segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

DE OUTONOS E PRIMAVERAS

E quando pensei que minhas estações estavam findas, chegaste tu, já no meu outono. Fresca primavera, olhar de pura espera, me puxou pra si, disse que eu era teu dono. Mas qual, descobri com o tempo, tu é quem me dominavas. Mas eram brandas as tuas mãos de dona; nelas me perdia, pelas madrugadas.
E quando pensei que minha chama estava extinta, chegaste tu, para aquecer minha jornada. Derme firme, olhar brilhante, desafiando a vida e aos passantes. Segurando minha mão como amante, eu me deixei ficar. Lá se foram calendários, diferenças, contrastes entre minhas rugas e teu frescor. Teu olhar, seta de fogo; neste fogo, meu amor.
E quando pensei que tu te cansarias de um homem como eu, enfadonho, me miravas e como te rias! Disse que me alcançarias, um dia, em sabedorias. Que nos queria como Zelia e Amado, amantes que compartilharam traços e caminhos. Queria caminhar ao lado, e se preciso, descansar á minha sombra. Teu corpo, flor a ser contemplada. Eu, carvalho a te guardar.
E quando pensei que já te conhecia, amoldada que estavas ao meu corpo, eis que tu novamente me surpreendias. Deu-me o teu silêncio, a tua ausência, a tua despedida fria. Contigo foi também a primavera, e tive que me acostumar novamente com a frieza dos meus dias.
Quando por fim jurei que te esquecia, lavado o meu corpo de teus segredos, e do teu frescor de menina, eis que retornas, tocada de um silêncio diferente. Vens como se nunca tivesses partido, me molhas o ombro com um choro sentido, e adormeces soterrada em meu peito. Não penso direito, em verdade, nem penso nada. Só sinto que recomeço e peço: quero outra manhã depois dessa madrugada...


*Este post é parte integrante do projeto “Caderno de Notas – Segunda Edição”, do qual participam as autoras Ana Claudia MarquesIngrid CaldasLuciana NepomucenoLunna Guedes,Maria CininhaTatiana KielbermanThelma Ramalho e a convidada Mariana Gouveia 

6 comentários:

  1. Me fez pensar numa figura humana com quem conversava há pouco ali na varanda e, ela me olhou e disse "achei que iria esquecer, sabe? Mas ai o vi e voltou tudo mais forte que antes". Na hora eu pensei: isso dá um texto, mas estou com preguiça demais para organizar uma só frase, então cá estou a ler-te e ao mesmo tempo a ouví-la. Um paralelo. Bacio

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    1. Também escrevo em paralelo com memórias alheias... interessante o que um escritor faz, vivendo além do seu viver.

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  2. Encanto puro. De almas. A vida feita linda, de momentos únicos e puros.

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  3. E que bom que há sempre essas tais de "cheganças" para aplainar o caminho e, de certo modo, torná-lo mais leve...

    Suave texto, gostei!

    Beijo, querida!!

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    1. Obrigada, Tati. Acho que escrevi quase cantando no ritmo do texto... bj

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