Durante o Congresso Nacional de Escritores, em novembro de 2011, tive a satisfação de ser apresentada a Menalton Braff, por um amigo comum, Deonísio da Silva. Os dois são nascidos no sul do país, mas a vida levou, a ambos, para outros destinos. Deonísio há muito reside no Rio de Janeiro, e Menalton Braff hoje reside em Ribeirão Preto, e é responsável por um dos núcleos mais fortes da União Brasileira de Escritores nesta cidade, motivo pela qual foi sede do Congresso. Este ano também foi empossado como segundo vice-presidente da União Brasileira de Escritores.
Fui ao lançamento de seu livro, “Tapetes de Silêncio”, na livraria Martins Fontes da av. Paulista, em março deste ano. Tenho acompanhado e divulgado seus blogs, pois aprendo a cada leitura, e o que é bom deve ser divulgado. Por este motivo, convidei-o para esta entrevista para a Central 42, para que todos possam conhecer este escritor simpático e competente!
Primeiramente, antes de falarmos do teu último livro, você poderia contar aos leitores da Central 42 quando e como você começou a escrever, e quantos livros já têm publicados?
Antes dos dez anos eu cometi alguns poemas. Com rima e métrica, como prescrevia um livro que encontrei na biblioteca do meu pai. Era o Tratado de versificação, de Olavo Bilac e Guimarães Passos. Aprendi a ler com cinco anos de idade por puro fascínio, pois ninguém perdeu tempo me ensinando. Aprendi vendo meu pai ensinando uma irmã mais velha. Li O Guarani em HQ, logo depois e me apaixonei pela história. Lia muito, desde criança, e em geral prosa, mas na hora de escrever descobri aquele livro que me parecia um abre-te sésamoHavia muitos mistérios lá dentro, e tratei de descobri-los.
Hoje estou com dezoito títulos publicados.
 
Pode me matar uma curiosidade? Por que você usou pseudônimo no início de tua carreira literária, e porque depois assumiu teu verdadeiro nome?
Quando publiquei meus dois primeiros livros, a “anistia total e irrestrita” era muito recente. Não senti coragem de usar meu nome verdadeiro. Uma razão. Outra: só fui ler o Viana Moog depois de adulto, pois pensava que era escritor estrangeiro. E veja só: era meu vizinho de cidade. Era uma fase de nacionalismo exacerbado e não quis usar um nome com gosto de chucrute. Adotei um pseudônimo com jeito de feijoada. Por fim, não havia mais razão para temer a exposição de meu nome e o editor usou mil argumentos para que eu usasse meu nome. Convenceu-me.
 
Em 2000, você ganhou um prêmio Jabuti de literatura. O que mudou de lá para cá?
Passei de um escritor familiar que atingia pequeno grupo de amigos, para um escritor que atinge além do que a vista alcança. Eu conhecia cada um de meus leitores, hoje não conheço mais.
 
Agora, vamos ao teu livro recém-lançado, Tapete de Silêncio. Teus personagens são reais, palpáveis até. As cenas fazem com que entremos, participemos delas. Como foi o processo de criação desta história e dos personagens?
Misturei observação com imaginação. Passei mais de dez anos pensando nesta história. O tempo foi acrescentando detalhes, personagens, situações, que eu, eventualmente anotava. Até o dia que não havia mais o que anotar: era preciso transformar aquilo tudo em discurso.
 
Assisti tua oficina de contos, no Congresso Brasileiro de Escritores, em novembro passado, e quando li Tapete de Silêncio, me remeti à estrutura do conto que você esmiuçou. Você usou desta estrutura para a construção do livro?
Sabe, o Percy Lubock, um teórico norte-americano, defende o equilíbrio entre cenas e panoramas (ou resumo narrativo). Eu não consigo esse equilíbrio. Estou quase sempre mais perto da cena. É o modo como vou tecendo a trama. Então, aquilo que considero fundamental no conto, sem querer transfiro para o romance. Até me esforço para ser mais panorâmico, quando vejo, contudo, estou pensando em forma de cena. Acho que é uma questão de estilo.
 
