Queria tanto falar contigo. Mas a saudade que me vai no
peito emperra o ato, qual porta que não abre de dentro pra fora. Sentimento
fora de hora, bailando bobo, no peito. Se eu pudesse te fazia estátua, para
contínua adoração. Se pudesse te amarrava
com reza, pra não me fugires mais da vista.
É, quereres são assim. Parece coisa ruim, que toma a cabeça
e não larga jamais. Coisa estranha por demais, não me compreendo, tão meu
sempre, e agora só teu. Como posso perder a cabeça que tinha, antes tão bem
penduradinha no pescoço? Parece que agora só penso em chamego, te ouvir
chamando “meu nego”, frio na barriga de querer bem...
Diga, morena minha, que não me queres também, que não me
esperas, frouxa, de pernas moles de paixão? Mentes quando dizes não. Eu sinto, vejo
nos teus olhos, assim pidões de tudo, vejo no teu corpo, todo retesado, pronto
pra fuga? Não, morena, pronto pra luta.
Não foge não, morena, querer não é pecado. Pecado é estar morto em vida, e eu
não sou pecador...
Queria tanto falar contigo. Mas a garganta seca quando te
vejo, perco palavra e gesto, eu não sirvo para galanteio, pra isso eu não
presto. Mas se fosses menos orgulhosa, morena, não me davas esse olhar ligeiro.
Me oferecias um copo d’água, um café, depois um cheiro. Mas é diversão tua, bolir
com meu sentimento. Que santa, estátua,
que nada! Te queria era cá ao lado, pra esquecer da solidão...
E a saudade bole comigo, na falta do teu querer. Mas no
sonho tu estas comigo, morena, na rede, na reza, no depois. Eu vou vivendo meu
diário, vivendo a tua falta ao meu lado, qual um pobre desgraçado, na beira da
fonte, morrendo de sede!
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