Sempre gostei de pessoas desbravadoras. Provavelmente por
ter passado a início de minha vida movida a covardia e comodismo, admirava
àqueles que trilhavam seu próprio caminho. Sem perceber, e por falta de escolha
melhor ou mais cômoda, fui colocada numa situação em que tive que desbravar uma
nova cidade, fazer amigos, contas, saber controlar minha própria vida. Eu tinha
18 anos.
Ao sair daquela experiência, fui jogada em outra. Com 22
anos, eu acompanhava, apaixonada, o homem da minha vida para outro país, sem
nem mesmo falar a língua. Novamente precisei me ajustar a situações, desbravar
um mundo totalmente desconhecido para mim. E aprendi muito com estas
experiências.
Hoje, tantos anos depois, tenho uma filha que seguiu o
destino de desbravar. Deve ser algo contido no sangue. Hemácias efervescentes,
talvez. Ela porém, não teve nunca a covardia e o comodismo para se escorar. Desde
pequena sabia o que queria. Convicta, fez escolhas com idade em que outros só
recebem ordens.
Com seu gênio forte, passou por cima de convenções,
esbravejou muitas vezes, mas nunca perdeu seu foco. Não se conformava com “não
pode”, ou “isto é impossível”. Para ela não havia impossibilidades, porque mais
do que sonhar, ela corria para enfrentar os leões que apareciam, e partia para
a ação.
Escuto muito falar sobre crenças limitantes. Eu mesma fui
fiel depositária de várias delas. Mas fiz questão de não encher a cabeça dela
com estas crenças. Acho que o serviço foi bem executado. Ela nunca acreditou
que um orçamento apertado a impedisse de viajar para fora do país, e eis que
sua determinação a levou à Irlanda.
Eu e o pai ajudamos, sim. Talvez impulsionados por sua
convicção, não duvidamos um só momento sobre o fato de que teríamos todas as
condições de enviá-la para outro país. Mas a ajudamos também porque aquela
baixinha, pimenta e esquentada guardou cada centavo que recebeu em seu primeiro
emprego, e depois no segundo, para poder ajudar nas despesas necessárias com a
viagem.
Mais importante: ela sabia que teria que trabalhar no outro
país, e não foi iludida, nem esperando o dinheiro acabar para buscar um trabalho.
Ao chegar na Irlanda, carregava consigo um pequeno currículo, com suas
experiências até então, vertido para o inglês por sua tia. Com uma semana no país,
já havia distribuído um monte de currículos, em tudo quanto é biboca irlandesa,
buscando um trabalho.
Ao findar um mês na nova terra, saía da casa de seus “pais
irlandeses” (com quem mantém amoroso contato até hoje) e ia morar no seu
primeiro cantinho, por conta própria. A esta altura, já havia arranjado seu
primeiro emprego, e podia se sustentar sozinha.
Passados menos de seis meses, esta desbravadora, munida de
listas, conselhos sobre métodos GTD, PNL, e muito pensamento e comportamento
positivo, estuda, trabalha para se sustentar, viaja aos poucos pela Irlanda
quando pode, e começou agora a conhecer outros países.
Não tem medo de nada. Vai sozinha mochilar, se hospeda com
couchsurfing, e vive. Todos os dias. Se bate a saudade? Ela diz que sim. Eu digo
para que descanse até a saudade passar, e continue vivendo este momento único.
Porque sei que estamos longe, mas tudo o que somos está
gravado nela. Como sei? Hoje ela postou em seu facebook uma foto com flores
enfeitando sua casa, dentro de garrafas, dizendo que foi influenciada por minha
convivência... algo tão banal, mas que deixou marcas até em como enfeita sua
casa!
Sempre gostei, como disse, de gente desbravadora. Minha filha
tornou-se uma. Posso ter influenciado, mas se ela não quisesse, nada teria
acontecido. Espero que este espírito a acompanhe até o último dia de sua vida.
Bem vivida.
Belas desbravadoras! Lindo texto!
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