quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

CHORO

Choro por dentro todas as impossibilidades. Retas não são curvas, a presa não é livre, as recíprocas não são verdadeiras. Amores não são bilaterais; loucuras tampouco. A raiva não é um sentimento subjetivo, e não pode ser silenciada antes de ser identificada. E silenciá-la nem sempre é o que queremos, quando um pescoço mereceria ser torcido.
Choro por dentro todas as descrenças. Quando todos os seres que povoaram nossa infância se esvaem em fumaça, frente a gritante realidade de centenas de bons velhinhos perambulando, versus crianças que nunca viram um presente em suas mãos. Quando filhos vem pedir, implorar aos pais que confirmem que os sonhos existem, tristonhos por terem se confrontado com o cotidiano seco e árido em que habitamos. E os pais choram com os filhos a perda da ilusão.
Choro por dentro pelos desamores. Por todos os momentos em que nos sentimos traídos pelas pessoas, quando percebemos que sermos bons não nos traz absolutamente nada, e que a grandeza de fazer sem esperar do outro é algo mais ficcional do que o bom velhinho do parágrafo acima. E já acuso: quem disser ao contrário ou é santo, ou é falso.
Choro os grilhões que nos assolam. Clichês, contratos, dogmas, regras sociais, que nos impedem de abraçar com a vontade que temos, de darmos o alento que é necessário, soltarmos a palavra que nos fere por dentro, pássaro se debatendo na gaiola, símbolo que não pode chegar ao interlocutor. Muita gente morre disso, eu sei, eu já vi. Morre engasgado em suas próprias paixões e quereres reprimidos.
Choro tudo o que não podemos ainda ser, fazer, ter, choro não podermos nos perder. Porque a razão fala mais alto que os loucos a nos sussurrarem em nossos ouvidos, e a razão nos traz a vara de condão que nos transforma em simples manequins. Os loucos se mudam, impedidos de serem felizes, e se enforcam de ponta cabeça.

Hoje tentei manter a esportiva, mas tive que chorar um pouco. Afinal, mais um pouco de minha inocência e boa vontade morreu, junto com o que eu conhecia como ética e bons costumes. Me afogo nas palavras, ópio da alma, e espero que a ressaca da alma não me dê dor de cabeça. Amém.

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