sábado, 29 de setembro de 2012
terça-feira, 25 de setembro de 2012
ODISSÉIAS
Muito ouvi falar de Odisséias,
De Ulisses, Penélopes e Ítacas,
Mas, confesso, não os sabia tão próximos.
Na minha ignorância beirando a inocência
Não sabia que cada homem (ou mulher)
Tem sua própria odisseia pessoal.
Eu não sabia que odisseia significava
(e que belo significado) viagem.
Não podia imaginar que meu caminhar,
Inda que espiritual, pudesse configurar esta
viagem.
Não podia sequer sonhar que meu aprendizado
Nessa vida, de paciência e recompensa,
Fosse minha odisséia.
Mas fui brindada com amigos sábios
Que me abrem caminhos
Para novas idéias.
Fiquei extasiada com uma helênica oferenda,
Um altar a céu aberto
Onde meu saber desperto
Foi convidado a adentrar.
Deparei-me com apaixonados
Pela antiga cultura, silentes,
Absorvendo palavras,
Embebendo-se delas,
Deixando-se levar por outra apaixonada
Semeando saber.
E entre saberes e sabores
Aprendi que a odisseia não é viagem finda,
Continua íntegra e atuante
Neste nosso mundo incongruente
E desconcertante.
Porque de nossa natureza mítica,
Poderosos criadores e destruidores,
De acordo com o que queiramos,
Algo temos em comum:
Buscamos sempre nossa felicidade
Qual seja o caminho tomado,
Almejamos um lugar ideal
Onde o guerreiro cansado
Possa desfrutar, afinal,
dos frutos por ele plantados,
junto a um abraço
há muito esperado.
E a alva bacia vítrea,
Com pedras, flores e água,
Recolheu na despedida
Minha onírica mirada.
EU TE LIBERO, TU ME LIBERAS
E de um sonho brotou uma frase, e da frase nasceu uma história, e esta se contou em poesia...
Eu te libero
Tu me liberas
De antigos compromissos
Vindos de priscas eras.
E no fundo dos olhos
Nos perdoamos,
Por nos havermos perdido
Nos labirintos que a vida
Interpôs entre nossas histórias.
Nossas mãos soltamos,
Cortando eternos laços,
Por amor um ao outro,
Por abnegação, de fato,
Sabendo que já cumprimos
O que devíamos,
Em detrimento do que queríamos...
Em outras vidas
Outras histórias teceremos.
Histórias a quatro mãos,
Que juntos, espalharemos.
Te libero,
Tu me liberas.
Que profundo poder
Tudo isto encerra.
Nos liberamos de antigos compromissos
Velhas vidas,
Nossos vícios,
e nos demos alforria mútua.
Te deixo viver,
Me deixas viver.
Em cadeias de sonho
Não vamos mais
Um ao outro
Nos prender.
Com respeito isto se fez
(me espanto mais uma vez)
Quem sabe agora você reflita
E tudo o mais admita
Respeitando o esforço meu.
Agradeço a tudo
Que tenho de teu.
quarta-feira, 5 de setembro de 2012
SINTA-SE ABENÇOADO POR MIM...
Sinta-se abençoado por mim,
Que te lavo os pés e os seco em linho,
Que te preparo o pouso do espírito
Com todo o carinho.
Minha emoção transborda
Nesta taça rubra de cor;
Esta emoção me inunda,
Como se não coubesse em mim
Nem houvesse aonde a por...
Sinta-se abençoado por mim,
Irmão de todas as eras,
Caminhantes unidos, somos,
Em vidas paralelas.
Teu andar seguro me guia;
Tuas pegadas a frente marcadas
Me dão o norte, me dão meu eixo.
E sinto, buscando tuas mãos
Envolvendo as minhas,
A alma em alegria.
Sinta-se abençoado por mim,
Senhor das terras morenas,
Fruto de mil raças e amores,
Entre servos e senhores.
Recolherei teu cansado corpo
E o banharei com mil aromas
Deslizando teu cansaço
Pro calor de meu regaço.
Sinta-se abençoado por mim,
Que sendo tudo
Frente a ti, me desfaço
Em sorrisos, em graça,
Em perdido mormaço.
