Desde que o mundo começou a ser mundo, eu existo. Sou
Terra, magma, força primordial que a
tudo percorre. Matéria, átomo, energia condensada, cá estou. Não sou a Alma,
sou o que é vivificado por ela. Sou o espelho dela.
Tenho necessidade de vida, de prenhez, de semente. Tenho
o ímpeto do calor, do sol, do movimento. Ainda assim, não sou o Sol, não sou o
Vento. Eles são outros. Eu sou Uma.
Quando me desfaço, ainda assim, sou eu. Para uns, o
pútrido, para outros, alimento. Para alguns, o lixo, para outro, novo elemento.
Sou a Terra e minha essência é de vida, transformação, transmutação. Eu Sou.
Meu sangue é o magma. Minhas vísceras, entranhas geradoras de sementes, tubérculos,
nascentes. Quando louca, sou vulcão; se
desespero, terremoto. Quando choro, inundação. E se desolo, terra crestada. Cansei
de ser violada.
Minha pele é esta crosta em que pisam, dançam,
correm, estes animais de almas pouco desenvolvidas. Eles pensam que são tudo,
mas eu sou Mais. Vieram de mim, são constituídos por meus elementos, e quando
retornarem a seu sono de almas sem voz, deporão seus corpos em meu ventre. E eu,
Anciã sem idade, sem começo nem fim, os devorarei para novamente serem
partículas promissoras de vida.
Eu Sou o Portal para o começo e o fim de tudo. Não preciso
ter voz, sou ação. Não há quem me domine, comigo tenham cuidado. Minha natureza
é dupla: ira e afago.
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