Agora, você pode falar um pouco da trama do livro, para os leitores matarem a curiosidade?
Não posso falar muito porque o segredo ainda é a alma do negócio. O que posso dizer (sem estragar a surpresa do final) é que dez homens, uns depois dos outros, se encontram no coreto de uma praça em noite de chuva. Por um dito agora, outro depois, percebe-se que estão destinados a praticar um ato hediondo, apesar de serem todos eles pessoas das mais respeitáveis da pequena cidade. A essa cena contínua, que vai do início ao fim do romance, dei o nome de capítulos. Não há solução de continuidade. Mas os capítulos vão-se alternando com acontecimentos do passado, que denominei de coro. Os dois planos narrativos (passado e presente) seguem paralelos, mas acabam se encontrando, e aquilo que parecia sem sentido, ou obscuro, ganha clareza com a junção final dos dois planos. Em resumo: o malabarista de um circo seduz (ou é seduzido) a filha menor do homem mais poderoso da cidade. O que eles tramam, tudo que acontece, isso me recuso a revelar.
 
Eu também li o teu Bolero de Ravel, que possui uma estrutura psicológica mais densa. A tensão psicológica entre os irmãos vai sendo delineada pelo olhar de Adriano, sua interpretação do mundo. E como a música, o tema simples vai ganhando complexidade. Como surgiu esta trama, de onde veio a inspiração?
Isso é coisa que ninguém, jamais, vai poder te responder. Pelo menos com honestidade. A gente nunca sabe de onde vêm os temas. Uma esquina, o riso de uma criança, o sol batendo num barranco, trechos de histórias ouvidas por aí, situações vividas. Ultimamente eu vinha observando que os adolescentes vinham aumentando muito. Com trinta, trinta e cinco anos o rapaz não se decide a sair de casa da mamãe. É um fenômeno mundial. Isso me incomodou até o dia em que resolvi escrever o Bolero de Ravel 
 
Você também é contista, além de romancista. Qual dos gêneros te agrada mais?
Eu me sinto um romancista que eventualmente escreve contos. Gosto do espaço do romance, me sinto bem convivendo meses e até anos com personagens e situações de um romance.
 
Conte-me um pouco do teu lado de autor para o público infantil.
Como ganhei a vida trabalhando entre adolescentes, houve um momento em que me pareceu muito lógico escrever também para eles. Não é fácil. Tem-se de tomar alguns cuidados com a linguagem, com alguns valores éticos. Quando escrevo literatura geral, não penso em destinatário. Escrevo pra mim. Literatura infantil e juvenil, contudo, exigem que se pense em quem vai ler. O público alvo são seres em formação, e a responsabilidade do autor é outra. Meus desencantos, minhas amarguras, isso tudo não pode passar para um ser em formação.  Se ele chegar às minhas conclusões a respeito do mundo, não terá sido por meu intermédio.
 
Tua inserção nas redes sociais para divulgação do teu trabalho se deu quando, e o que mudou depois de ter usado este canal de comunicação?
Um pouco antes do lançamento do Tapete de silêncio, pensando em como ajudar a editora a divulgar o livro, foi-me sugerido o trabalho de profissionais do ramo, que sabem o que fazer e como para tornar o livro um pouco mais conhecido.
Bem, o que mudou foi que este, muito mais rapidamente do que os outros, teve certa repercussão.
 
Tem algo aqui que eu não te perguntei, mas que você gostaria de falar a respeito?
Há uma confusão muito grande entre o que é e o que não é literatura. O Brasil tem muito poucos leitores de literatura. As livrarias, em sua maior parte, não expõe literatura na vitrine ou nas mesas das lojas. E por uma razão simples: as pessoas não procuram literatura. O Ernesto Sábato, numa entrevista, afirmou que o best seller está para a literatura assim como a prostituição está para o amor.
 
 
Agradecemos ao Menalton Braff, um gentleman, por nos conceder esta maravilhosa entrevista.
Para quem quiser ler e conhecer Menalton Braff, o link para seu blog é: http://blogdomenalton.blogspot.com.
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Boa leitura!