segunda-feira, 21 de maio de 2012

A BONECA


         A pequena brincava sozinha. Punha as bonecas para se conversarem. Ás vezes era uma briga, pois só havia um boneco para ser o namorado, mas ela sempre resolvia a questão, apartava a briga entre elas. Naquele momento, porém, ela se ocupava em vestir todas as três bonecas para o baile.

         Havia a Suzi antiga de sua mãe, já sem dois dedos na mão, de um plástico branco, com seus cabelos também brancos e compridos;uma Suzi que ganhara de natal, e outra boneca, imitando uma Barbie bem tosca. Ela se pôs a vesti-las, mas só havia dois vestidos de festa. Ela então pegou a sua boneca preferida, a velha Suzi, e ficou olhando para ela, pensando como resolveria o problema. De repente, recordou-se de um pedaço de tecido vermelho, que viera de uma barra de saia da mãe, que fora cortada. Abriu sua caixa de bonecas, e lá estava o retalho. Devia ter uns sete centímetros de largura, mas era bem comprido. Que maravilha!

         Quando na casa de sua avó, costureira das madames finas, ela pedia agulha e linha, e fazia vestidos a sua moda. Agora, porém, não queria sair de seu quarto para pedir nada para a mãe. Ninguém a perturbaria, em seu mundo de fantasia, e assim, resolveu improvisar.

         Ela então pegou aquele retalho e começou a enrolar na boneca, dizendo para ela como ela ficaria bonita, a mais linda do baile. Diante de seus olhos, um belo vestido vermelho, muito justo em cima, ia se abrindo como uma flor invertida, de rodada saia, e uma cauda que se arrastava pelo salão. As outras duas bonecas vestidas com suas roupinhas, ficaram esquecidas num canto, enquanto a outra entrava pelo salão do baile, encontrava o príncipe, e era admirada por todos.

         A manhã se passou em solenidades, valsas e rapapés. Quando a brincadeira acabou, a boneca envolta no retalho vermelho foi posta no lugar mais importante da estante. Para quem olhasse de fora, um disparate: a boneca andrajosa assim exposta, enquanto as vestidas corretamente jaziam num canto do quarto. A menina já então enxergava a vida com olhos de ver além e não cansava de olhar a beleza daquela princesa com amor criada, enquanto sonhara acordada.   

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