quarta-feira, 25 de abril de 2012

EU CONHEÇO


Eu conheço este teu brilho baço no olhar.

Eu conheço este te cansaço jogado em teus ombros;

Teu modo de repreender teu filho, repetidas vezes,

Chamando-lhe pelo nome, depois gritando, quase chorando.

Eu conheço.

Eu conheço este olhar perdido na distância,

A solidão estampada no teu rosto,

Teu canto de boca caído, infinita tristeza.

Eu conheço teus pensamentos mais recôndidos,

Tua vontade de fazer as malas e fugir.

De tudo e de todos, de ti mesma,

Um adeus para nunca mais...

Conheço esta moleza no baixo ventre,

Nas pernas, este aperto no coração,

Enquanto olhas para teu filho,

E te falta coragem para serdes tu mesma.

Eu conheço...

Conheço também caminhos mais doces,

Caminhos de sonho,

Que podem te tirar desta premeditada

Morte de alma que cometes diariamente;

Conheço quimeras, príncipes e dragões,

Conheço altos torreões para onde fujo a qualquer tempo.

Conheço a voz de meu amigo vento,

E o abraço acalentador do sol.

Já fui como tu, querida, desconhecida amiga,

Mulher  que perde a si própria,

Ao tentar  ser somente através dos outros.

Não soube ser bela quando o era,

Porque não me enxergava há muito...

Hoje, tornei-me bela porque me amo.

Eu conheço...

Caminhos de se achar e de se perder,

Vontades de viver e de morrer,

Portas para abrir e para entrar,

Caminhos que não devo mais cruzar.

Mas como poderei  eu , desconhecida,

Ensinar tudo isto a você?

A vida não se ensina,

A vida é só de viver...

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