Achados e
perdidos, este pequeno conto eu fiz com vinte anos. Estava em meio a poesias,
num caderno da época.
I-
Ela ia andando a sua frente. No rosto,
uma expressão séria. Nos passos, decisão e controle. As mãos ainda tremiam um
pouco, mas o homem não percebia, não as via.
Num acordo mútuo, os dois pararam. Ela olhou
para trás, e seus olhos se fixaram nele. Mudos os dois, continuaram a andar. Entraram
na casa pequena, organizada e séria, como ela. Dele, nenhum vestígio, como
sempre.
Ela arrumava uma maleta, metodicamente.
Ele só a observava, nulo. Tentou falar algo, mas fantasmas não emitem som. Ela fechou
a mala, deu um suspiro e o olhou. Disse: “vou embora”. Ele queria dizer: “tudo
é teu, faça o que quiser.” Mas não disse. Não necessitava, pois ela sabia. Por isto
ia embora.
II-
O dia amanheceu. Os vizinhos
estranharam a porta da casa aberta. A vizinha chamou a dona. Sem resposta,
entrou. A casa pequena, organizada e nula, nada dizia. A vizinha entrou no
quarto. Na cama, a surpresa. Branco, duro, um homem sentado. Olhava para o
nada. Um grito. Nunca vira aquele homem. A mulher, sumira. E tirada sua
presença, surgiu o homem. Morto.
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