Na proximidade do lançamento de meu primeiro livro, fui buscar no fundo do baú alguns poemas que foram selecionados por Deonísio da Silva para aquele que seria o meu primeiro livro, há mais de vinte anos. Este é um deles.
QUADRO RÁPIDO
O céu. Parece um furacão azul
Sobre mim. Apesar de estar longe
E atrás da janela.
Cinza chumbo, azul céu,
Nuvens cinzas, laranja esmaecido...
Esmaecidíssimo.
Parece uma pintura
( em branco, preto e com luzes, a
cidade,
Acima as nuvens, muito chumbo,
Passou-se o pincel e borrou o
azul claro, manchou e cobriu
O alaranjado. Acima do rasgo
azul,
O céu escuro, chumbo de novo)
O prédio em construção
Deixa ver pelos seus desvãos
A noite que se anuncia.
(a pouco tempo ‘inda era dia!)
Mais perto de mim a janela larga
Semi-aberta, emoldurada
Por uma parede branca.
Não chão, tacos velhos, dois
vasos
Com verdes folhagens
( e pássaros de pau pintados)
O tapete verde limitando meu
espaço;
O braço da poltrona,
E, aproximando-se drasticamente,
A almofada florida,
As linhas do caderno,
O casaco azul e amarelo,
As minhas mãos,
E o mais surpreendente:
Sentada no sofá
Está uma moça!
Sou eu.
(maio/ 1990)
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