quinta-feira, 28 de março de 2013
MINI MINI CONTO
Notícia em algum país ao norte do equador: homem é encontrado morto, congelado em frente ao computador. O aquecimento estava desligado. No rosto, um sorriso. Na tela do computador, "YOU WIN! GAME OVER."
sábado, 16 de março de 2013
HA QUE SE CUIDAR
Há que se cuidar, com zelo, de todos os nossos
antigos malfeitos. Sim, todos aqueles que bailam em nossa memória, repletos de
odores, tatos, arrepios e calores; todas as mordidas nas entranhas de prazer ou
de terror; cada olhar que nos chegou, cada cor, cada cena.
Há que se cuidar, com zelo, para que não cheguemos
á perfeição. Sim, a perfeição de pensamento, sabendo que não mais existem
ilusões, nem vida após morte, nem vida durante a vida. Tudo torna-se tão
insosso, sem um segredo que nos leve para o diabo que nos carregue! Portemos,
guardado em algum bolso, uma carta perdida, um pedaço de tecido velho, uma foto
escondida, para que o passado venha, assim, alegro ma non tropo, colorir o presente
insosso.
Há que se cuidar, com zelo, para não perdermos as
sensações que nos foram caras. Escrevamos em todos os textos, a cada mil dias,
para que, ainda que se passem mil anos, aqueles que lerem possam dizer: aquele
ali, olhe, foi marcado por tal fato, presente do primeiro ao último ato.
Há que se cuidar, com zelo, de toda e
qualquer reação que haja marcado o
corpo: o toque que trouxe o arrepio, o hálito que chegou tão próximo, mas não
tornou-se beijo, o olhar profundo que fez subir calor pela espinha, a carícia
pedinte a pedir carícia. Há que se cuidar para que não descuidemos dos pecados,
pois já há mais de trezentos e sessenta e cinco santos espalhados para devoção,
e outros tantos mártires esperando para serem dignos de oração.
Há que se cuidar, enfim, da nossa humanidade, dos
nossos antigos malfeitos, das nossas querências, dos nossos pecados mais
secretos, dos textos, hieróglifos, ainda a serem descobertos. Porque ainda
escuto sinos repicarem enquanto leio poemas, e me esbofeteiam a face com
palavras de amor que não cri.
quarta-feira, 13 de março de 2013
PRESENÇA
Ante
a tua presença, não discuto; não há tempo para falas, papéis, enrroscos tais que
nos percamos em palavras. Tua realidade me traz a vida, ação, momento. Sabes?
Viver sem ti é viver sem ar; é ser acometida de uma sensibilidade a todas as
naturezas, isolar-me do mundo, não poder tocá-lo.
Ante
a tua presença, meus sentidos aguçam; não há espera, não há repouso, não há
meio termo. Sentir e agir tornam-se uma só coisa, um só esforço, sem forças
para dizer não. Deixo lá fora a pudícia, os costumes bem guardados, e só peço
que o sentimento não se perca, perpetue-se em si mesmo, num moto-contínuo.
Há a antítese disso tudo; tua falta, tua ausência
impressionantemente dura, pesada. Pedaço que se foi de mim, sem que eu sequer
concordasse. Minhas ideologias e meus atos nem sempre caminham juntos de
fato... tão independente em tudo, me vejo amarrada ás nossas memórias tantas,
ao nosso comprometimento torto. Quando não te tenho ao alcance, és meu anjo
morto, e o peso de tuas asas me afunda...
De
encontros e desencontros, presenças e ausências, construímos nosso particular
mundo. No abraço, a volta do calor aos corpos. Do despregar-me de ti, o contar
das horas até a próxima respiração, onde teu perfume anunciará minha
ressurreição. E recolherei migalhas do teu afeto, provas de tua existência,
para que não duvide do que somos quando nos temos, na hora do nada, da tua não
presença; ausência seria se não estivesses comigo na lembrança, viste? Então é
não presença mesmo.
E
sigo adiante, qual o dia que vem depois da noite, apreciando o ciclo de ter e
não ter você comigo. Sim, apreciando, pois a ausência é o tempo de avaliar importâncias, querências, atinos e
desatinos. Avaliar lembranças, sonhos, e essa falta de ar que continua me
tomando. Sim, apreciando, pois na tua presença, o que veio antes não importa, o
que virá depois também não.
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