Felicidade! estarei na antologia da União Brasileira de Escritores com a Global editora, participando com uma poesia. Muito me orgulha, pois estarei cohabitando este espaço com autores nacionais de peso. para saberem mais, acessem o link.
http://www.ube.org.br/noticias-detalhe.asp?ID=816
terça-feira, 27 de agosto de 2013
sexta-feira, 23 de agosto de 2013
DONA BRANQUINHA

Perdida em meio aos meus ais, me sento no alpendre da casa
antiga com sempre renovada disposição de sofrer por ti. Sim, pois que
envelheci, assim, seca de amor, esses caminhos em minha face, esses meus
cabelos rajados de branco, nunca mais cortados desde o dia que te vi partir
prometendo que voltarias. Minha trança conta os anos de lonjura em cada nó, e
eu fico aqui, só. Poderia ter sido avó, antes poderia ter sido mãe, se tivesses
me possuído.
Mas cá estou eu, perdida em meio aos meus ais, colo vazio, ventre
improdutivo, perdido para o destino das mulheres. Que prazer tive eu, que pouco
ou nada tive de você? O prazer imaginado das moças antigas dos interiores, onde
recato era moeda de troca no mercado vigente... o prazer de poder andar de mãos
dadas contigo, em tardes perfumadas pelos jasmineiros em começo de primavera, o
prazer de poucos beijos roubados, assim, na curva antes de chegar ao muro da
casa, quando um olhar rápido nos assegurava a ausência de um vigia.
Lembro-me de teu sorriso franco, de tuas declarações, hoje
tão infantis, nas cartas amareladas que guardo no fundo de minha gaveta. Lembro
do frio que corria minha espinha quando me enlaçavas para dançarmos, em nosso
bailes interioranos. E minha caderneta de dança era só tua... hoje danço
sozinha, e pouco me importa se me vejam. Já estou na idade da senilidade, que
pensem o que quiserem.
E aqui, perdida em meio aos meus ais, me vejo na plataforma
do trem, me despedindo de ti. E vejo teu olhar brilhando, teu sorriso triste, e
escuto tua promessa. Será que realmente aconteceu? Não posso precisar, pode ser
o vinho, pode ser minha vontade de que realmente tivesse acontecido... as
lembranças já nada são, que importa se criadas ou vividas? Me contento com
elas, revivo, sinto novamente, remoço por dentro.
Mas não voltaste. Lembro de pessoas chegando aqui nesta
casa, neste alpendre, me chamando. Lembro... de não lembrar de mais nada. Não sei
quem te levou, não consigo lembrar como partiste. Não houve corpo para velar,
nem missa de sétimo dia. Pus teu nome nas intenções da missa, e enlutei. Do teu
amor fiquei viúva. Mas vesti branco, a cidade estranhou, minha família
estranhou. E eu disse: de negro já vai a noiva Morte, com ele. Eu sou a amante,
e de branco eu vou.
E hoje dona Branquinha eu sou. Perdida em meio aos meus ais,
cartas antigas e nós no trançado, como os das árvores, dando a data, a precisão
do amor que ficou em mim. Neste velho alpendre, uma certeza eu tenho: do teu
amor antigo, constante e amigo.
GAIJIN
Somos estrangeiros.
Imagem desfocada
Na paisagem do país
Em que vivemos.
Diferentes,
Face, corpo,
Pensamentos.
Um estrangeiro em seu país:
Jardim de rosas de sua casa.
Um estrangeiro no estrangeiro:
Pedra, cinza, pinheiros, templos.
O escuro dos templos
Combina com branca pele,
Cabelos de ébano
E olhos rasgados,
Discretamente cinzelados
Com riqueza deslumbrante.
O estrangeiro combina
Com cores, vida, liberdade,
A não-domada consciência.
De tudo, a essência
É a mesma,
Mas alteram-se as formas,
Elaboradas
A partir do vivente espaço.
segunda-feira, 5 de agosto de 2013
UM VELÓRIO EM FAMÍLIA ou COMO TEU RISO FARÁ FALTA
Hoje
voltei do velório de meu tio, irmão mais novo de meu pai. São Paulo é grande, e
a família está espalhada, então as ocasiões de encontro acabam sendo
casamentos, nascimentos e falecimentos. Não somos do tipo de família que se vê
sempre, mas sempre que todos se juntavam, este tio, o terceiro dentre quatro
filhos que minha avó teve, se destacava por estar sempre fazendo a todos rirem.
Acho
que isso vem desde o nascimento. Minha avó já tinha dois garotos, e sonhava em
ter uma menina. Quando engravidou pela terceira vez, tinha certeza que vinha a
sua garotinha, e fez um enxoval todo cor de rosa. E aí, meu tio Clélio
nasceu...
Sei,
pelas histórias que minha avó contava, que ele foi o único dos filhos que aprendeu
um instrumento musical. Também foi o primeiro a sair de casa, arvorar-se a ser
feliz sozinho. Do mais, sei que se casou com a mulher que continuou amando por
toda vida, por ser tão divertida quanto ele, e com quem teve quatro filhos.
