Há águas que passam, e
não movem mais moinhos. Há outras águas, porém, que ficam correndo junto com
nosso sangue, e estas movem moinhos, vidas e sonhos. Dessas segundas águas,
todas as pessoas do mundo sabem, ainda que não admitam. São lembranças, antigas
esperanças, sussurros de fantasmas, que nos impulsionam, nos fazem querer
viver, para tentarmos repetir a façanha de sermos plenamente felizes.
Há águas que passam e não
movem moinhos. São pequenas histórias, importantes em si mesmas, mas que não
extrapolam os limites de espaço tempo em que ocorrem. São no momento que devem
ser, desaparecem quando cessa sua razão de ser.
Das outras águas, porém,
impregnadas em nosso sangue, em nossos ossos, pele e lembranças, tatuagem feita
a força, destas águas ninguém pode dizer: “não beberei”. Bebo eu, bebe tu, ele.
Nós, vós e eles também. São histórias que atravessam o tempo e o espaço; são
resposta que damos ao vento, meneando a cabeça, respondendo a esse ou aquele
que já não mais está, mas continua nos habitando.
Ah, doce natureza humana,
e suas águas... desaguamos por essas águas que nos bolem, pela passagem que não
se repete, mas que repetimos no cinema da memória. Nos fisga, assim, torce o
peito, o cuore, nos dá um fastio... e não queremos perder esta sensação, porque
ela nos dá a certeza que viver é bom, viver é mais do que o diário, comer,
dormir, levantar, trabalhar.
Viver é saber que estas
águas que estão misturadas com nosso sangue são nossa força motriz. E as águas
que passam, que movam moinhos, pouco nos importa. Que as outras águas, do rio
da saudade, nos levem de volta, a velhos moinhos...
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