e não mais se levantam, ou aquelas cujo interior se quebra logo a primeira ofensa ou dor de amor.

Prefiro a integridade destas conchas antigas. Elas me lembram que o viço da juventude passa, as dificuldades sempre estão aí, por toda parte, queiramos ou não, mas se escolhemos passar com leveza, ainda seremos quem somos daqui a cinquenta, sessenta anos... como estas que miro em minhas mãos, ainda conchas, íntegras e fiéis à suas naturezas de cálcio e brancura.

domingo, 8 de junho de 2014

VERDADES, MENTIRAS


Saiba,


tudo o que eu falar

pode ser mentira.

a verdade é tua
a fala é minha
quem irá se importar?
a minha mentira
a tua verdade
vem do mesmo lugar...


sexta-feira, 6 de junho de 2014

quinta-feira, 5 de junho de 2014

ESSÊNCIA



Transbordaram palavras alheias... mais do que as
minhas. Vazei reticências por não saber completá-las! Fitei o vazio... permite o silêncio e assim me fiz infinita. Encontrei teus olhos nos meus - distancias interpenetradas, inexistentes - num átimo de segundo. Meu mundo naquele instante: alterado.

Referências perdidas, vidas atrás de outras vidas, e eu já não mais existia, não habitava o que sou; outro tempo me tomou de assalto. Reconhecimento de portais entreabertos, vazando sincronicidades. Saudades do que não sei, ocaso olvidado e querido, véus.

Mas o fato, o concreto, se alojou neste corpo alerta, ciente. Minha verdade não me salva, ela me alerta. Minha alma se põe em antigas vestes, em outro tempo, cabelos longos, um quente vento, no xale envolta. Mas você é presente. Entrelaçam-se as palavras, as reticências, o reconhecimento.

Daquele vento e tempo, não mais notícia. Destes teus olhos, marca de gado em minha alma, a consciência. Mil vidas passam, e nos entreolhamos. No antes e agora, a mesma essência.

O QUE NOS FALTA ou COMO NÓS SOMOS RIDÍCULOS

Diariamente pego meu filho na escola de carro, vindo do trabalho. Ruas de bairro, antes tranquilas, hoje são tomadas por congestionamentos cansativos, devido aos novos prédios que a prefeitura aprova, aumentando o contingente de moradores locais. Dizem que o progresso é inexorável, e até concordo, mas  sempre acho que ele deveria vir junto com uma boa dose de educação.
Me explico: as pessoas não se respeitam mais. Realmente somos a geração ‘do próprio umbigo’. Como numa selva, ou num destes ‘reality show’, é cada um por si, Deus por todos. Por este motivo, hoje eu usei um item aposentado em meu carro: a buzina. Meu filho até se assustou...
Da primeira vez, ao virar a esquina numa rua de duas mãos, sempre movimentada por dar acesso a um cruzamento importante. Havia três carros á minha frente, parados, e na mão contrária, uma senhora com o carro parado em frente a própria garagem, saindo, aos berros, do veículo. Sem visão nenhuma, pensei que houvera colisão, quando percebi que estávamos parados ali para que ela brigasse com o motorista do carro que não lhe deixara sair de casa. Evidente que o apressado motorista que vinha na minha mão preferira tentar passar rapidamente, sem esperar meio segundo para que a moradora saísse de sua casa. Ele estava errado. Mas quando a mulher desceu do carro para bater boca, parando o tráfego nos dois sentidos, ela perdeu a razão. E então eu buzinei, acompanhada por uma sinfonia. Eles saíram do meio, e para meu espanto, a rua estava toda livre. Eles haviam causado todo aquele transtorno devido aos egos inflados!
Segui em frente, cruzei a avenida e entrei no meu bairro. Logo nos primeiros quinze metros escutei a buzina do carro a frente. Pais parando em frente á escolinha dos filhos em mão dupla, numa rua onde mal passam os dois carros. Fui adiante; virei a esquina, e uma madame em seu carrão brecou no meio da rua, para comprar frutas de um vendedor ambulante. Parei eu, o carro que vinha virando atrás – quase batendo em minha traseira - e  outro que já virava a rua. A dondoca já baixava o vidro, para realizar as compras, quando eu usei, de novo, a buzina. Ela não se mexeu... usei novamente, amparada pelos outros carros. Ela então encostou o carro, e, ao invés de xingá-la, gritei: respeito com o próximo!!!