O que
interessa são os momentos de encontro. As lembranças que eu tenho, desde menina,
eram de um tio que adorava fazer um churrasco para todo mundo, contar piadas –
e fazer piadas- de tudo e de todos. Contava piadas em casamentos e em velórios,
não nos deixava chorar, nem ficarmos sérios. quase perdíamos a compostura, tentando não explodir em gargalhadas. Falava com aquele sotaque
inconfundível de filho de italiano, e cantava paródias até de ponto de
terreiro...(quem não lembra, na família, do ‘xuxu da meia noite’?).
Hoje,
no velório, fiquei pensando nas palavras que usamos quando alguém morre. Uns
dizem que faleceu; outros dizem que desencarnou; outros dizem que foi para o
seio do Pai; e eu gosto de dizer como na religião japonesa do meu marido: que a
pessoa ‘retornou’. Ela foi de viagem, mas numa perspectiva que aqui era a
passagem.
Ele foi
rapidamente, e fazendo o que gostava: assistindo um jogo de futebol do Timão,
fidelidade herdada do meu avô ao Corinthians. Tinha se preparado para sair, e
eu acho que ele se preparou bem para o seu ‘retorno’. Ele acreditava, tanto
como eu, que a vida muda de estado, e estamos às vezes na
carne, às vezes no espírito, mas sempre num eterno ir para algum lugar.
E,
finalmente, eu senti falta de algo que sempre presenciei em todos os velórios
de nossa família, e que nesse, eu não vi: ninguém soube fazer-nos rir hoje, não
ouvi ninguém contando piadas... é, realmente o tio vai fazer falta aqui. Mas,
com certeza, deve estar fazendo rir a quem já está do lado de lá.
meu tio, de 'pai da noiva', fazendo o que sabia de melhor: sorrir. |
quinta-feira, 1 de agosto de 2013
TEMPO CRISTALIZADO
Campos de lavanda ainda irão me envolver.
Tempo cristalizado e imortalizado
Numa foto,
Onde estarei sorrindo
Satisfeita.
Talvez faça uma montagem
Com minha juventude
Num campo de lavanda,
Resgatando a moça
Romântica
Que morava em mim.
Será que me sentirei
Completa enfim?
O galã estará ao lado
Recitando poemas
Para que nossas almas
Não se tornem pequenas.
Nossas mãos estarão unidas,
Para que a foto esteja perfeita
E a ilusão, convincente.
Depois, publicarei
Minhas ditosas aventuras
No velho continente
Que nunca pisei,
Tomarei a última dose de morfina,
Estriquinina,
Ou baterei com força minha cabeça numa quina,
E ilusionada e satisfeita
Partirei.
DEUS ME LIVRE
Deus me livre desta tristeza que me
toma, desta vontade de chorar fora de hora, desta vontade de não mais lutar, ou
sonhar, ou ser forte. Deus me livre. Deus me livre deste olhar triste, deste
canto de boca caído, desta sensação de incompetência em viver, inabilidade em
sentir felicidade, Deus me livre.
Me livre também desta consciência que
me pesa, não por ter feito muita coisa errada, mas, ao contrário, por ter
tentado sempre ser tão certa. Deus me livre deste remorso que me consome, por
não ter fugido com o circo, tido um filho com o trapezista, me apresentado em
qualquer pequena cidade perdida neste mundo, pintada de vagabunda e pensando
ser artista. Deus me livre.
Deus me livre dessa ignorância que me
consome, e que tento sanar engolindo palavras, livros, compêndios. Deus me
livre dessa gana de ser mais do que minha própria pessoa, e que me tira o sono,
noite sim e outra também.
Deus me livre desta falta de humor que
me tem perseguido, consumido, engolido. Era mais feliz quando era sarcástica e
ácida com minha própria história. Agora que vejo quem sou, ai, Deus me livre,
me descontento todo dia...
Que eu possa contentar-me com coisas
simples, como um prato cheio na minha frente, o lençol limpo na minha cama, e a
novela das seis, sete e oito a me esperar, avidamente, para aumentar o número
do ibope. Que eu possa contentar-me em ouvir as vozes no rádio, e não cantar; ouvir
instrumentos, e não tocar; ver belos desenhos, e não encostar o carvão no papel
em branco, amarelado de tanto esperar.
Que eu possa contentar-me em ser
somente mais uma dentre a multidão, que faz churrasco aos domingos e entorna
muita cerveja, para rir e falar bobagem sem ter culpa no cartório. Que eu possa
esquecer sonhos mirabolantes, porque quem nasce pra tostão, não chega a vintém,
e seguir com todos os navegantes.
Deus me livre da existência sofredora que
tenho, cheia de consciência; quero a ignorância dos inocentes, dos
desajuizados, dos iletrados, que não sabem e por isso também não são cobrados.
E por fim, e pensando bem, se Deus não
puder me livrar de mim mesma, então que me dê sabedoria e clara vidência, para
que possa cumprir minha sina com dignidade e um sorriso bobo no rosto, como
todos os iluminados o fizeram, segundo constam nos compêndios possuídos pelas
traças, e que herdei da bisavó do retrato.
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