segunda-feira, 5 de agosto de 2013

UM VELÓRIO EM FAMÍLIA ou COMO TEU RISO FARÁ FALTA

                Hoje voltei do velório de meu tio, irmão mais novo de meu pai. São Paulo é grande, e a família está espalhada, então as ocasiões de encontro acabam sendo casamentos, nascimentos e falecimentos. Não somos do tipo de família que se vê sempre, mas sempre que todos se juntavam, este tio, o terceiro dentre quatro filhos que minha avó teve, se destacava por estar sempre fazendo a todos rirem.
         Acho que isso vem desde o nascimento. Minha avó já tinha dois garotos, e sonhava em ter uma menina. Quando engravidou pela terceira vez, tinha certeza que vinha a sua garotinha, e fez um enxoval todo cor de rosa. E aí, meu tio Clélio nasceu...
         Sei, pelas histórias que minha avó contava, que ele foi o único dos filhos que aprendeu um instrumento musical. Também foi o primeiro a sair de casa, arvorar-se a ser feliz sozinho. Do mais, sei que se casou com a mulher que continuou amando por toda vida, por ser tão divertida quanto ele, e com quem teve quatro filhos.
         O que interessa são os momentos de encontro. As lembranças que eu tenho, desde menina, eram de um tio que adorava fazer um churrasco para todo mundo, contar piadas – e fazer piadas- de tudo e de todos. Contava piadas em casamentos e em velórios, não nos deixava chorar, nem ficarmos sérios. quase perdíamos a compostura, tentando não explodir em gargalhadas. Falava com aquele sotaque inconfundível de filho de italiano, e cantava paródias até de ponto de terreiro...(quem não lembra, na família, do ‘xuxu da meia noite’?).
         Hoje, no velório, fiquei pensando nas palavras que usamos quando alguém morre. Uns dizem que faleceu; outros dizem que desencarnou; outros dizem que foi para o seio do Pai; e eu gosto de dizer como na religião japonesa do meu marido: que a pessoa ‘retornou’. Ela foi de viagem, mas numa perspectiva que aqui era a passagem.
         Ele foi rapidamente, e fazendo o que gostava: assistindo um jogo de futebol do Timão, fidelidade herdada do meu avô ao Corinthians. Tinha se preparado para sair, e eu acho que ele se preparou bem para o seu ‘retorno’. Ele acreditava, tanto como eu, que a vida muda de estado, e estamos às vezes na  carne, às vezes no espírito, mas sempre num eterno ir para algum lugar.

         E, finalmente, eu senti falta de algo que sempre presenciei em todos os velórios de nossa família, e que nesse, eu não vi: ninguém soube fazer-nos rir hoje, não ouvi ninguém contando piadas... é, realmente o tio vai fazer falta aqui. Mas, com certeza, deve estar fazendo rir a quem já está do lado de lá.
meu tio, de 'pai da noiva', fazendo o que sabia de melhor: sorrir.

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