quarta-feira, 21 de março de 2012

ENCONTROS



         Eram dois “naive”. Viviam em vários mundos ao mesmo tempo. Trabalhavam, mas também sonhavam, e compartilhavam sonhos. Amigos de longa data, apreciavam a companhia um do outro, mas não confessavam nem a si próprios.

         Na mocidade, passavam horas no barzinho da esquina, tomando um pingado que nunca acabava, contando mútuos sonhos, falando da vida. Os anos passaram, mudaram de cidade, e trocavam cartas. Correspondências cheias de histórias e subterfúgios, para terem um ao outro através das palavras.

         E havia os encontros, há cada tanto, aonde a afinidade lhes trazia de volta o brilho nos olhos, o riso sem moderação, como na juventude.

         Na era digital, aprenderam a trocar mensagens eletrônicas, fotos, mensagens. A distância era maior, mas o contato era mais rápido. E a necessidade de se falarem era mais constante.

         Finalmente, já mais velhos,  um teve a coragem de perguntar ao outro se aquele o amava. E este, sem raciocinar, falando o que nunca tinha sequer percebido, confirmou: sim. Ficaram um diante do outro, como se redescobrissem mutuamente suas essências, e também a teia de subterfúgios que haviam tecido somente para estarem juntos.

         Não se abraçaram, não se beijaram, somente  se tocaram levemente, com tocante pena de si mesmos, pela perda de suas vidas. O que perguntara não esperava ouvir a resposta; o que respondera não esperava ouvir a pergunta, e assim ,num  não sei como, se entregara.

         Cada um retornou para sua casa. Aquele que perguntara não conseguia se recompor de tamanha verdade, omitida por tanto tempo.  O que respondera esperava ansioso o próximo contato.

         Secaram os dois: um de espanto, e o outro, de espera...

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