Se o coração alguma coisa pedisse, seria a tua
constante presença. Tua luz acesa em mim, meu bálsamo mais precioso, guardado
em vidro de cristal. Minhas asas para voar longe, meus olhos de tudo ver, minha
pele de tatear o mundo. Sei que tudo é efêmero, mas posso sonhar com a
eternidade. Posso saber de ti sempre somente ao fechar os olhos. O tempo não é
nada, a distância nada me diz, a não ser do fato que há acontecimentos que não
dependem destas variáveis.
Se minhas cãs não fossem brancas, meu corpo
alquebrado, bailaria como camponesa na festa do deus sol; guirlandas de flores
enfeitariam meus cabelos longos, minhas faces deitariam sorrisos somente para
ti. Mas, ai, sinto o peso desta carne que me leva ainda aonde quero, e peço
para que esta moça se contente em bailar em espírito, quando te encontrará
plena de amor e riso.
E tu, que não voltaste com teu barco, por quantas
luas, tantas, tantas... prefiro te imaginar navegando longe de mim. Porque o
tempo e a distância não me tiram a esperança, mas a senhora Morte, esta, embaça
meus olhos, sequestra tua matéria para seu seio de quietude, e ainda não estou
pronta para esta viagem. Ferida em aberto, esta tua ausência. Mas ferida doce,
enquanto te imaginar vivo, pronto para chegar em teu barco, descer no velho
porto e se aninhar na espera dos meus braços.
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