Afogada estava, em vida.
O ar, que sôfrega puxava,
Não o queria.
Não lhe pertencia.
Andou na sombra,
Achando que a ela se rendia.
Nela não havia grito:
Ela não tinha norte.
Seu amante, seu braço forte,
Não lhe era real suporte.
Antes era bandido
A lhe ditar a sorte.
Também pássaro ferido,
Preferiu a morte.
Se a vida lhe foi tirada
Ou se ele mesmo o fez
Já não importa:
Não ouviu os sinais
Que lhe chegavam a porta.
Lotte sentia e pré-sentia
E por isso já não vivia.
No desfecho de sua história, porém,
Lotte sofreu
Ao ver seu homem morto, ao lado,
E abraçada ao medo,
Angústia lhe fechando o peito,
Deixou-se ir, sem mais lutar,
Recusando o ar
Unindo-se ao funéreo leito.
Ficou vagando,
Espírito inquieto,
Pois negavam-lhe a voz.
Até que um escritor atento
Ouviu-lhe os gritos de socorro.
Ele a resgatou,
Pois tinha olhos para ver
E ouvidos para ouvir.
Da alma feminina
Um perscrutador,
Soube pegá-la no colo,
Niná-la e fortalecê-la,
Dando-lhe carne e ossos,
Brilho e voz.
Resgatada e reparida
Conseguiu na morte
O que não o fez na vida:
Ser por todos conhecida.
Ana, querida, muito obrigado pela homenagem a LOTTE & ZWEIG, meu romancinho, e especialmente à Lotte. São versos muito bonitos, vindo de seu talento, que sabe expressar fundos sentimentos, sensações e intuições com palavras bem arrumadas.
ResponderExcluirUma beijoca do
Deonísio
Ana, sua poesia nos coloca na pele de Lotte. Muito bom!
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