Há alguns
anos, quando era mais moça, conheci uma mulher muito atraente, na casa de seus
cinquenta e poucos anos, e ela disse-me algo que me marcou e me fez pensar por
muito tempo. Confessou-me que quando olhava no espelho nunca enxergava a imagem
atual; guardava em sua retina uma imagem sua com quarenta anos, num dia em que
se arrumara para sair, e estava particularmente linda, radiante. Disse-me que
se dera conta, no exato momento em que olhara a imagem sua refletida no
espelho, que aquela era a imagem que mostrava sua alma em estado de plenitude.
Hoje,
em que eu estou na casa dos quarenta, consigo entendê-la. Por estes dias eu também me peguei olhando
para o espelho, e me achando plena, feliz, em estado de graça. Entendi o que
esta mulher havia enxergado. Quando temos quinze anos somos belezas sem
consciência; seduzimos pela força telúrica que possuímos, a terra que fala mais
alto dentro do corpo jovem. Quando temos vinte anos, seduzimos pelo porte de
mulher que nasce, mas muitas vezes não nos damos conta da sexualidade que emana
de nossos gestos, falas, no nosso caminhar. Temos uma potência infinita, mas
não sabemos que o temos, e a maioria que se dá vagamente conta do fato ou a desperdiça,
ou foge dela, com medo . Quando chegamos a casa dos trinta, algumas luzes já se
acenderam para nós, mas a consciência plena vem com os quarenta anos.
Não me
perguntem por que quarenta, não saberei
responder. Só sei que é um marco de mudanças, internas e externas, e é quando
olhamos aquelas antigas fotos e repreendemos aquela moça que tinha vitalidade,
tempo e liberdade, e não aproveitou o que a natureza lhe proporcionava. Recriminamos
porque neste momento, no auge da nossa beleza como mulheres, sendo conscientes
de cada parte de nós mesmas, não temos mais a vitalidade de outrora, juntamente
com todo o resto. Mas temos consciência.
Aos quarenta, já sabemos o que queremos, e temos foco suficiente para corremos
atrás de nossos sonhos que ficaram pendurados em algum cabide, empoeirados, por
muitos anos. É a idade em que resgatamos o que de melhor temos, ou então
envelheceremos amargas e secas por dentro.
Também aos
quarenta queremos mudanças, e sofremos por não conseguirmos nos desvencilhar de
crenças que nos tolhem a alma. Sofremos, choramos, mas buscamos a mudança. Ficamos
irascíveis, queremos fazer as malas e irmos para a Conchinchina, como falava
minha avó, mas temos a realidade que nos cutuca, puxa a barra do vestido e diz:
estou aqui, hello!!!
O que
posso dizer: um dia me olhei no espelho, vi minha alma me acenar, radiante. Naquele
dia, muitas pessoas viram a mesma radiância. Não foi eterna a sensação, mas a busco agora,
constantemente. Quando não a tenho, explodindo meu peito, fico muito
decepcionada comigo mesma, pois acho que
deveria viver em estado de plenitude diariamente... por isso procuro,
ardentemente, na imagem do espelho, esta mulher
plena, que sei que habita em mim, para me dar coragem e força,
diariamente, para não perder meu rumo nunca mais. Porque, afinal, não é o
manequim correto que nos faz belas aos quarenta, mas esta sensação de plenitude
que exala pelos poros, e nos faz poderosas. Como aquela mulher que conheci, que mantinha a
sua imagem mais feliz na retina, e a irradiava, mesmo após anos passados, com a
mesma força. Alguém quer um espelho?
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