E é isto o que falta: respeito com o próximo, delicadeza com aquele com quem compartilhamos a rua, a calçada, o mercado... pessoas correndo para passar na frente de outras na fila, mesmo vendo que a pessoa já estavam se dirigindo para lá, como moleques. Escutei numa palestra de Dulce Magalhães, no sábado: “como nós somos ridículos!”. Assino embaixo. Somos mesmo. E selvagens. Fommm!!

segunda-feira, 26 de maio de 2014

INEXORÁVEL

No volante do carro, percebo as mãos ressecadas, as manchas senis se delineando. Os joelhos reclamam quando aperto os pedais neste trânsito infernal, andando a doze por hora numa das artérias principais da cidade. Provavelmente, enfartando, a antiga metrópole! E eu aqui, constatando que não estou muito melhor do que ela: desgastada, entupida – com certeza – por dentro, mas proclamando minha vida a cada respiração.
            Ao meu lado esquerdo, vislumbro árvores centenárias, Parque do Ibirapuera. A diferença das espécies: árvores tornam-se esplendorosas a cada punhado de anos que acumulam, e seus troncos ganham nódulos, vincos, que as enfeitam. Humanos decaem, perdem centímetros, acuidade visual, paladar para a boa comida; a musculatura diminui, e a pele sobra, rugas, vincos, marcas do tempo, nem sempre – quase sempre – desagradáveis.
            Meu compromisso exige pressa, mas minha idade grita calma. Ganhei, pela impossibilidade da eterna juventude, a virtude da paciência. Confesso, ainda sou impaciente, afinal o sangue quente grita em minhas veias, mas melhorei um bocado. Constatação dos outros, palavras alheias. Meu espírito continua com vinte anos, e não havia se dado conta dos silêncios que me tomaram nos últimos tempos, frente a tempestades dos outros. Antes trovoava junto, hoje aprecio o espetáculo nem sempre agradável.
            Novamente olho as minhas mãos. Um enfado toma meu peito. Por que, penso eu, o corpo não acompanha o espírito e estaciona na nossa melhor idade? Não precisaria ser aos vinte anos, talvez mais para frente, no auge do corpo, da libido, da beleza consciente... mas as mudanças se infiltram a cada dia – ou talvez a cada noite, quando nossa alma deixa o corpo á sua própria mercê.
            Recordo de momentos engraçados, quando perguntava a minha mãe por que meu vestido havia encolhido, aos sete anos; ou quando tentava omitir para mim mesma os pequenos seios apontando, como se pudesse continuar minha infância deste modo. Inconteste, o corpo tomou formas, e não sabia o que fazer com elas; as escondia em largas roupas, ombros curvados, cabelos caídos no rosto. Perdia-me em outros mundos, mais seguros do que este, entre palavras e traços, melodias e sonhos. Lembro de uma foto antiga, de maiô, que escondi por anos, me achando horrível. Ao resgatá-la, dia destes, olhei aquela bonita moça e pensei no desperdício com que nos brinda a ignorância da tenra idade.


            A realidade, o corpo, a madurez brindou-me com experiências, cicatrizes, cabelos pintados aqui e ali com o branco, e rugas de riso – ainda bem – ao redor dos olhos, e nos cantos da boca. Comparar não é a melhor atitude, mas as prefiro àquelas rugas que marcam cenhos franzidos pela eternidade, ou cantos de boca caídos, como um ríctus. Me pego rindo sozinha, e a moça do carro ao lado sorri para mim. Talvez pense que estou surtando. Talvez esteja. A idade nos tira certos filtros de ilusão, e a normalidade não nos acompanha mais. Chego ao meu destino, e isto não é muito. É só parte da jornada. Meu destino final, comum a todos que vivem, não chegou. Mas minhas mãos me lembram que a mão do tempo já vem me guiando para ele, dia a dia.


