sábado, 12 de março de 2011

PASSARINHO

A vida é cheia de graça. Há algumas semanas estava em depressão, vendo tudo embotado, minhas capacidades, minha falta de riso... tudo denunciava o meu lado chato, nada “clown”, nada simpático ou agradável.


Eis que minha filha, com toda sua determinação, conseguiu trazer para casa um periquito que estava prometido a ela desde o ovo, literalmente. Fomos buscá-lo na casa da amiga, e ele veio com várias recomendações , uma lata com ração e uma velha gaiola.

Ela declarou que o animal seria criado solto, no dedo, porque morria de dó de passarinho preso na gaiola. Também disse que cuidaria do periquito, pois era dela. Fiquei realmente impressionada com o discurso, e esperei a prática.

Obviamente, no dia seguinte a chegada do novo membro da família, quem limpou a gaiola, colocou jornal para o passarinho fazer cocô enquanto lia as notícias e reabasteceu a ração foi esta que vos fala. A dona do animal limitou-se a levá-lo para seus aposentos, para que ele pudesse ficar lendo o livro junto com ela, empoleirado em seu ombro.

A novidade durou dois dias. Logo as atividades diárias, escolares e extra curriculares foram maiores que o interesse pelo pássaro. Inversamente proporcional foi o aumento da minha responsabilidade para com o mesmo, e já que eu nunca tive que cuidar de periquitos, recorri ao nosso moderno “pai dos burros”, ou seja a internet.

Após duas horas de pesquisa, percebi que passaria mais tempo cuidando do pássaro do que de meus próprios filhos. Obviamente, se isso fosse possível. Expliquei para minha recém chegada filha, naquela tarde, o que não poderíamos fazer, o que o bichinho teria que comer. Ela não gostou nada, mas não retrucou, já que não tinha informações melhores.

Nos primeiros dias o periquito estava triste, assustado. Eu cantei para ele, dei frutas, e achei que o bicho iria morrer de tristeza sem os outros periquitos. Foi quando lhe dei um pedaço de espiga de milho, e conquistei sua confiança.

Aos poucos o periquito começou a voejar pela cozinha. Quando eu o queria na gaiola, lhe dava o pedaço de milho, e logo ele vinha comigo. Fui me afeiçoando ao pássaro. Quando chegou ao final daquele dia, fui dormir com um sorriso no rosto.

Passados mais dois dias, minha filha se queixou que o passarinho não vinha mais na mão dela. A estas alturas, ele já estava voando pela sala, e só ia na mão quando queria retornar a gaiola. Ela não queria o animal livre? Pois eu o estava criando livre.

E estou. Agora o periquito pia para que eu abra a gaiola, e vai no dedo até ela quando se cansa de voar. Hoje meu filho menor passou a manhã sem ver a televisão, ganhando a confiança do animal , e conseguindo finalmente que ele viesse na sua mão, e passeasse pelo apartamento pousado em seu braço. O periquito estava bem a vontade, e meu filho, feliz.

A dona do periquito dormia, e a casa estava acesa. Voltei a sorrir; meu filho sente que tem um companheiro, a vida ficou mais leve. Se o periquito é da minha filha ou da família, pouco importa. Meu esposo chega e vai assoviar para o passarinho. Hoje veio com areia própria para o bicho, e uma cordinha para ele bicar.

Todos mimam, todos precisam cuidar. A vida não é mais triste, por conta de um passarinho de dez centímetros.

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