Tudo
o que dói no peito é angústia. Aprendi que a raiz da palavra é aquele aperto
que sentimos, o som de dor que emitimos. Ou não emitimos, e ficamos com a
dor... Tenho descoberto, já há algum tempo, que coisas ruins acontecem, tanto
quanto coisas boas, cotidianamente. Passar por momentos ruins não é questão de
escolha; sofrer por eles, sim.
Então escolhi
não sofrer; escolhi olhar a tudo e me envolver com o que dá prazer de viver.
Simples? Não, não é simples; necessita treino e consciência constante. Vivemos numa
sociedade em que somos cobrados diariamente. Devemos ser bonitos, magros, ter
carro do ano, conta com mais de quatro zeros, viagens, carreira de sucesso...
também devemos ser bons pais, bons filhos, bons irmãos, bons amigos...
E assim
vamos ganhando várias cargas, que nos são impostas, não ofertadas, para carregarmos.
Há alguns dias participei de uma agradável discussão aonde alguém escreveu “somos
o inferno um do outro”, a respeito de um comentário em que eu concordei com um
psicanalista, que as pessoas precisam da aprovação ou reação do outro, e
desenvolvem atitudes particulares para elicitarem determinadas respostas das
outras pessoas. Outro participante perguntou se não poderíamos ser o “paraíso
um do outro”. Eu lhe perguntei se ele queria mesmo ser o paraíso do outro, pois
isto significava viver para agradar o outro, dar-lhe a resposta solicitada.
Acrescentei que para sairmos deste padrão deveríamos aprender a parar de nos
mirar no outro, parar de necessitar a aprovação do outro, e buscar a aprovação dentro
de nós mesmos.
Quando aprendemos
isto, também paramos de sentir a necessidade de corresponder a expectativa do
outro em relação a nós. Temos que aprender a primeiro correspondermos à
expectativa que nós fazemos em relação a nós mesmos! Quando chegamos neste ponto,
fazemos o que amamos, e a angústia nos visita menos. É quando vemos que não
precisamos suprir a carência afetiva do outro, para que ele se sinta melhor, se
isto nos deixar em frangalhos. É quando percebemos que a frase “conselho se
fosse bom, era vendido”, tem um sentido imenso, pois passamos às vezes muito
tempo tentando ajudar amigos ou parentes a saírem do “buraco”, damos conselhos,
sugerimos caminhos, e eles não saem do lugar. É que eles só querem a atenção, e
não mudarão o padrão de conduta, pois reclamar e sofrer lhes traz companhia
(pelo menos até o dia que todos se cansam...).
É parecido
com um jogo de tabuleiro. Depois de três ou quatro rodadas, não há mais graça,
porque sabemos quais caminhos as pedras irão tomar... Ou como assistir a mesma
peça de teatro várias vezes, até decorar a fala dos personagens. Quantas vezes
você já se deparou com um amigo ou parente que não muda o padrão de
comportamento, ou a resposta, a ponto de você antever o ar de chantagem
emocional, ou a resposta pessimista, ou, ao contrário, o ar de deboche com que
a pessoa vai responder?
Se a
atitude não nos incomodar, tudo bem. Mas, e se isto nos incomoda sempre? Vamos sumir
do mundo? Parar de nos relacionar? Ou será que podemos aprender a respeitar a
pessoa com aquele “jeitinho” de ser, mas não participarmos mais do jogo dela? Dar
uma resposta diferente do que ela esperava, não reclamar junto da vida, também
não passar a mão na cabeça dela, e tudo isto, SEM SENTIR-SE MAL...
Podemos amar
as pessoas com seus defeitos e qualidades. Podemos amá-las sabendo que vão
querer nos chantagear emocionalmente, ou nos colocar “pra baixo”. Podemos amá-las,
mas sem nos esquecermos de nos amarmos primeiro, e não entrarmos no jogo. Há mulheres
que amam homens mulherengos, homens que adoram “Roxanes”, e convivem com a
volúpia do outro como se fosse uma brincadeira. Outros podem morrer por isto
(ou matar, por ciúme). Há pessoas que sofrem com o silêncio da pessoa amada, e
há aquelas que entendem que a natureza da pessoa é assim, e param de buscar
atenção do silente, aprendem a ser felizes com sua própria natureza, ou se
cercam de amigos.
Há pais
que ligam para dizer aos filhos que vão estar mortos da próxima vez que estes o
procurarem. Gente, não há nada pior do que a mentalidade “meu filho, minha vida”.
Os pais já existiam antes do filho nascer. Aliás, existiam antes de se casar,
antes de namorar, antes da primeira bicoca! Ninguém morre ou sofre por causa do
outro, isto é ilusão! A pessoa morre por falta de amor a si próprio, excesso de
pobreza interior. Nos ensinaram tudo errado, neste aspecto. Aí criam “síndromes
de ninho vazio”, e depressão pós separação, luto irrevogável...
A única
condição sine qua non para se dizer que está vivo é respirar. Daí em diante, se
você é cocho ou é míope, se você é belo ou horrendo, ou se você vai amar viver
ou viver sofrendo, é opção sua. E, obviamente, aceitar a angústia como sua
carga pessoal, ou livrar-se dela, também. Conselho, se fosse bom, seria
vendido, não dado, mas eu vou dar um: ame, se ame, e dê vexame!
Vc arrazou!Perfeito, é isso mesmo!A escolha é sua!
ResponderExcluirA felicidade é o 'termômetro'!