sábado, 21 de setembro de 2013

LUA

        Não gosto de falar da Lua, porque há muito tempo os poetas se ocupam dela. Mas me descuidei, e cá estou eu, falando deste satélite que nos olha de longe, nos vigia e nos rege, senhora das águas, das marés, dos ciclos das mulheres, da fertilidade, da hora de plantar e de colher...
        A Lua, que antes de tudo foi minha casa, quando ainda era astronauta, menino perdido entre naves, nuvens, e imensas possibilidades de voar e respirar no espaço. Não lhe finquei bandeiras, como o astronauta americano em foto famosa, não lhe recolhi pedrinhas, para lhe estudar a composição. Só a chamei de minha, pelo simples fato de nela habitar, dentro da possibilidade ilimitada de meu imaginário.
        Depois cresci, e a Lua foi a inspiração para a cartinha para a primeira namoradinha. Nada de Vinicius, “se você quer ser minha namorada...”, mas uma completa identificação entre os meus dois amores de então. A Lua não me auxiliou muito na conquista, parece que a garota gostava mais dos Bee Gees ou coisa que o valha, e fiquei então assim, sidéreo, e sozinho.
        Esqueci da Lua durante meus anos mais práticos, objetivos, cartesianos. Oras, somente um astro, justificava. Parei com o sentimentalismo, e de olhar para o céu. Havia mais o que fazer aqui embaixo, pensava, e corria atrás de algo que não sabia, mas deveria ser importante, visto que todos também corriam atrás.
        Ultimamente, porém, percebi que corria atrás de ilusões, e tão mais fúteis do que ser um astronauta! Comecei a reparar de novo no céu, acompanhar as fases de minha amiga antiga pela janela de meu quarto, com as luzes apagadas para que ninguém percebesse. Voltei até a suspirar, sem querer.

        Mas hoje fui totalmente submetido ao poder deste astro, quando vi sua imagem refletida, assim, tão magicamente, e tão próxima, nas águas do mar. Eu, que sempre vi o mar como amigo, tive ciúmes de sua proximidade com a Lua. Mas, pensei: ela é impossível, sedutora, controladora, tão e sempre femmina, como resistiria a ela o mar? E agora, agora, estou eu aqui, a lhe contemplar...

terça-feira, 3 de setembro de 2013

DIA GRIS

         Começo este dia como nenhum outro. Nunca vivi este dia, ouvi esta melodia, reparei naquele pássaro... a falta de juventude no corpo, aquilo a que chamam idade  que passa, nos traz, se quisermos, juventude na alma. Pois quando jovens, somos tão velhos! Cheios de preocupações, despedidas que a nada nos levam! Perdemos o que está a nossa frente, buscando o que ainda não nos pertence.
         O tempo passa, e vemos a pouca importância disso tudo. Percebo hoje o quanto perdi tentando ganhar, e quantas vezes ganhei, certa de que perdia. Tive segunda chance na vida, e a ela me agarrei. Meu espírito é velho, antigo, mas não acabrunhado. Não apagado. Hoje ele brilha mais do que nos meus vinte anos, quando namorava com a melancolia. Quando achava que ser triste era a arma do poeta.
         Hoje bebo mais vinho, canto mais sozinha, danço sem vergonha de ser pesada e grande, pois sei que o pior é não dançar, não beber, não cantar. O pior e não ter vontade de viver. O pior, e é clichê, é não estar vivo quando se está respirando.
         E por isso, somente por isso, meu dia começa leve, gris, como quis o poeta. Mas é somente pano de fundo para minha alma passarinha, que sempre procura a liberdade nas manhãs, quando outros pássaros cantam na copa das árvores, chamando para que se veja que há vida fora das gaiolas que tecemos em nosso entorno. Minha alma passarinha deseja a todas as outras almas bom dia...

Blog Palavra Prima, é para lá que eu vou

Quem chega aqui deve perceber que as postagens estão cada vez mais escassas. O motivo real é a criação, há mais de dois anos, de outro blog,...