Pois que a bem-aventurança
Do querer só me é dada
Quando acordo para meus sonhos,
E não quando morro acordada...
segunda-feira, 3 de setembro de 2012
QUERER DE CABOCLO
Queria tanto falar contigo. Mas a saudade que me vai no
peito emperra o ato, qual porta que não abre de dentro pra fora. Sentimento
fora de hora, bailando bobo, no peito. Se eu pudesse te fazia estátua, para
contínua adoração. Se pudesse te amarrava
com reza, pra não me fugires mais da vista.
É, quereres são assim. Parece coisa ruim, que toma a cabeça
e não larga jamais. Coisa estranha por demais, não me compreendo, tão meu
sempre, e agora só teu. Como posso perder a cabeça que tinha, antes tão bem
penduradinha no pescoço? Parece que agora só penso em chamego, te ouvir
chamando “meu nego”, frio na barriga de querer bem...
Diga, morena minha, que não me queres também, que não me
esperas, frouxa, de pernas moles de paixão? Mentes quando dizes não. Eu sinto, vejo
nos teus olhos, assim pidões de tudo, vejo no teu corpo, todo retesado, pronto
pra fuga? Não, morena, pronto pra luta.
Não foge não, morena, querer não é pecado. Pecado é estar morto em vida, e eu
não sou pecador...
Queria tanto falar contigo. Mas a garganta seca quando te
vejo, perco palavra e gesto, eu não sirvo para galanteio, pra isso eu não
presto. Mas se fosses menos orgulhosa, morena, não me davas esse olhar ligeiro.
Me oferecias um copo d’água, um café, depois um cheiro. Mas é diversão tua, bolir
com meu sentimento. Que santa, estátua,
que nada! Te queria era cá ao lado, pra esquecer da solidão...
E a saudade bole comigo, na falta do teu querer. Mas no
sonho tu estas comigo, morena, na rede, na reza, no depois. Eu vou vivendo meu
diário, vivendo a tua falta ao meu lado, qual um pobre desgraçado, na beira da
fonte, morrendo de sede!
sábado, 1 de setembro de 2012
ANTES DO TEMPO PRESENTE
Saudade de ti me aperta o peito. Da tua ternura, teus olhos
que não sei, mãos que não toquei. Saudades de que, mesmo? Das palavras que me
acariciam, me provocam arrepios, me traduzem quereres. Saudades de ti, que és,
sem serdes. Força telúrica que me invade, que habita meus poros, me fala na
orelha, me enlaça a cintura. Sinto-me inteira, percepção de corpo vivo,
expandido, banhado.
Saudades de ti. Teus cabelos, bons de acariciar; teu rosto,
inúmeras vezes contornado com o tato do meu olhar. Teu semblante distante, de
repente envolto em ternura, quando o sorriso te ilumina o rosto, e alarga o
gesto de arrebanhar minhas mãos para ti. Ah! Saudade... esse pedido do nosso
âmago para que o encontro se faça breve, na velocidade de nosso pensamento, da
nossa necessidade de pele com pele, toque mágico que fecha o ciclo de vida e
morte, morte e vida.
E lá vem você, montado em quimeras e mitologias outras, com o
estandarte da franqueza lhe estampando as faces, com a delicadeza do abraço que
envolve e amalgama nossos corpos pedintes. Como manter a distância exigida nas
convenções do mundo, se o nosso mundo obedece a outras leis de gravidade
imensa, se desrespeitadas?
Te dou a lua azul, que hoje vai no céu; te dou o sol pintado
de carmim dos finais de tarde que não mais vejo neste deserto de cimento. Aqui
dentro, aqui dentro, há outro mundo, como o dos poetas mineiros, imitando os
europeus, repleto de Marílias e de Dirceus... aqui dentro, há o mundo de
exigências da alma, que não precisa de máscaras, só quer vibrar.
Saudades de ti. Da branca veste em que vou te ver chegar, do
arrepio das peles em mútuos toques, dos dedos enlaçados enquanto caminharemos
lado a lado, rumo a lugar nenhum, pois que o destino não importará, já que o
caminho será compartilhado contigo. Saudade da vida que pulsa quando me chamas:
bela, e bela me torno aos teus olhos. Saudade do nosso tempo de nunca chegar.
Descubro-me antes do tempo presente em tua companhia; de lá
me vem estas impressões; quem sou eu para duvidar do que meu corpo sentencia?
Saudades de ti, que não me tens, de quem não fui...
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