Assisti há uns dois dias um dos últimos filmes de Harry Potter com meus filhos. Não sei porque nem porquanto, esta madrugada acordei pensando na saga do bruxinho, e no penúltimo filme, aonde morre seu mentor, Dumbledore. Logo a seguir, lembrei-me de um artigo que li sobre a autora dos livros, relatando que tivera uma crise nervosa quando teve que matar Dumbledore na trama. Era uma morte necessária, segundo ela, mas ela sofreu ao matá-lo!
Confesso que não li ainda a saga infanto juvenil. Deixo esta missão para minha filha, e me contento em voar nas vassouras quando assisto os filmes... mas voltando ao assunto de matar um personagem, fiquei acordada de madrugada, imaginando como um escritor pode sofrer ao matar uma sua criação. Qual ligação existiria para se considerar um ser imaginário digno de um surto?
Comecei a imaginar, por exemplo, Agatha Christie, uma digníssima senhorinha inglesa, tomando o chá das cinco enquanto planejava como iria matar os personagens de seu novo livro, se com arsênico, com uma faca, um tiro... com que calma ela assassinava seus personagens!
Relembrando de outras leituras, de outros tantos personagens maravilhosos assassinados pela pena de seus criadores, me questionei se tiveram crises de consciência, também... eu já matei alguns poucos personagens em minhas crônicas, e, sinceramente, foi um sentimento libertador. Confesso que, ao escrever, a emoção de morrer junto com eles me arrebatava, mas nenhum deles me levou ao terapeuta...
A quem assassinamos, quando matamos nossos personagens? Como nos sentimos? Quem era Macabéa para Clarice, Tiradentes ou Heliodora para Cecília? Qual foi a emoção no momento de relatar a morte de seus personagens? Será que lágrimas rolaram? Será que sentiram alívio? Ou era um simples relato?
Qual parte de nós se vai quando assassinamos um personagem? Qual persona conseguimos desvendar ou eliminar? Partindo do princípio que o único fato certo na vida é a morte, nada mais natural que os nossos personagens também morram. Talvez por isto mesmo, para que tenham uma ponta de humanidade, e na tentativa de que não se sobreponham a nós mesmos, o matemos. E neste movimento, eternizamos o personagem, nossa criação, a nos assombrar...
domingo, 22 de janeiro de 2012
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