O piano era tocado pela adolescente, exaustivamente. Repetia a mesma melodia vez após outra, tentando acertar o ritmo entre as mãos esquerda e direita. A peça, uma composição de sua mãe, escrita a lápis, num caderno já amarelado pelo tempo.
Vez por outra a mãe vinha da cozinha e tocava para ela a melodia, para que pudesse imitá-la e executar a música no ritmo correto. A mocinha voltava a tocar, até o momento em que, exultante, acertou a execução.
Foi para junto da mãe, que preparava a janta, e se confessou arrependida por ter interrompido suas aulas de piano, há três anos. Agora que realmente apreciava o instrumento, não havia condições dos pais bancarem o custo das aulas.
A mãe então falou que, mesmo que não percebesse, ela estava estudando, quando tentava executar a música dela. E que este fora um método usado por Bach para ensinar a sua segunda esposa, Anna Magdalena. Ele compôs pequenas peças para que esta executasse e aprendesse a tocar piano, e que foram reunidas posteriormente no Pequeno Livro de Anna Magdalena Bach.
A adolescente encantou-se com este ato de amor em forma de música. E voltou ao piano, cônscia que ao tocar a composição de sua mãe, podia repetir o movimento amoroso com que Bach brindara a esposa. A música e a métrica saíram a perfeição, para espanto da menina. A mãe, porém, não se espantou, pois perfeitos são todos os caminhos que levam ao coração...
Ownnnnnn
ResponderExcluirO coração é uma cidade... cujos caminhos são elaborados com a tinta da emoção.
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