Eu conheço este teu brilho baço no olhar.
Eu conheço este te cansaço jogado em teus ombros;
Teu modo de repreender teu filho, repetidas vezes,
Chamando-lhe pelo nome, depois gritando, quase chorando.
Eu conheço.
Eu conheço este olhar perdido na distância,
A solidão estampada no teu rosto,
Teu canto de boca caído, infinita tristeza.
Eu conheço teus pensamentos mais recôndidos,
Tua vontade de fazer as malas e fugir.
De tudo e de todos, de ti mesma,
Um adeus para nunca mais...
Conheço esta moleza no baixo ventre,
Nas pernas, este aperto no coração,
Enquanto olhas para teu filho,
E te falta coragem para serdes tu mesma.
Eu conheço...
Conheço também caminhos mais doces,
Caminhos de sonho,
Que podem te tirar desta premeditada
Morte de alma que cometes diariamente;
Conheço quimeras, príncipes e dragões,
Conheço altos torreões para onde fujo a qualquer tempo.
Conheço a voz de meu amigo vento,
E o abraço acalentador do sol.
Já fui como tu, querida, desconhecida amiga,
Mulher que perde a si
própria,
Ao tentar ser somente
através dos outros.
Não soube ser bela quando o era,
Porque não me enxergava há muito...
Hoje, tornei-me bela porque me amo.
Eu conheço...
Caminhos de se achar e de se perder,
Vontades de viver e de morrer,
Portas para abrir e para entrar,
Caminhos que não devo mais cruzar.
Mas como poderei eu ,
desconhecida,
Ensinar tudo isto a você?
A vida não se ensina,
A vida é só de viver...
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