- este post é parte integrante do projeto “caderno de notas – terceira edição” do qual participam as autoras Ana Claudia Marques, Ingrid Caldas, Lunna Guedes, Mariana Gouveia, Tatiana Kielberman, Tha Lopes e Thelma Ramalho.

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segunda-feira, 19 de maio de 2014

AS CIDADES, O PASSADO

Pisava em falso.
Falso -
O riso, o gozo, até o brilho nos olhos.
Ficou ali,
Adormecida em seu canto,
Não cadáver,
Nem alma.
Apenas seu espanto
Em saber-se ali,
Como parte dos muros,
Dos velhos paralelepípedos,
Da antiga hera a pintar
As paredes das casas.
Algumas quadras a frente,
Numa antiga janela,
Olhos antigos
 - Cegos de lembranças –
Fazem arrepiar
Os pelos de quem passa.
E na viela estreita
Ainda se sente
O cheiro seco
De pobreza
E de cachaça.
Na praça nobre,
Fantasmas de senhoras
Com seus filhos e babás
Passeiam no paraíso,
Assim na terra
Como no céu.
E o pão nosso
De cada dia,
Vai sendo arduamente
Tratado,
Enquanto a velha padaria
Assa sonhos olvidados.

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segunda-feira, 12 de maio de 2014

VIAGEM E PAISAGEM

Sairia daqui em estado de graça, se pudesse discorrer sobre paisagens que minha retina não provou. Se pudesse sentir o vento quente dos desertos - dizem que é quente, que a areia entra até nos pensamentos, e que o calor penetra pela respiração – e se você pudesse senti-lo, ah! seria minha realização.
Mas do que posso falar eu? Das ondas que espiei desde menino, quando meu pai saia para pescar, naquele barco de um branco enfeitado de ostras e algas... das gaivotas que disputavam com os barcos os cardumes fartos, em rasantes fantásticos, me levando em suas asas prateadas... e da areia morna e úmida, em que meus pés afundavam.
O meu mundo é o limite de meu horizonte. O meu horizonte não é mais do que era aos navegadores de antigamente, um plano, até onde minha vista alcança, e depois disso? Brumas.
Escrevo para você com a esperança que paisagens lunares se levantem a minha frente, e possa transmiti-las com a força das palavras neste exato momento. Porém a melhor imagem que tenho delas é com um homenzinho vestido de macacão e capacete, fincando uma bandeira em seu dorso. E nem lhe sei a cor, textura, cheiro... como dizê-la para você? Como possuí-la, e assim poder dá-la, se não lhe sei em mim?
Tudo tão impreciso... minha mãe sonhava ver campos de lavanda. Guardava uma foto, recortada de revista, em seu livro de orações. Lhe demos um perfume de lavanda, coisa chique, comprada do turco da venda, e víamos o sorriso lhe brotar nos lábios cansados, quando colocava pequenas gotas do perfume nos pulsos e os cheirava... para ela, os campos de lavanda já lhe pertenciam, pois tinha o aroma e a imagem...
Das paisagens que me cabem, ainda sinto a maresia entranhada na pele e cabelos, nas portas e janelas das casas caiadas do vilarejo à beira da praia. Sinto o cheiro da terra seca levantando, quando um ou outro carro passavam por aquelas paragens, e escuto os latidos de meu velho cão, correndo atrás das rodas e das galinhas, criadas soltas por ali. Sinto o sol crispando minha pele, e o vento frio que vinha do mar no inverno.
Isto eu posso lhe dar, porque possuo em mim. E por isso lhe escrevo, porque é o que conheço. Se é o suficiente para ti, não sei, mas é desta matéria que sou feito, e se me queres saber, cá estou eu. Entregue. Dá-me o destino que desejares em ti, mas não te esqueças: somos um no outro, viagem. Eu em mim, e tu em ti mesma, somos nossa própria paisagem.

