quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

SAL, SOL E SONHO

Sabia a sal, a sol e mar, mas do outro lado do oceano. Era de um branco quase leite, os cabelos aloirados, alto, tão alto que encurvava, com vergonha de se ostentar. Trazia em si mesmo a potência para o amor e para o riso, para envelhecer sem se perder, para viver num se achar.


Mas era silente. Guardava para si próprio seu modo quente, deixando que o frio do branco de sua pele o definisse. E acreditavam, pois de sua boca não saia sorriso. Pensava tanto que o corpo não acompanhava tamanho movimento, e deixava de reagir a cada nova idéia. Sorria era por dentro.

Tinha mãos de acalanto, que pouca gente provou. Se guardava não sei pra quem, pois que era homem, e homem não tem costume de se guardar para ninguém, nem para si próprio... Veja bem, se guardava não no sentido que estás pensando, mas de um jeito mais profundo, de não se dar quando está se dando, entende... Mistérios de muito pensar.

Também lia pensamento alheio, principalmente da mulher que amava. Lhe sabia os gostos, lhe terminava as frases, para a vida lhe fornecia as bases, vendo-a no sólido caminhar... tinha paciência muita, pois a via se entregar a um e outro, e ele esperava seu dia chegar.

Tinha visão do mundo, talvez por sua grande estatura, que lhe dava vantagem. Talvez pelo claro de seus olhos, que guardava a profundeza do mar que seus avós haviam atravessado. Sabia dos versos, sabia do silêncio, e sabia encantar.

Encantou a moça que amava alisando um bichano pequeno. A moça perdeu a fala e começou a lhe amar. Mas era amor com tanto problema: eram dois silentes a se querer, e nenhum a confessar. De encontros e desencontros, o amor veio a morrer, fenecer, murchar...

Mas ele sabia entrar no sonho também. Era de tanto gostar, que a noite voava para dentro dos sonhos dela, para vê-la suspirar. Cantava-lhe cantilenas, brincava com os cabelos dela, lhe dizia de tão grande amar. E ela acordava afogada com o azul dos olhos de sonho.

Tempo passou, pedra rolou, o mundo pra todos envelheceu. Mas um dia foi ele que acordou, afogado de lembranças. Da moça, do gato, do amor. Sonhou de novo com a moça, ela o enlaçava pela cintura, encostava a cabeça em seu peito, saudosa, feliz. Ele acordou com um sorriso, pois que isso nunca acontecera, mas era assim que sempre quisera, não era? É que ela achara o caminho para ele. Ele era bom de se recordar. E começou a pensar:

“Ele sabia a sal, a sol e mar...”

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