terça-feira, 12 de novembro de 2013

PARÁBOLA DO CAMINHO - projeto Caderno de Notas

Meus caros, este é segundo texto, da segunda semana do projeto "Cadernos de Notas", com o tema da semana "Essa é minha carta ao mundo". Confiram nos blogs das outras autoras o desenrolar de vários olhares:

11/11 - Luciana Nepomuceno (segunda)
Blogue. Borboleta nos Olhos

12/11 - Ana Claudia (terça)

13/11 - Tatiana Kielberman (quarta)

14/11 - Thelma Ramalho (quinta)
Blogue. 2 e dois são 5

15/11 - Lunna Guedes (sexta)
Blogue. Catarina voltou a escrever

16/11 - Ingrid Caldas (sábado)
17/11 - Letícia Alves
(domingo)
Blogue Minhas Tempestades


    



        Olá, minha cara,
            Espero que estejas bem, afinal, é o que esperamos àqueles a quem amamos, sempre. Venho te contar boas novas, pensamentos que tem vindo em minha mente. Já te contei da minha experiência, há alguns anos atrás, de subir uma montanha? Acho que não. Pois bem, isto ocorreu em Osaka, no Japão. Era início da primavera, a estação era mais amena, e propícia para longas caminhadas. Subíamos em grupo, normalmente trinta ou quarenta pessoas, por antigas trilhas que levavam, primeiramente, a um templo budista no meio da escalada, onde sempre parávamos para descansar e bebermos água, e depois seguíamos em frente, num caminho mais íngreme, até alcançarmos o alto da montanha.
            Você irá se perguntar por que eu estaria falando disso? Bem, não é para descrever apenas a caminhada em si, mas o que me marcou nela. Não éramos esportistas, muito pelo contrário. Poucos eram os que teriam as condições ideais para este tipo de aventura. Eu não era uma delas. Fui orientada a levar minha água e uma toalha de rosto para a caminhada. Obediente, iniciei-a com todos os apetrechos necessários, acompanhada pelo grupo animado. Passávamos por casas típicas, em ruas estreitas, e começamos a subir a montanha. As casas foram rareando, até o momento que sumiram, e entramos por trilhas feitas por peregrinos budistas, em meio à mata local, e o caminho começou a ficar mais íngreme. As conversas diminuíam, e o grupo começava a se dispersar, com alguns, incluso eu mesma, ficando para trás, as pernas pesando como chumbo, o rosto afogueado refletindo o coração que batia acelerado com o esforço, e os pulmões tentando puxar o ar no ritmo que a necessidade do momento exigia. Parei, dobrei meu corpo, mãos nos joelhos, para tentar respirar, quando vi então uma toalha estendida a minha frente. Um colega olhou para mim e disse para que eu continuasse andando, pois senão a caminhada iria me vencer, e me ofereceu uma das pontas de sua toalha, dizendo: “eu te puxo”. Recomecei a caminhada sendo “rebocada” por ele. Percebi que uma corrente havia se formado, com os mais preparados fisicamente indo a frente, estendendo suas toalhas, e quem estava sendo ajudado, estendendo as próprias toalhas para quem vinha atrás. Assim fiz eu também. Palavras de incentivo eram pronunciadas de quando em quando, mas o ritmo simplesmente não era quebrado. Chegamos todos ao topo da montanha, rezamos em agradecimento, e fizemos o nosso almoço, preparando-nos para a descida.
            Esta lembrança veio à tona quando me perguntava o que estava realmente fazendo como pessoa para melhorar a mim mesma. Percebi que em todos os embates que tive com a chamada vida, tive pessoas que me ‘estenderam a toalha’ para me ajudarem a subir mais um pouco. E percebi que em outras ocasiões, eu também ‘estendi toalhas’ para que outros pudessem ‘subir a montanha’. E fiquei aqui, idealizando um mundo onde haja a percepção desta corrente invisível que perpassa a todos os seres viventes. Também lembrei-me de uma missiva de um amigo querido, que desvelou outro mistério da palavra ‘pessoa’, do original ‘persona’: significa ‘por onde soa’, isto é, por onde o ar, sopro de vida, ‘anima’, alma, passa. Ser pessoa é ser instrumento da alma, como a flauta que só pode ser som se insuflarmos ar dentro dela. Só podemos ser chamados de pessoas quando nos deixamos ser instrumentos de crescimento para outras.
            Bem, minha amiga, que o mundo entenda que devemos sempre ajudar o outro a  ‘continuar andando para não ser vencido pela caminhada’. Que o mundo entenda que quando um ‘estende a toalha’ para quem está precisando, este também aprende a ‘estender a toalha’ para o próximo. Este, afinal, era o objetivo de contar sobre aquela caminhada... uma parábola, pois! Fique em paz, fique bem. Somos um.
Quando sentirmos
Finalmente
Que nisto que chamamos mundo
Não há separação
Entre nós e o outro
A estrada não terá início nem fim.
Ela apenas Será.


B.

6 comentários:

  1. Sempre uma oportunidade de leitura que nos leva além de nossas limitações... "olhar fora da caixa"...

    Muito bom, Ana!

    Que possamos avistar o outro sem a contaminação se nossa própria sombra.

    Beijos!

    ResponderExcluir
  2. Tati, querida, que possamos sempre exercitar este olhar, e promovê-lo... bj

    ResponderExcluir
  3. pura reflexão..
    para ler, reler mais adiante,,e reler..
    beijos e muito bom te conhecer..
    linda semana!

    ResponderExcluir
  4. Eu não sei o que é mais fácil ou mais difícil quando estamos numa "aventura" olhar pra cima ou para baixo. Sei apenas que há alguém lá a nos dizer esperanças, ainda que esse alguém seja o nosso íntimo a transbordar. rs

    bacio

    ResponderExcluir
  5. Eu preferi sempre olhar para cima, caríssima Lunna. Acho que as palavras de incentivo sempre funcionaram comigo, vindas de fora ou de dentro...

    ResponderExcluir

Blog Palavra Prima, é para lá que eu vou

Quem chega aqui deve perceber que as postagens estão cada vez mais escassas. O motivo real é a criação, há mais de dois anos, de outro blog,...