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segunda-feira, 5 de maio de 2014

BOLERO

Penumbra. Na mão enrugada, um copo com conhaque. A camisa para fora da calça, amarfanhada, os cabelos ralos em confusão, os olhos baços de bebida. Ao seu lado, no sofá de couro velho, um porta retrato. Foto antiga. Nada de máquinas digitais ou Polaroid. Filme, 24 poses, asa 400, para dia e noite com a perfeição das cores da natureza. Ele olha a foto, esmaecida pelo tempo, e sorri com o canto do lado direito do lábio. Acaricia o vidro do porta retrato, como se outras sensações menos frias pudessem ser reavivadas.
Levanta do sofá. Vai em direção a eletrola, e coloca novamente o LP para tocar. Velhos boleros, imortais. Sim, eles, pelo menos. Trini Lopes começa a cantar, afinadíssimos, outros tempos, pensa, eram outros tempos e éramos outros, também. Mas Trini Lopes não era imortal, acho que todos, todos morreram. Ao pó retornarás, prometeram as escrituras. Realmente. E por que eu, ainda aqui?
Volta para o sofá, e acende uma luz, antes de inclinar-se para pegar o porta retratos. Olha o rosto ali eternizado. Sofia. Sofi. Sua Sofi. Passa as mãos nos olhos, como se quisesse acordar. O conhaque ainda está no sangue, e lhe entorpece os sentidos. Decide ir para o quarto.
Cama vazia, desta vez. Ele deita. Sofi, Sofi. Por que? Tira o sapato de couro envernizado, desce a calça do terno usado há pouco, e se cobre, encolhido. Pega o travesseiro ao lado. Ainda tem o cheiro dela. Recorda de seu sorriso, moça, dentes alvos, meio tortos, mais parecia uma menina. E quando lhe anunciou que estava grávida, feliz. Ele também, claro. No casamento do filho, único rebento, suas feições já desgastadas pelo tempo ainda eram belas. Segurou sua mão com força, lembrava, enquanto caminhavam pela nave da igreja.

E quando dançavam, ah, Sofi! Sabia acompanhá-lo como ninguém, e amava ouvir e dançar boleros. “Pasarán mas de mil anos muchos más...” ... e ainda vou levar o teu sabor. Pena que o sabor amargo de suas confissões, nos último dias, sobrepujassem o da dor pela sua perda, pensa ele. Pena ela ter morrido para ele no instante em que declarou que amara outro por toda uma vida, com medo de morrer sem perdão por suas mentiras. Ele não achou que fosse matá-la duas vezes, quando a sufocou, dormindo, com o travesseiro. “…Que yo guardo tu sabor, pero tú llevas también sabor a mí…” A música para, na sala. Ele cerra os olhos, e chora.



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quinta-feira, 1 de maio de 2014

