A
pequena brincava sozinha. Punha as bonecas para se conversarem. Ás vezes era
uma briga, pois só havia um boneco para ser o namorado, mas ela sempre resolvia
a questão, apartava a briga entre elas. Naquele momento, porém, ela se ocupava
em vestir todas as três bonecas para o baile.
Havia
a Suzi antiga de sua mãe, já sem dois dedos na mão, de um plástico branco, com
seus cabelos também brancos e compridos;uma Suzi que ganhara de natal, e outra boneca, imitando uma Barbie bem tosca. Ela se pôs a vesti-las, mas só
havia dois vestidos de festa. Ela então pegou a sua boneca preferida, a velha Suzi, e ficou olhando para ela, pensando como
resolveria o problema. De repente, recordou-se de um pedaço de tecido vermelho,
que viera de uma barra de saia da mãe, que fora cortada. Abriu sua caixa de
bonecas, e lá estava o retalho. Devia ter uns sete centímetros de largura, mas era
bem comprido. Que maravilha!
Quando
na casa de sua avó, costureira das madames finas, ela pedia agulha e linha, e
fazia vestidos a sua moda. Agora, porém, não queria sair de seu quarto para
pedir nada para a mãe. Ninguém a perturbaria, em seu mundo de fantasia, e assim,
resolveu improvisar.
Ela
então pegou aquele retalho e começou a enrolar na boneca, dizendo para ela como
ela ficaria bonita, a mais linda do baile. Diante de seus olhos, um belo
vestido vermelho, muito justo em cima, ia se abrindo como uma flor invertida,
de rodada saia, e uma cauda que se arrastava pelo salão. As outras duas bonecas
vestidas com suas roupinhas, ficaram esquecidas num canto, enquanto a outra
entrava pelo salão do baile, encontrava o príncipe, e era admirada por todos.
A
manhã se passou em solenidades, valsas e rapapés. Quando a brincadeira acabou,
a boneca envolta no retalho vermelho foi posta no lugar mais importante da
estante. Para quem olhasse de fora, um disparate: a boneca andrajosa assim
exposta, enquanto as vestidas corretamente jaziam num canto do quarto. A menina
já então enxergava a vida com olhos de ver além e não cansava de olhar a beleza
daquela princesa com amor criada, enquanto sonhara acordada.
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