E quando pensei que
minhas estações estavam findas, chegaste tu, já no meu outono. Fresca primavera,
olhar de pura espera, me puxou pra si, disse que eu era teu dono. Mas qual,
descobri com o tempo, tu é quem me dominavas. Mas eram brandas as tuas mãos de
dona; nelas me perdia, pelas madrugadas.
E quando pensei que
minha chama estava extinta, chegaste tu, para aquecer minha jornada. Derme firme,
olhar brilhante, desafiando a vida e aos passantes. Segurando minha mão como
amante, eu me deixei ficar. Lá se foram calendários, diferenças, contrastes
entre minhas rugas e teu frescor. Teu olhar, seta de fogo; neste fogo, meu
amor.
E quando pensei que tu
te cansarias de um homem como eu, enfadonho, me miravas e como te rias! Disse que
me alcançarias, um dia, em sabedorias. Que nos queria como Zelia e Amado,
amantes que compartilharam traços e caminhos. Queria caminhar ao lado, e se
preciso, descansar á minha sombra. Teu corpo, flor a ser contemplada. Eu,
carvalho a te guardar.
E quando pensei que já
te conhecia, amoldada que estavas ao meu corpo, eis que tu novamente me
surpreendias. Deu-me o teu silêncio, a tua ausência, a tua despedida fria. Contigo
foi também a primavera, e tive que me acostumar novamente com a frieza dos meus
dias.
Quando por fim jurei
que te esquecia, lavado o meu corpo de teus segredos, e do teu frescor de
menina, eis que retornas, tocada de um silêncio diferente. Vens como se nunca
tivesses partido, me molhas o ombro com um choro sentido, e adormeces soterrada
em meu peito. Não penso direito, em verdade, nem penso nada. Só sinto que
recomeço e peço: quero outra manhã depois dessa madrugada...
*Este post é parte integrante do projeto “Caderno de Notas – Segunda Edição”, do qual participam as autoras Ana Claudia Marques, Ingrid Caldas, Luciana Nepomuceno, Lunna Guedes,Maria Cininha, Tatiana Kielberman, Thelma Ramalho e a convidada Mariana Gouveia…
Me fez pensar numa figura humana com quem conversava há pouco ali na varanda e, ela me olhou e disse "achei que iria esquecer, sabe? Mas ai o vi e voltou tudo mais forte que antes". Na hora eu pensei: isso dá um texto, mas estou com preguiça demais para organizar uma só frase, então cá estou a ler-te e ao mesmo tempo a ouví-la. Um paralelo. Bacio
ResponderExcluirTambém escrevo em paralelo com memórias alheias... interessante o que um escritor faz, vivendo além do seu viver.
ExcluirEncanto puro. De almas. A vida feita linda, de momentos únicos e puros.
ResponderExcluirfazemos, com as palavras, a vida tornar-se perfeita...
ExcluirE que bom que há sempre essas tais de "cheganças" para aplainar o caminho e, de certo modo, torná-lo mais leve...
ResponderExcluirSuave texto, gostei!
Beijo, querida!!
Obrigada, Tati. Acho que escrevi quase cantando no ritmo do texto... bj
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