Lendo linhas
estrangeiras reconheço amores perdidos nos desvãos das palavras. Linhas soltas,
mas inegavelmente, confissões de desejos que não poderiam ter sido. Dá vontade
de abraçar estes amantes e dizer: sejam!
Sinto um nó na
garganta imenso, como o que sentiram estes amantes, que dentro de suas regras e
verdades, se privaram do afago mútuo. Sinto o vento passar entre os dois
corpos, completando o vácuo do abraço que faltava, interpenetrando carnes,
desejos, suores. Sim, sinto em mim.
Percebo em cada
palavra, cuidada para não revelar, a transparência do desejo de cada vivente,
da sede da boca do outro, da espera do aconchego e do corpo. Sinto a elegia ao
passado, tentando fazer doce o presente, dar-lhe mais colorido ou significado. Percebo
a provocação, a tentação, e choro por todos os que não foram. Enrubesço.
Lendo linhas
estrangeiras reconheço minhas próprias linhas, e a de todas as gentes que
pisaram a terra. Pois a dor do outro já foi nossa, e se não foi, ainda será. Não
é praga, nem desejo, é fato. Admitir a nossa fortaleza, ao perecer e renascer,
para um novo ato, é capacidade de poucos, verdadeira nobreza. Proclamar aos
quatro ventos, não é necessário, mas pelo menos, no interior de nosso
sacrário...