O FANTASMA DA FOLHA EM BRANCO

Cá estou eu. Até cinco minutos atrás, milhões de ideias fervilhavam em minha mente. Agora, olho para esta tela de computador, tal qual as minhas folhas sulfite em branco, quando eu dedilhava minha Olivetti (máquina de escrever, muito prazer). Mudam os instrumentos, mas não a falta de argumentação...
Resolvi que seria escritora com meus nove anos de idade. Pedi uma máquina de escrever portátil de natal naquele ano. Tinha certeza que com a máquina na minha frente, me atiraria com fúria naquelas teclas, colocando todas as ideias malucas e histórias que me passavam pela cabeça no papel. Lembro-me vagamente de um parágrafo iniciado, folha arrancada, outra folha no lugar, e as palavras se dissolvendo em letras, e histórias inteiras se caracterizando como ideias ridículas, toscas, sem pé nem cabeça, e a máquina sendo usada, ao fim de tudo, para trabalhos escolares. Continuei fazendo poesia pelos anos afora, pois não havia necessidade de criar uma história, somente escrever, elaborar o sentir, e pronto.
Retomei meu projeto literário há uns quatro anos, mas já com ares de modernidade. Em lugar da Olivetti, um Notebook. Afinal, tinha que modernizar minha máquina de escrever.
A primeira novidade boa é que não precisava mais do “branquinho” — corretor ortográfico manual, da era pré digital — e as palavras que digitava erradas, na pressa de registrar a inspiração, ficavam gritando no texto, sublinhadas em vermelho.
A segunda boa novidade é que não precisava jogar papel fora, era só apagar no texto e começar de novo. Meu lado ‘Partido Verde’ já ficou mais feliz, colaborando com a natureza (até me questionar aonde iriam parar as baterias velhas do notebook...).
Daí para frente, iniciei meu ‘livro’, contando uma história. A história tinha uma personagem. O livro travou no meio. Fui tentar relê-lo, e eu mesma comecei a pegar no sono. Percebi que não havia uma história ali, mas uma série de fatos. Faltava a ligação entre um fato e outro, para se tornar uma história. Engavetei o livro. E cá estou eu. Diante da folha em branco, tentando escrever algo que preste. Se pudesse dar alguma dica para quem escreve, o que eu diria? Primeiro, diria que escrever um livro de primeira é ficção científica, igualzinho filme em que os amantes não se desgrudam a noite toda. Isto não existe na vida real. Talvez para o sexo, depois do viagra. Mas para escrever, ainda não descobri nenhum remédio.
Outra coisinha fofa que venho aprendendo, dando cabeçadas, é verdade, é que inspiração e criatividade são importantes, mas noção de técnica literária é fundamental. É mais ou menos como imaginar um vestido, comprar tecido e linha, e tentar fazê-lo sem saber sequer cortar o pano com um molde. Já imaginou? Afe, eu não vestiria se fosse você...
Quando escrevi o meu ‘primeiro livro’, achei que ele estava perfeito. Passado algum tempo, percebi que ‘viajar na maionese’ não significa escrever um livro. Meus leitores poderiam se imaginar náufragos á deriva, pois não conseguiam saber, a partir do começo da história, aonde ela os iria levar. Então, pronto, falei: história tem que ter princípio, meio e fim, e de preferência, com pé e cabeça combinando.
Ah, e deem-me licença, vou voltar agora para minha folha em branco. Fui!

* texto escrito e publicado originalmente na Revista Plural - edição cafeína na veia/março 2014 que pode ser lida em www.pluralrevista.blogpsot.com 

UM JESUS DIFERENTE


A vida, de histórias feita,
Pode ser escrita e reescrita.
Mesmo na história de Jesus,
Fiquei eu aqui pensando,
Será que passados tantos anos,
A escrita é verdadeira?
Monsenhor falou de um tanto
Que ele era homem como nós,
Experimentando a humanidade,
Seria então verdade
Depois ter ressuscitado?
Do período que não foi contado
De sua breve vida,
Teria ele viajado, estudado,
Conhecido mulher ou rapariga?
Como seria este Jesus humanizado?
Terá amado, terá pecado,
Antes de dar-se conta
Da própria iridescência?
Terá sido na Índia educado,
Tornando-se um iogue bem treinado,
Sob a supervisão de seu pai,
José, não carpinteiro,
Mas guardião de grandes mistérios?
Terá sido este o seu segredo?
Terá incitado a turba, com seu modo
Que parecia arrogante, de tudo saber,
Levando a que fosse crucificado
Para mais uma vez desaparecer?
Seria seu pai José, já então dado como morto,
Aquele de Arimatéia,
Agora, na realidade,
abastado guardião,
a lhe proteger a identidade,
após a remoção do corpo
do jovem
dado como morto?
Teria Jesus o controle
Do iogue
Para nada sentir, deixar seu espirito
Ir, e simular a falência de seu corpo,
Dando a José a deixa
Para levá-lo
Como corpo morto,
A fim de reanimá-lo somente?
Teria este homem, sábio e amoroso,
Lhe cuidado das feridas,
Criado a história
Pelas Marias espargida,
A fim de confundir o povo
E continuar o missionamento
Daquele a quem chamavam Jesus?
Quem era Maria, então,
De linhagem tão importante,
Para dela sair o Salvador?
Quantos mistérios este homem trouxe,
Com os seus ensinamentos...
Terá se ido em outro jumento,
Após sanadas as feridas,
(As chagas com que seguiu,
Pelo resto de sua vida)
Pregando conforme os costumes,
Dos lugares onde viveu,
Com nomes tão diferentes,
Ou parecidos com o seu...
Terá sido acompanhado,
Por Arimatéia, seu José mentor,
Que lhe preparou a consciência
Para suportar a dor,
E ser dos povos o Salvador,
Também em terras diferentes?
Quem me pode responder?
Certamente não o Monsenhor,
Pois sua imaginação,
Apesar das cãs embranquecidas,
Não é tão grande quanto sua idade...
E não cometeria a insanidade
De profanar a história
De seu Senhor!
Mas eu, que do mundo,
De histórias e religiões,
Já conheci umas centenas,
Posso ligar fatos e pessoas,
Só com o correr da minha pena!
Não cometo erro nem pecado,
Pois quem sabe mesmo
Do que ocorreu no passado?
Nem mesmo os que escreveram,
Pois muitos anos já haviam se passado,
Quando evangelhos regulares
Contavam com tal veracidade
Das fraldas de Jesus,
Dos anjos que não viram,
E de fatos que não presenciaram.
Pois se eles contaram,
Eu também posso contar,
Pois na arte do invento
Vive o escritor a mourejar...

