segunda-feira, 27 de maio de 2013

GENESIS

         Chuva boa, frio entrando na pele, enrolada no xale, café quente na mesa ao lado... Feliz, a pena convida ao calor da mão para romper as nuvens brancas do vazio do papel e criar um novo mundo. Ossos do meu ofício, mudar a natureza do dia e dos seres, com a mágica da palavra, do sonho, do devir.
         A poesia do cotidiano nos atravessa sutilmente, mudando nossos átomos de lugar. Não percebemos, não, pelo menos quando acordados, atarefados. Só nos damos conta quando semicerramos os olhos, instantes antes de dormir, quando o corpo jaz em semi-morte, ausência da consciência que nos limita e nos devora.
         E a chuva boa, lavando a alma da cidade. O cinza vai embora, dando lugar para a luz da lua... agora as luzes da rua começam a se acender, iluminando caminhos, veredas de sonhos e brumas, rios caudalosos de pessoas e carros que passam, com pressa de acharem onde desembocar.
         Algumas vezes, faço de um sonho meu inicio de escrita. Sim, pois acredito em sonhos, e que eles prenunciam a realidade. Acredito em mudar o mundo com uma pena na mão, canção na voz, mansuetude no coração. Acredito, acredito, acredito.
         Acredito que pessoas são presenças, são atos, são fatos, são ausências. Pessoas são e se transformam, no ato, na ação. E não adianta rótulo, fantasia, charme, pois não há mentira no mundo que um mau ato não desarme. E por isso cuido para que o ato não machuque, não prejudique, não maldiga. Difícil esta vigília, mas o que fazer com a besta fera que vive dentro de mim, a não ser trazê-la na coleira, sempre andando ao meu lado, nas minhas vistas? Não possuo a virtude da perfeição, somente a pretensão...

         E o frio me penetra nos ossos, sinto não ser nada além deste limite a que chamo corpo, pele, invólucro de minha alma. E se realmente posso criar mundos, desejo (ah, desejo!) que a vida seja leve, sempre. E que o peso seja, tão somente, uma forma de não se flutuar...

4 comentários:

  1. Yo, lindo Ana, achou o que estava atrás da neve fria do branco do papel.

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  2. Obrigada, e que fique aqui registrado: Este meu amigo aí em cima me forneceu a frase que deu inicio ao processo: "Feliz, a pena convida ao calor da mão para romper as nuvens brancas do vazio do papel e criar um novo mundo. " Obrigada, Daniel!!

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