sexta-feira, 18 de maio de 2012


Na proximidade do lançamento de meu primeiro livro, fui buscar no fundo do baú alguns poemas que foram selecionados por Deonísio da Silva para aquele que seria o meu primeiro livro, há mais de vinte anos. Este é um deles.


QUADRO RÁPIDO



O céu. Parece um furacão azul

Sobre mim. Apesar de estar longe

E atrás da janela.

Cinza chumbo, azul céu,

Nuvens cinzas, laranja esmaecido...

Esmaecidíssimo.

Parece uma pintura

( em branco, preto e com luzes, a cidade,

Acima as nuvens, muito chumbo,

Passou-se o pincel e borrou o azul claro, manchou e cobriu

O alaranjado. Acima do rasgo azul,

O céu escuro, chumbo de novo)

O prédio em construção

Deixa ver pelos seus desvãos

A noite que se anuncia.

(a pouco tempo ‘inda era dia!)

Mais perto de mim a janela larga

Semi-aberta, emoldurada

Por uma parede branca.

Não chão, tacos velhos, dois vasos

Com verdes folhagens

( e pássaros de pau pintados)

O tapete verde limitando meu espaço;

O braço da poltrona,

E, aproximando-se drasticamente,

A almofada florida,

As linhas do caderno,

O casaco azul e amarelo,

As minhas mãos,

E o mais surpreendente:

Sentada no sofá

Está uma moça!

Sou eu.

(maio/ 1990)

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