 * texto escrito e publicado originalmente na Revista Plural - edição digital abril de 2014 que pode ser lida em www.pluralrevista.blogpsot.com 


quarta-feira, 16 de abril de 2014

RECONHEÇO

Lendo linhas estrangeiras reconheço amores perdidos nos desvãos das palavras. Linhas soltas, mas inegavelmente, confissões de desejos que não poderiam ter sido. Dá vontade de abraçar estes amantes e dizer: sejam!
Sinto um nó na garganta imenso, como o que sentiram estes amantes, que dentro de suas regras e verdades, se privaram do afago mútuo. Sinto o vento passar entre os dois corpos, completando o vácuo do abraço que faltava, interpenetrando carnes, desejos, suores. Sim, sinto em mim.
Percebo em cada palavra, cuidada para não revelar, a transparência do desejo de cada vivente, da sede da boca do outro, da espera do aconchego e do corpo. Sinto a elegia ao passado, tentando fazer doce o presente, dar-lhe mais colorido ou significado. Percebo a provocação, a tentação, e choro por todos os que não foram. Enrubesço.


Lendo linhas estrangeiras reconheço minhas próprias linhas, e a de todas as gentes que pisaram a terra. Pois a dor do outro já foi nossa, e se não foi, ainda será. Não é praga, nem desejo, é fato. Admitir a nossa fortaleza, ao perecer e renascer, para um novo ato, é capacidade de poucos, verdadeira nobreza. Proclamar aos quatro ventos, não é necessário, mas pelo menos, no interior de nosso sacrário... 


domingo, 6 de abril de 2014

terça-feira, 1 de abril de 2014

Faço aqui o convite: amanhã darei entrevista 
para a apresentadora, coacher e escritora 

Noscilene Santos.


Como você se imagina escrevendo um livro? inspiração, criatividade, técnicas, planejamento… o que é necessário para o desenvolvimento de uma obra de qualidade? Ana Claudia Marques Onish, terapeuta e escritora, vai compartilhar a sua experiência em A Hora do Coaching, próxima quarta, 02, às 9:30 na http://www.tvgeracaoz.com.br


Acesse também o blog da Hora do Coaching,

 http://ahoradocoaching.wordpress.com/2014/03/30/desenvolver-competencia-de-autor/#respond

Vem comigo!

terça-feira, 18 de março de 2014

A ESCRITORA

E eu,
Que me encontrei
Dentro daquele silêncio
Presenciei tua alma antiga
Empunhando um tinteiro
Que te remetia
A outra vida,
Outros tempos
E outros lugares.
Pressenti
Dores e estranhamentos,
Mistérios sem nome,
Porque nomeando-os
Poderia revela-los.
Saturno
Mudou de órbita
E por isso
Tú, alma antiga,
Caminhas
Empossada de um corpo,
Entre os viventes.
Te prendes às letras,
Aos livros;
Frases soltas
Encalhadas em ti.
Alma alimentada,
Mas nunca saciada
Com as brumas de sonhos alheios.
Pertences ao abissal,
Ao silêncio,
Camélias antigas
E bucólicas paisagens.
Teu espírito
Encontrou calma
Na companhia de outro
Que ternamente
Te compreende.
As cortinas do tempo
E do espaço
Abriram e reabriram
Umas tantas vezes
Até que se encontrassem,
prometidos que estavam
a caminharem juntos.
Cada qual amparando
O outro,
Mas respeitando
Sua particular

