O aroma do pão rescendia pela casa. Em um dia de “tia Anastácia”, resolvera colocar a mão na massa, literalmente. Farinha, grãos de trigo, ovos, leite, fermento...tudo fora devidamente amassado, amalgamado, até formar aquela massa perfeita, desgrudando da mão, que fora então posta a crescer, no milagre da multiplicação que só um bom fermento pode fazer.
Enquanto fazia o pão, pensava em tudo o que este representava. Era o alimento do corpo; na missa, o pão repartido era o pão do espírito. Para alguns, era prosperidade; para ela, era realização.
E o pão se espalhava pela casa, com seu cheirinho tão bom, pedindo uma manteiga em cima e uma xícara de café fumegante como acompanhamento. Aos poucos, os viventes foram chegando, trazidos pelo aroma que apontava para a cozinha.
O filho mais novo já pedia um pedaço; a mais velha relutava em declarar-se faminta. A sua natureza belicosa em relação a mãe e suas produções foi dobrada pela aparência convidativa. Logo estavam todos em volta da mesinha da cozinha, com o passarinho da família piando, querendo participar da festa.
Aliás, o periquito era um caso a parte. Criado solto pelo apartamento, sofria de ilusões de ser passarinho francês, e queria estar sempre em cima da mesa, imaginando que sobraria alguma migalha de comida para ele.
Voltando a cena, era tão raro ver todos em volta da mesa! Um queria ver televisão enquanto comia; a outra mal comia em casa. Normalmente era só a mãe a utilizar a cozinha, fosse para preparar as refeições, fosse para comer sozinha. Os três riam, os dois irmãos conversavam e brincavam; a filha começou a contar os sentimentos e acontecimentos recentes, os sonhos. Neste momento a mãe viajou novamente para o significado do pão: pão da vida.
Naquele momento aquele era o pão da vida, o pão que devolvera a comunhão daquela família. E como aprendera anos antes, o fazer do pão a transformava, e aos seus também. Pequenos milagres diários.
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