quarta-feira, 24 de outubro de 2012

ATENÇÃO CERTEIRA


         Tua atenção certeira me alcança, me arrepia inteira. Sim, ainda tenho arrepios quando tuas palavras mornas me roçam os ouvidos. Sim, ainda tenho arrepios quando tuas mãos suaves mexem em meus cabelos, brincando com meus sentimentos, com minhas sensações. Quando falas meu nome, sinto que me acaricias com as palavras, toque de vento em folhas, gaivota mergulhando no mar, corisco que passa no céu de minha mente.
         Paixão que não passa, licor bebido escondido, um dia passado contigo, vontade de te tocar, mesmo sendo proibido. Tentação de fruta madura, tentação de perder os sentidos. Te vejo, te toco de leve, para passar a quentura que me sobe, a vontade de te abraçar na frente de todos, e conclamar ao mundo para que deixe de ser hipócrita.
         E os olhares falam mais alto, gritam, berram, enquanto as bocas despejam palavras sem nexo, palavras ao vento, parábolas do que nos sucede de fato, de dentro para fora. Taças de vinho são erguidas, brindes a vida, e a nossa vida cortada por laços de aço, linha com cerol pegando o pescoço, as taças tintas de nosso sangue, derramado na mesa dos convivas.
         Te espero, mesmo horário, mesmo lugar, para que nossos corpos se encontrem, tua vida me banhe, meu corpo se assanhe, e a luz se acenda dentro de mim. Sou moça e remoço contigo; sou antiga e te ensino cantigas de amor e de amigo. Sou pele, aprendendo a sentir através de tuas mãos; sou boca, aprendendo a falar na tua língua, estrangeira para os outros, nativa para mim, que nasci da tua costela, quando nos fundimos e nos separamos.
         Sim, querido, pois vamos caminhando assim, entre dois mundos, ao avesso dos mortos, vivos em nossas esperanças e diários sonhos, nos buscando com os olhos, virando ampulhetas para marcar as horas que nos faltam para nos darmos as mãos, trocarmos nosso suor, e pararmos de verter lágrimas. E não me toques com teus olhos agora, pois tiro os véus de nosso segredo, e tudo se perde, tudo! Pois que ainda me arrepio com tuas palavras mornas, que me chegam aos ouvidos... 

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