História.

segunda-feira, 3 de março de 2014

SAMBANDO PARA APRENDER A VIVER

                Um viva a flexibilidade de pensamento. Um viva a alegria de experimentar coisas novas. Não fosse graças a isso, não teria vivido algo diferente neste carnaval. Momento em que as pessoas se declaram avessas a esta festa, por tantos motivos de cunho pessoal, religioso, moral, intelectual e nem sei mais quantos outros, resolvi passar por cima de meus próprios preconceitos e reexperimentar o carnaval. Reexperimentar, sim, pois quando menina e adolescente adorava pular carnaval nas matinês do clube. Sabia, e sei, todas as marchinhas de carnaval. O que me fez considerar o convite de meu esposo, para desfilarmos no carnaval de São Paulo, na ala da comunidade de duas escolas: Tom Maior e Estrela do Terceiro Milênio.
                Vale dizer que nestes últimos anos tenho buscado viver mais, me divertir e aproveitar cada momento que me cabe nesta vida que Deus me deu. Minhas atitudes contagiaram os outros membros da família, e meu marido, antes um workaholic inveterado, aprendeu a levar a vida de forma mais leve. Imaginem um japonês te convidando para entrar no samba? Pois foi o que aconteceu... eu que surpreendia a todos, fui surpreendida desta vez. A maratona começou com os ensaios no Sambódromo, nos meses de janeiro e fevereiro. A integração dos participantes, o objetivo simples de se divertir e tentar levar a escola a uma boa colocação no carnaval, e a organização que permeia toda esta diversão me surpreenderam.
                Mas nada me preparou para o dia em que fui buscar as fantasias que iríamos usar. Brilho, belos adereços, detalhes primorosos me deixaram de boca aberta pela semana que antecedeu o carnaval. Meu escritório converteu-se em quarto de fantasias, e todos que chegavam queriam vê-las. As duas, douradas, me remetiam aos sonhos que a gente tem em criança, de vestir fantasias dos personagens de livros. E lá estava eu.
                Decorados os sambas-enredo, aprendido o passinho simples para quem não samba, fantasias vestidas, com costados, ornamentos de cabeça, não éramos mais indivíduos, mas parte da comunidade. Pessoas que trabalham todos os dias do ano, e querem participar do carnaval como protagonistas do espetáculo, sabendo-se importantes pelo simples fato de disporem de seu tempo e do seu corpo para empunharem fantasias como bandeiras, e defenderem suas escolas como quem defendem dogmas, posições absolutas. A paixão é evidente nos olhos de todos. São frentistas, empregadas domésticas, terapeutas, diretores de escola, merendeiras, cobradores de ônibus... são arlequins, orixás, animais, passistas, artistas aplaudidos por outros artistas, durantes os dois quilômetros do Sambódromo, desafiando o seu próprio cotidiano, o seu lugar comum. Superam-se, e trazem beleza, alegria, emoção para quem vê aquele espetáculo. E também para quem participa pela primeira vez.

                Todas aquelas pessoas com quem convivi nestes dias me trouxeram novamente a certeza de que somos tão iguais, tão iguais... vivemos de nossos sonhos, e eles nos fazem acordar todo dia, passar por obstáculos. Se meu sonho é escrever um livro, ser presidente de uma empresa ou desfilar na passarela, realmente não importa. Se eu sou branca, negra ou oriental, qual a minha orientação sexual, moral ou religiosa, também não importa. Somos iguais, vamos sempre atrás do que nos faz vibrar. Desta vez, aprendi a viver da forma simples. E percebi que aí também residem os sonhos, e estes sonhos simples podem nos surpreender com sua beleza.         




Blog Palavra Prima, é para lá que eu vou

Quem chega aqui deve perceber que as postagens estão cada vez mais escassas. O motivo real é a criação, há mais de dois anos, de outro blog,...