Tua
atenção certeira me alcança, me arrepia inteira. Sim, ainda tenho arrepios
quando tuas palavras mornas me roçam os ouvidos. Sim, ainda tenho arrepios
quando tuas mãos suaves mexem em meus cabelos, brincando com meus sentimentos,
com minhas sensações. Quando falas meu nome, sinto que me acaricias com as
palavras, toque de vento em folhas, gaivota mergulhando no mar, corisco que
passa no céu de minha mente.
Paixão
que não passa, licor bebido escondido, um dia passado contigo, vontade de te
tocar, mesmo sendo proibido. Tentação de fruta madura, tentação de perder os
sentidos. Te vejo, te toco de leve, para passar a quentura que me sobe, a
vontade de te abraçar na frente de todos, e conclamar ao mundo para que deixe
de ser hipócrita.
E os
olhares falam mais alto, gritam, berram, enquanto as bocas despejam palavras
sem nexo, palavras ao vento, parábolas do que nos sucede de fato, de dentro
para fora. Taças de vinho são erguidas, brindes a vida, e a nossa vida cortada
por laços de aço, linha com cerol pegando o pescoço, as taças tintas de nosso
sangue, derramado na mesa dos convivas.
Te
espero, mesmo horário, mesmo lugar, para que nossos corpos se encontrem, tua
vida me banhe, meu corpo se assanhe, e a luz se acenda dentro de mim. Sou moça
e remoço contigo; sou antiga e te ensino cantigas de amor e de amigo. Sou pele,
aprendendo a sentir através de tuas mãos; sou boca, aprendendo a falar na tua
língua, estrangeira para os outros, nativa para mim, que nasci da tua costela,
quando nos fundimos e nos separamos.
Sim,
querido, pois vamos caminhando assim, entre dois mundos, ao avesso dos mortos,
vivos em nossas esperanças e diários sonhos, nos buscando com os olhos, virando
ampulhetas para marcar as horas que nos faltam para nos darmos as mãos,
trocarmos nosso suor, e pararmos de verter lágrimas. E não me toques com teus
olhos agora, pois tiro os véus de nosso segredo, e tudo se perde, tudo! Pois
que ainda me arrepio com tuas palavras mornas, que me chegam aos ouvidos...
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